Este poema é dedicado à Maria Helena- conhecida como Marininha -
enfermeira da ala infantil do pronto-atendimento, já aposentada, mas que ainda cumpre plantões
por questões de sobrevivência
Baixinha, gordinha, de longo rabo-de-cavalo que lhe ultrapassa a cintura ,cuja vida foi dedicada às crianças
e cujo sorriso , não sei como, abre-se como um sol,ainda que cansado, muito cansado....
2430
mdagraça ferraz
gracias a la vida
Amanhecerá,eu sei, um dia,
neste hospital, onde sobrevivo
Maria Helena, prepara-te, aviso!
É necessário desenhar um sol
nas janelas opacas e pequenas
para que o memorizemos!
É necessário fazer bolas de algodão
para o curativo, como se fossem balões
Observa, Maria Helena, as gotas de sangue
caem como rodas
Tudo aqui quer girar, deslizar, dar a volta,
dançar, ganhar uma asa, uma forma nova!
Maria Helena, é necessário retirar os pontos!
Soltar a presilha de teus cabelos longos!
Abrir todos os carréteis, e todas as portas!
Tornar as cicatrizes estéreis
e lisinhas como a linha de um trem
que parte pelo mundo afora!
Ensaia teu riso,Maria Helena!
Amanhecerá, um dia,acredita!
É necessário lutar contra as paredes brancas
restritivas
E lutar e lutar contra as quarentenas,
contra as clausuras, contra as algemas
Lutar como as lagartas insurgentes
fazem-no contra o casulo-
limite que a condena à feiúra
Maria Helena, escuta!
Contrariemos às leis da sorte!
É necessário criar uma fuga
neste hospital
que não seja através da morte
|