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Artigos-->Dalva, uma estrela além das nuvens! -- 03/01/2002 - 12:15 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tenho uma sobrinha deficiente física. Essa tragédia poderia ter sido evitada, visto que à época necessária, por ignorância, o pai não permitiu que a filha fosse operada no joelho, pois mesmo tendo sido vítima de uma paralisia, tinha a garantia médica de que poderia vir a andar, ainda que com alguma dificuldade. Henrique não permitiu que “cortassem” a filha. Hoje ela tem pouco mais de vinte e cinco anos, tendo passado a maioria deles no pátio de sua casa, a ver a paisagem humana e urbana mudar com o correr do tempo.



No primeiro dia de 2002 minha família foi visitar a dela. Sua mãe não estava bem de saúde por isso fomos lhe emprestar nosso carinho. A primeira pessoa que vimos foi Dalva, nome de estrela, aquela que anuncia o romper da manhã, sentada no chão, meio curvada, feito uma corcunda, com as duas mãos a tocar as frias lajotas do seu ambiente predileto. Imaginei como teria sido a passagem do ano para ela. Certamente não foi diferente da de outros anos.



Ao ver as pessoas indo de um lado para o outro, subindo e descendo dos ônibus, em meio à agitação do dia-a-dia, pensei em quanto aquela menina, aliás, mulher, havia perdido da vida, quantos sonhos havia abandonado, quantas amizades deixou de fazer, quantas alegrias deixou de experimentar. Restringiu seu universo àquela casa, basicamente àquele pátio, e o círculo de pessoas com quem poderia dialogar, sorrir, discordar, consolar, ralhar, à sua família, às mesmas faces das quais desde a tenra idade conhece perfeitamente os traços, de cujas personalidades reconhece nitidamente todas as características.



Seria ela, por tudo isso, infeliz? Obviamente, não. Ela é a mais sorridente da casa. É a que mais fala também. Não creio que sua alegria e disposição de falar se devam a uma fácil relação que nossa mente finita invariavelmente faz entre uma condição de restrição e a conseqüente busca de compensação em função da mesma. Não dizemos que todos os gordinhos são alegres? Não dizemos que todos os cegos são sorridentes? Isso tudo não passa de uma generalização que falha por não abranger a totalidade das condições humanas e as formas que encontramos para nos defender quando elas nos são desfavoráveis. Por aquela lógica, a alegria de minha sobrinha deficiente é uma válvula de escape que funciona muito bem toda vez que ela se sinta tomada de tristeza por não poder, digamos, andar na praia ou ir aos shoppings “azarar” uns gatinhos.



Poderia romantizar a situação de minha sobrinha ao dizer que ela vê sua vida se realizar plenamente na de tantas pessoas que todos os dias observa passar. Poderia dizer que quando era criança e via uma outra correndo feliz atrás de um brinquedo, quando um pouco maior via uma mocinha vaidosamente vasculhar a bolsa em busca do batom um pouco antes de encontrar o namorado, quando, depois de adulta, vê a mãe, sorridente, chamar pelo filho que teima em fazer peraltices, Dalva projeta como seria sua vida, absorve as sensações que deduz do mosaico das cenas humanas captadas por seu olhar atento e sensível. Poderia dizer que ela é feliz com a felicidade alheia, e que, por outro lado, sofre com a dor dos outros.



Isso é muito romântico. Mas talvez não seja coerente. Então abandono essa tese e digo que Dalva é feliz porque a vida de uma mulher, ou de um homem, não pode ser avaliada por suas limitações físicas; aliás, a vida de ninguém pode ser analisada sob esse aspecto. Dalva é feliz porque tem o carinho da família, e todos que a conhecem reconhecem nela um exemplo de alguém que não se perturba por não poder andar. Fisicamente ela não anda, contudo o seu espírito voa. Sua mente não está presa, seu coração não conhece limites. Não sei muito sobre Dalva, mas posso dizer que ela tem uma relação íntima com Deus, e n’Ele tem encontrado sua única razão de felicidade. Ela poderia muito bem dizer a todos que a olham com ar de pena: “não tenham pena de mim; cuidem de suas próprias vidas. Eu não posso andar nem correr. Não posso fazer muitas coisas que vocês podem. Contudo minha liberdade vai além das limitações dessa paralisia. Minha alma é livre, ela voa além do que vocês podem imaginar. Deus está comigo, e é Ele Quem me faz voar além das nuvens. Eu sou feliz...E vocês?”



Estamos em busca disso, estrela Dalva!

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