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Poesias-->Poema Fragmentado em Cabo Branco de Paulo Nunes -- 16/10/2002 - 18:43 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POEMA FRAGMENTADO EM CABO BRANCO

Autor: Paulo Nunes Batista



I II

De Cabo Branco fica a referência. seios, pescoço, barriga

Mas a Praia é do mar de Tambaú. nessas eternas carícias

... que os machos talvez lhes negam...

Com as mulheres escancaram as pernas E como essas fêmeas gostam

numa inocência de espantar os Anjos! de expor os bumbuns roliços

... e fingir que estão dormindo

Depois que descobri que não sou santo (sempre com um olho acordado)

conservo um certo ricto de ironia. enquanto os homens passeiam

seus olhares cobiçosos.

... É tudo mar de desejos

Ainda busco os fantasmas diluídos explícitos ou inconfessáveis.

na poeira perdida do passado.

...

A brisa morna nos bafeja o corpo O homem pega a machadinha

com bocas de mil dedos indeléveis. ou foice- e lá vai cortando

... a verde csaca do coco

Oh tu que vendes geladinho, e só cuja água se vai chupando

tens o braço direito, o esquerdo ausente através de canudinhos.

A dor daquele braço que te falta Quem não tem dinheiro, fica

dói de mais nestes braços que me sobram. sugando o suor dos dedinhos.

. . .

As ondas levaram sombras Léguas e léguas de areias

as ondas levaram sonhos ao longo de muitas praias.

de manhãs alvissareiras Os coqueiros carregados-

de falas e borborinhos, cocos verdes e amarelos.

pregões, cantigas de feiras Mas todos eles têm donos.

molhadinhas de saudades, O pobre pensa que é livre-

velhas canções jangadeiras mas é escravo do Dinheiro,

que as ondas trazem do alto- o Senhor Absoluto

mar, nessas vozes praieiras... de Tudo, neste país.

. . . E quando vem para a praia

Cada gota desse Mar a Pobreza nordestina

levo guardada nos poros a tragicomédia ensaia

impregnada na pele “brincando de ser feliz”...

como do Sol levo os raios.

O Sal que o Vento carrega E cada um passeia

gruda no todo da gente por sobre a praiareia

misturado aos grãos de Areia os seus baixos e altos.

como tempero da Praia. umas e outras com sobras

de ondas, volumes, dobras.

Em cima o céu azul-claro, E outros de tudo tão faltos.

embaixo o mar quase verde.

Nosso olhar sonha e se perde No banho de mar se brinca

como um cão que perde o faro. de andar, correr e pular,

fingir que se tem coragem

Vendedores ambulantes e se desafia o mar

oferecem suas coisas e tudo termina em nada

de comer e de beber pra quem não sabe nadar.

e de lambusar os corpos.

Como as mulheres adoram Mulheres seguram os seios

ficar horas se alisando nas conchas do sutiã.

as coxas, pernas e braços, Biquinis disfarçam coisas

à luz forte da manhã.

Mulheres ficam de bruços

para- sem quaisquer discursos-

tentarem o olhar do Dom Juan.



III IV

Hoje é domingo. E pu (lu) lam Yemanjá, Dona das Águas

na praia seres humanos Salgadas, do Mais Profundo

ao Sol, os paraibanos do Mar, governa esse Mundo

adoram pacas saltar de Algas, peixes e Corais...

com seus mulatos franzinos e a gente que o mar adentra

e suas mulheres belas se benze, pede licença

abrindo portas, janelas à deusa, cuja Presença

do corpo, na beira-mar... representa o Sempre Mais...



Velhos e velhas obesas, Olhando as mansões praianas

rapagões desempenados, dos burgueses ditos nobres,

morenas de corpos dados eu lembro as casas dos pobres

à areia, aos ventos, ao ar, onde anda faltando o pão...

enquanto o Sol lambe tudo Lembro a miséria de muitos

da unha dos pés ao cabelo- vendo a fartura de uns poucos:

seios, olhos, tornozelos, há homens de Fome loucos

bocas viradas pro mar... assaltando no sertão...



O mar me beija, me fala E aqui mesmo em João Pessoa

nas bocas de ondas sonoras se vou, na periferia,

que rendilham espumas-flores a fome de cada dia

na tela desse areial. cumprindo bem seu mister:

E eu fito os longes, tentando Comendo a força e a vergonha

descobrir o No’r’destino dessa Pobreza sofrida,

que se perdeu com o Menino jogando à margem da vida

no céu, no Sol e no sal... homem, menino, mulher...



Branca, morena, mulata Divaguei, saí da praia

sarará, loura, galega pros subúrbios pessoenses,

que todos chamam de “nega” me envolvi noutros suspenses

na hora de chumbregar... que não consigo evitar...

A multidão de mulheres Será que algum dia, ainda,

maduras novas meninas posso ver toda a Pobreza

enchem as praias nordestinas gozando a rica Beleza

de Sol, de céu e de mar... do céu, da terra e do mar?...



Saio da praia sonhando

minha querida Utopia.

João Pessoa, Cabo Branco, Poeta – resta a Poesia!

Sonhador resta Sonhar!



26-10-1993. Sonhador – resta sonhar!...







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