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Erotico-->51. NO ETÉREO -- 22/10/2002 - 08:08 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Alfredo e Dráusio esmeravam-se ao máximo para fomentarem os estudos de Mário. Achavam muitíssimo útil que comparecesse às sessões no Centro Espírita, mas preferiam vê-lo instruindo-se, no campo teórico. José lhes explicara:

— Mário tem sido fiel seguidor de Hipócrates, acreditando no juramento acadêmico de dedicação integral aos homens, na busca de lhes dar conforto. Como sabem, praticou alguns atos de escolha, de sorte que pessoas foram deixadas à própria sorte, em virtude de não alcançar atender a todos. Mas esse tempo começa a se distanciar e, no momento, no âmbito do pronto-socorro, há quem dê cobertura a todos os que lá aportam, necessitados de tratamento de emergência. É evolução digna de nota, posto muitos dos recursos sejam desviados para fins inconfessáveis. De qualquer modo, o espírito de fraternidade e de solidariedade do médico está revigorado, encontrando-se em seu apogeu de desvelo, tanto que as perdas o trazem magoado, crente de que poderia efetuar melhor o seu trabalho. A lição da caridade, resultante da aplicação do primeiro ensinamento, ou seja, a aplicação prática do amor em sua extensão humanitária, se bem que não inteiramente consciente, está sendo atendida. Para que se realize de maneira completa, é essencial que se cumpra o segundo ensinamento, qual seja, o da instrução, o do conhecimento das leis, no sentido da aquisição da sabedoria de que são capazes os seres encarnados. Por isso, busquem facilitar ao máximo que Marlene se predisponha com boa vontade para as leituras do esposo, inspirando-a e ao confessor dela, para que reconheçam que Mário, no desempenho profissional, é digno benfeitor da comunidade. É preciso que não perca a admiração pelo marido, à vista da abnegação que a função médica exige.

A partir do momento em que se abriu a perspectiva da adoção de Leandrinho, Mário tornou-se ainda mais meigo para com a esposa e carinhoso em relação aos filhos. Diminuiu drasticamente o número de plantões nos finais de semana, contentando-se com o salário de responsável pelo setor de atendimento de emergência. Com isso, pôde acompanhar a família com muito mais freqüência à missa, o que punha a esposa muitíssimo satisfeita. Por outro lado, sempre havia a possibilidade de liberar o horário da sesta para os estudos das obras espíritas, tempo em que as crianças ficavam presas aos programas da televisão.

Esse esquema foi sendo armado a partir de sugestões psíquicas dos benfeitores espirituais, de modo que favoreciam o desenvolvimento mediúnico do casal.



Quando do casamento de Leandro, foram os protetores chamados por José, para acompanharem de longe, através da visão de do Carmo, não perfeita mas passível de ser interpretada, as peripécias do relacionamento. Não perdiam tempo, repassando todos os fatos. Quando se reuniam com o mestre, recebiam as informações selecionadas, de acordo com a evolução psicológica dos esposos. Assim, foram capazes de notar que a voluntariedade da moça poderia contrapor-se à intenção do avô de mantê-la ignorante das atividades criminosas da família. Perceberam, pelas reações de Leandro, que o comprometimento com a organização lhe era muito mais importante que as conquistas no âmbito social. Temeram pela segurança do casal, quando da inopinada viagem de ambos ao Rio de Janeiro, conquanto o aparelho não fora capaz de registrar as reações dos maiorais. Estimaram que a mãe da moça poderia fazer aumentar o perigo que rondava o casal, se lhe contasse tudo o que sabia sobre as atividades escusas do sogro, do marido e dos cunhados, como ainda do genro.

Alfredo impacientava-se:

— Que poderemos fazer para evitar-se a tragédia que se delineia?

José tranqüilizava-o:

— O volume de crimes contra os irmãos é tão grande que não poderemos dividir a responsabilidade com esses seres dignos de piedade. Quantos séculos decorrerão até que mereçam as mesmas oportunidades de Baltazar e Mário? Se ficar por conta da organização, que se mantém ativa inclusive nas Trevas, prosseguirão dominados pela ânsia do poder. Às vezes, sem que haja interferência de nenhum benemérito desta instituição ou de outras similares, há terríveis carnificinas promovidas no seio das quadrilhas, de sorte que a dissidência vai favorecer o enfraquecimento dos novos grupos. É maquiavélico, contudo, pensar que isso se transforme em benefício, em prol da evolução desses espíritos, apesar de ficar mais fácil a aproximação para os redentores, dado que o magnetismo perde bastante de sua intensidade de repulsão, já que existe contenda interna na qual as forças se consomem. Quantas vezes, no campo da civilização terrena, temos visto os povos se digladiarem em guerras fratricidas que proporcionam aos inimigos estrangeiros ocasião de invasão e conquista. Não será esse, por certo, o nosso caso. Podemos esperar que os chefes recentemente assassinados na reunião do morro se afastem dos que prosseguem unidos? Sim. Mas isso há de demorar, visto que foram seqüestrados pelos comparsas do etéreo, tão logo se desligaram das vestes corpóreas. De resto, devemos saber que as impressões deles devem estar fortemente ligadas ao plano material, sofrendo a morte como se fora a perda da esperança, como se lê à entrada do Inferno de Dante.

Dráusio deixava-se empolgar pelas explicações, entretanto, não perdia de vista a necessidade de agir no campo do socorrismo mediúnico ou intuitivo. Apanhou a deixa e se atreveu a perguntar:

— Temos visto que os irmãos da Umbanda, através dos babalaôs, têm incentivado os homens a que resistam à violência, ou melhor, ao sentimento de revide contra os malfeitores. Todavia, pela reação que observamos em Baltazar, quando conversava com Mário, sentimos, Alfredo e eu, que não conseguem os guias espirituais estimular a esperança em dias melhores, cheios de paz, sem as tribulações morais provocadas pelo medo, à vista do terrorismo que se implantou no seio da sociedade. Os efeitos das bombas e até dos gases tóxicos que devastam os corações dos homens, em várias partes do mundo, assemelham-se aos causados pela pressão diuturna dos malfeitores do Rio de Janeiro, que matam, roubam, exploram, viciam e seviciam. Se a violência atrai a violência, não havemos de esperar que a população ordeira termine por armar-se, quando cada qual estiver a lamentar a perda de um filho, de um irmão, da esposa, da noiva, ou dos bens adquiridos através de muito trabalho sacrificial?

— Para evitar tal extremo é que estamos agindo junto aos corações dos melhores, dos que não se comprometeram demasiado com os crimes. Esse seu pensamento agita a mente dos humanos preocupados com a solução global para os disparates sociais. Nós temos de fazer como Jesus nos recomendou, isto é, temos de ir pescando as almas, uma a uma, esforçando-nos para que a nossa rede não se rompa, na tentativa de apanhar todo o cardume. Sei que o irmãozinho está referindo-se à palestra dirigida a Baltazar pelo Babalaô. Pois tal alocução teve endereço certo, segundo as necessidades instantes de quem teve a esposa grávida barbaramente assassinada. Valerá a palestra para todos, quanto à recomendação de que se façam preces votivas de solidariedade e de compreensão de que a vontade do Pai deve e haverá sempre de prevalecer. Os acontecimentos futuros irão constituindo-se em argumentos poderosos para a reinstalação, naquela alma, do sentimento da esperança. Se não lhe faltarem a fé e a caridade, conseguirá cumprir a sua missão cármica, conforme expôs em prece a Jesus, com tanta lealdade. Não lhe parece que cada qual deve assumir completa responsabilidade por seus atos? Não nos ensinaram os antigos que cada um irá receber do Pai segundo as suas obras? Se existem tantos malfeitores juntos, não terão sido reunidos para serem os verdugos de si mesmos? Ou seria mais lógico esperar que os maus fossem castigados pelos bons? Até que ponto devemos julgar que as pessoas que sofrem sejam inocentes? Jesus era inocente e sofreu. Mas não por si mesmo.; para a redenção da humanidade. Os que, verdadeiramente, se situam em círculos de bondade e amor, hão de viver para o exemplo da virtude. Pagarão com a vida, com sangue e com lágrimas, na esfera carnal. No etéreo, porém, serão soerguidos e receberão o galardão do Senhor, ao se sentirem filhos diletos, pela felicidade de se deixarem inundar de luz. Querido Dráusio, retome as lições a partir destas explicações, analise com a maior profundidade possível as suas reações perante o desassossego dos seus pupilos encarnados e veja, afinal, se as vibrações deles não estão infiltrando-se em seu íntimo, provocando-lhe a perda da confiança na misericórdia do Senhor.

Era visível a comoção do auditório. Cada um dos alunos expunha os pensamentos ao crivo das recomendações, para a percepção de que seus sentimentos estavam necessitados de aperfeiçoamento moral. E as lágrimas começavam a escorrer em cada face.

José aguardou um largo período de tempo e orou, solicitando ao Pai que oferecesse à congregação força de vontade e coragem para o enfrentamento da dura guerra contra os crimes e os vícios. E encerrou a reunião, agradecendo as luzes que obtivera dos mentores para discorrer com clareza e eficiência:

— Que Jesus, em sua glória, coloque no coração de cada um de nós a chama da verdade, para que sejamos puros e íntegros na orientação dos irmãos carentes. Assim seja.

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