beija-flor, se eu invento
este canto,
me arrebenta a vontade
de ser,
ser a flor, ser o mel,
ser o encanto,
que arrebata o teu vôo
e prazer
beija-flor, seja já
cheira o cheiro, cheirar
beija o beijo, sei lá
deixa eu ver
beija-flor, cá acolá
lusco-fusco, virá
chama e chispa, será
deixa eu ver
zarpa num zás e voa
asas, zoar à-toa
paralisar o momento
no ato, no beijo,
minha flor, meu bem
zarpa no ar e zine
asas, azar e amém
realizar o meu tempo
no lapso, no bico,
nesse vai-e-vem
[letras de música nem sempre são poemas, mas,
às vezes, como neste caso, calham de ser.;
inserido em "Do amor-perfeito", quase-biografia
de Filhinha Benedita Nogueira (Dona Filhinha),
escrita por Marcelina M. Morschel.; cf., neste
mesmo site, "exercício de solidão",
de minha autoria.; a palavra "canto" surge
no poema por influência direta da autora citada]
|