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Artigos-->Para ser grande -- 02/03/2009 - 12:29 (Mauro Bartolomeu) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
16/8/2007



“Para ser grande, sê inteiro”, escreveu Ricardo Reis, heterônimo mais neoclássico de Fernando Pessoa, “nada teu exagera ou exclui”. O que nos faz lembrar, por um lado, o horror clássico pela hýbris, pelo excesso, pela desmedida, e, por outro, aquele dito de Terêncio segundo o qual “nada de humano me é estranho”. Esse tema é frequente na mitologia grega. Basta lembrar, por exemplo, que a mais famosa guerra de todos os tempos, a de Troia, tem início quando um jovem chamado Páris é confrontado com uma escolha da qual não pode escapar. Éris, a deusa da Discórdia, despeitada por não ter sido convidada para o casamento de Peleu e Tétis, lançou entre os convivas uma maçã dourada, gravada com a inscrição “à mais bela”. Logo a confusão estava armada, pois Hera, esposa de Zeus, Palas Atena e Afrodite passaram a disputar a maçã. Zeus, que além de onipotente era também muito inteligente, não quis se envolver na disputa das deusas, e sugeriu que elas fossem até o monte Ida e outorgassem a Páris, o pastor local, a prerrogativa do julgamento. Elas aderiram à proposta, mas cada qual tentou subornar o jovem juiz: Hera ofereceu-lhe o poderio militar, Atenas acenou-lhe com a sabedoria e Afrodite, deusa do amor, prometeu-lhe a mulher mais bela do mundo. Entre a força, a sabedoria e a beleza, e diante da impossibilidade de possuir as três graças, Páris decidiu-se pela última. A decisão não foi sábia, foi impulsiva. A mulher mais bela do mundo, como todos sabem, era Helena, esposa de Menelau, e seu ‘rapto’ ocasionou a guerra de Troia. Sem o poder que Hera teria dado a Páris, e sem a sabedoria que ele teria recebido de Atena, os troianos, claro, sucumbiram.

Mas a lenda que melhor expressa a necessidade da completude é, provavelmente, a de Hipólito, filho de Teseu e Hipólita, rainha das amazonas. O jovem herdou da mãe o gosto pela caça, motivo pelo qual cultuava a Ártemis, a deusa caçadora. Mas sua dedicação ao esporte era tal, que desprezava os prazeres do amor, recusando-se a cultuar Afrodite. Afrodite não é só a deusa do amor, mas também uma deusa vingadora, irmã das Erínias, e, enciumada, fez com que Fedra, segunda esposa de Teseu, se apaixonasse por Hipólito. Este a rejeita, o que não é senão uma confirmação seu desprezo pelo amor. Fedra, menosprezada, acusou Hipólito de tentar violentá-la, despertando a ira em Teseu, que rogou a Poseidon que castigasse Hipólito. Numa ocasião em que este conduzia seu carro junto ao mar, um monstro marinho emerge assustando os cavalos, que se precipitam pelas rochas, causando sua morte. Desesperada, Fedra suicida-se. Toda a tragédia é motivada, pois, pela incapacidade do protagonista em conciliar os prazeres da caça aos prazeres venéreos. O que Eurípedes propõe, portanto, é a necessidade da completude do ser humano, de não descuidar de nenhum aspecto que faça parte da nossa natureza.

O maior símbolo dessa plenitude é o Centauro. Cabeça, tronco e braços humanos representam a razão, a paixão e o trabalho, enquanto que o baixo ventre, local por excelência dos impulsos sexuais, transforma-se num cavalo, símbolo da potência, da virilidade e da irracionalidade. Em cima, Apolo, deus da razão, o superego; embaixo, Dionísio, deus do delírio, o id freudiano, ambos em perfeito equilíbrio. O oposto desse símbolo é o Minotauro: corpo humano e cabeça de animal, as potências humanas invertidas.

Tudo o que nos castra, nos priva de parte de nós. Quem nos doutrina para a servidão, quem nos coloca o cabresto e o tapa-olhos, nos transforma em cavalos. Quem nos decepa nosso vigor, nossa alegria, nos torna eunucos da vida, minotauros do labirinto da existência cotidiana. Triste é vermos a cada dia mais e mais cavalos e minotauros, fabricados pela televisão, pelas igrejas e até pelas escolas, e cada vez menos centauros, topo da lista dos animais em via de extinção.



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