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Erotico-->4. CONSIDERAÇÕES EM TORNO DE UM CONVITE -- 28/10/2002 - 07:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Levantou-se com a ajuda de um enfermeiro, sentindo-se um pouco trêmulo. Colocou a camisa, calçou os chinelos de dedo, ajustou a calça larga na cintura e foi conduzido para fora numa cadeira de rodas. Queria ir andando, mas as normas do hospital impediram-no.

Ao passar pelo balcão da recepção, deram-lhe um papel para assinar e despediram-no, que o serviço era gratuito, tendo sido seus documentos anotados. Recebeu uma pasta com a recomendação para que seguisse as instruções ali contidas. Havia uma receita a ser aviada na farmácia.

Do lado de fora, meio pesadão, procurou um táxi, deixando de anunciar a alta aos pais. Desejava voltar para casa e avaliar a extensão dos males causados ao violão.

No trajeto, abriu a pasta e logo topou com um cartão:

“Centro Espírita Caminho da Luz. Seja pela dor, seja por amor, venha conhecer a Doutrina Espírita.”

Assinalavam-se o endereço e diversos horários, segundo os serviços ou trabalhos da entidade.

O primeiro impulso foi de atirar o cartão janela afora. Mas guardou-o no bolso da camisa, talvez para não cometer mais um ato brusco e agressivo.

Não lhe saíam da cabeça o desespero da mãe e a impassibilidade do filho. Media os procedimentos alheios pelo seu, julgando o do filho censurável, por falta, e o da mãe, por excesso. Antes de descer, já havia ponderado que o tempo da crise é que determinava as reações, porque a menina trespassara de um momento para outro, o velho, depois de anos de sofrimento, e sua esposa e a criança, após um período de certa duração, quando a expectativa do desfecho acabou não mais sendo surpreendente.

Em casa, encontrou a guitarra no chão, esfacelada, sem conserto. Lembrou-se de que também “sem concerto”, mas não achou graça no trocadilho.

Recolheu os pedaços e foi depositá-los num saco de lixo, conservando as cordas, os bordões, as cravelhas e as pestanas de marfim, com o fito de reaproveitá-los em encomenda com que pretendia repor a peça.

Enquanto realizava a operação, tinha fresca na memória as mortalhas que agasalharam os cadáveres. Tal como os coitados do hospital, também a sonoridade do instrumento se perdera, guardando apenas a lembrança da derradeira execução sem platéia.

“Sem platéia? Será?”

Retirou do bolso o convite impresso e se viu rodeado de espíritos, imaginando que, se tivessem recursos para contatá-lo, teriam para ouvi-lo, no desempenho mais puro de sua vida.

“Se, ao menos, tivesse gravado, poderia agora ouvir a refinada manifestação da dor, pelo amor das criaturas perdidas.”

Sentiu que fora inspirado pelos dizeres ali consignados e esboçou um sorriso, logo apagado pelo ríctus facial do enfermo que perecera ao seu lado.

Não se sentia à vontade perante as constantes inspirações que o desviavam do roteiro da infelicidade que sentia naquele ambiente ainda vivo pela presença da esposa. Não tivera coragem de doar nenhuma peça sequer e a mãe não se atrevera a invadir-lhe a privacidade. Sabiamente, a senhora aguardava um momento de lucidez, para penetrar de novo na vida íntima do filho.

Com o cartão na mão, sentiu que alguém poderia explicar-lhe a sensação de estar rodeado por entidades invisíveis. A recordação das coisas de uso pessoal de Eulália ligou-se à instituição de caridade, dispondo na mente de Prisco uma boa desculpa para comparecer, naquela mesma noite, à reunião ali assinalada.

“Será que vai dar tempo? Mesmo que chegue atrasado, sempre hei de encontrar alguém com quem conversar. Se deixar para amanhã, sou bem capaz de desistir. Vou seguir este impulso. Pelo menos o sol já se pôs e posso ir dirigindo, ainda porque não é longe.”

Tomou um lanche rápido, seguindo as instruções do panfleto, depois de ter tomado uma ducha fria e de ter vestido um traje bem leve, conforme a canícula recomendava.

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