Exageros a parte...
Fatima Dannemann
Quando o poeta escreve
e conta que sofre,
nem sempre é tudo tão verdadeiramente cruel
quanto parece ao leitor.
Não, o poeta não mente.
Mas, em nome da liberdade poética,
ele exagera.
Sofre de forma tão intensa,
que nada no mundo parece humano,
somente ele.
Ama tão apaixonadamente
que parece que amar é privilégio
de quem escreve versos.
O poeta é assim...
Não um fingidor, como disse Pessoa,
mas exagerado como quis Cazuza.
Sentir, amar, sofrer, viver uma alegria intensa.
são matérias primas
que o poeta, fabricante de outros sonhos,
transforma em versos.
Muitas vezes rimados, ritimados,
divididos milimetricamente em estrofes e sílabas.
Outras vezes, apenas um amontoado
de palavras.
Que podem fazer sentido.
Ou não.
Que podem fazer sentir.
Ou não.
Mas que refletem um momento.
E se segundos depois,
o instante é outro e o momento do poema
é passado,
o poeta não liga.
Pensa em seus próximos versos.
Ou relê o que já foi escrito.
Ainda que por outros poetas,
em outros instantes,
em outros sentidos.
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