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Erotico-->49. BALTAZAR E MÁRIO SE ENTENDEM -- 20/10/2002 - 07:49 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desejava muito Mário conversar com o amigo. Não queria, porém, tomar a iniciativa, uma vez que não tinha a certeza de que não estaria inibindo o rapaz, diante do fato de ter ficado com todas as propriedades de Isabel, após convivência tão efêmera. Quando Baltazar ligou, Mário ficou em agradável expectativa.

Fazia algum tempo que o médico freqüentava as sessões das quintas-feiras. Deixara-se impressionar pelo trabalho de assistência espiritual, pondo, entretanto, em dúvida certas manifestações exageradas de desespero pela descoberta da morte. Conversava um pouco com os médiuns antes das sessões, para ir tomando o pulso de suas personalidades. Queria descobrir desvios que desembocassem na necessidade do espetáculo mediúnico. Por outro lado, dono de boa memória, ia observando cada um em plena incorporação, para surpreender o mesmo tipo de dizeres. Mas não se permitia tirar conclusões precipitadas, pondo como limite para isso o número de vinte reuniões, pelo menos.

Marlene fora informada a respeito das visitas do marido ao Centro Espírita, tendo imposto uma condição:

— Não quero que roubes um só minuto do tempo destinado à assistência às crianças.

Mário imaginou, então, sistema bastante simples: solicitou que fosse escalado para plantões nas quintas-feiras.; combinou com os colegas que lhes daria cobertura durante a madrugada, se lhe permitissem sair por cerca de duas horas. “Em caso de emergência, usem o ‘bip’.” Mas isso não fora necessário ainda.

“Terá Baltazar novidades no campo religioso? Será que Isabel estabeleceu contato através dos pais-de-santo?”

Pelas leituras que vinha realizando, parecia-lhe muito difícil que, antes de seis meses, despertasse para a realidade. Às sessões compareciam espíritos sob as impressões dolorosas do passamento. Desastrados, principalmente, vinham desconhecendo que haviam morrido. Desses, alguns se desgostavam de estar naquele ambiente, pretendendo escapulir da poderosa influenciação dos guias, para exercitarem o que chamavam de “direito de vingança”. Nenhuma vez, contudo, comparecera alguma vítima de homicídio.

Quando Baltazar chegou ao hospital, encontrou Mário à espera. Haviam combinado que almoçariam juntos, entretanto, vários acidentes impediam o médico de se afastar do pronto-socorro. Mas pôde ficar no setor de triagem, apenas encaminhando os enfermos, de sorte que, no momento em que Baltazar chegara, estava sem ocupação.

— Querido amigo, senti a tua voz trêmula no telefone. Que tens de tão importante para me dizer?

Baltazar não queria abrir-se perante as pessoas, no salão de espera.

— Se o Doutor está muito ocupado, vou à tua casa hoje à noite.

Mário percebeu que algo sério realmente havia para ser dito. Chamou a enfermeira e deu-lhe o encargo de avisá-lo da entrada de acidentados. Estaria lá em cima.

— Vem comigo, que aqui está uma zorra.

Subiram ao primeiro andar e se instalaram numa das inúmeras saletas do ambulatório.

— Que se passa contigo?

— Recebi, ontem, a visita dos mascarados que deram dinheiro a Isabel.

— Alguma novidade?

— Repetiram as mesmas ordens. Não querem que eu mexa com os papéis de adoção do filho dela.

— Pois Leandro quer que eu adote a criança. Consegui levar o menino com a velha tutora para que Marlene avaliasse seus sentimentos em relação ao pequeno e já transmiti ao traficante a aprovação dela. Quanto a mim, gosto muito dele e julgo que será uma caridade que não posso recusar-lhe.

— Isso significa que irás, dentro em breve, receber também a visita dos encapuzados ou terás de enfrentar uma situação de aperto...

— Não será para breve. Leandro determinou que me avisará a hora de providenciar a papelada. Por falar nisso, tens ainda a certidão de nascimento?

— Tenho. Mas estou com medo de que os que me procuraram irão se sentir lesados, se forem atrapalhados...

— Pois eu acho que Leandro recebeu a tal visita e irá esperar até ser autorizado pelos desconhecidos.

— Se estão sabendo quem é o pai verdadeiro, por que foram atrás de mim? Não era o caso do traficante resolver o problema?

— Parece que seria mais lógico.

— Espera aí. Eles não fizeram questão do dinheiro. Se Leandro me encontrar, talvez me venha cobrar...

— Foi através de Sandra que ficaram sabendo onde moras?

— Foi.

— Leandro não tem o mesmo recurso. Nesta altura, deve estar convicto de que eu é que sei o teu paradeiro. Logo, quem irá receber a visita, serei eu.

— Estás correndo perigo.

— Nem eu nem você. A idéia dele está fixada na criação e na educação do filho. Quanto ao dinheiro, nada representa para quem tem tanto e ainda vai se casar com a filha de grande empresário.

— Como sabes dessas coisas?

— Fui convidado por ele para almoçar no...

Mário quase dava a pista a Baltazar. Não queria deixar transparecer que conhecia o endereço social do bandido, para não comprometer o amigo. Esclareceu:

— Não fiques curioso sobre quem seja a tal personagem. Mas fica sabendo que Isabel perdeu a vida por poder vir a localizá-lo.

Baltazar estava passado. Mário sentiu que o amigo não estava entendendo a razão dele estar por dentro do crime.

— Antes que suspeites de Leandro, posso te garantir que não foi ele. Mas foram os asseclas dos chefões, cumprindo ordem diretamente deles.

— Tinha certeza disso. Até levantei a lebre para o Delegado em São Paulo.

— O que te deu cobertura?

— Ele mesmo.

Nesse momento, a enfermeira veio avisar que havia gente ferida a bala dando entrada no pronto-socorro.

— Espera aqui, que vou dar encaminhamento e já volto. Ainda temos o que conversar.



Sozinho, Baltazar punha a imaginação para funcionar, achando que estava ficando muito fácil de alcançar os responsáveis pelo assassinato da esposa. “Se Mário me ajudar, poderemos transtornar a vida de muita gente.” Aí lhe vinha à memória a recomendação do Guia: “Rezar muito para obter luz contra o sentimento de vingança...”

Baltazar aprendera a rezar, mas julgava que seus sentimentos não eram adequados para a prece. Sentia o coração como que sujo, enlameado pela dor da perda da querida amiga e pela desilusão do filho que nem chegara a nascer. Assim mesmo, cumprindo a solicitação do amigo da espiritualidade, concentrou-se e orou:

“Eu sei, Jesus, que não estou preparado para te pedir amparo. Tenho medo de ficar frente a frente com os assassinos, pois sinto que poderei cair de pau sobre eles. No entanto, reconheço que perdoaste os teus algozes e que deveria fazer o mesmo, como recomendaste em tua prece. Então, envia os teus mensageiros de paz, para me ajudarem na compreensão das leis de Deus. Quanto eu gostaria de cumprir a minha missão, antes de me encontrar com Isabel! Será que terei paciência para viver uma vida dedicada ao bem? Perdoa, já que és todo misericordioso, estes meus dizeres tão voltados para mim mesmo. Olha pelos que não param de cometer crimes. Cuida que eles percebam que estão caindo diretamente nas Trevas. Dá ao Doutor Mário a capacidade de salvar a vida e de acabar com a dor dos que aqui chegam feridos e amargurados...”

Foi interrompido pelo médico.

— Baltazar, preciso te contar que estou freqüentando um centro espírita kardecista. Voltaste ao “Barnabé”. Estou certo? Que me contas?

— Deu tudo certo. Fui muito bem acolhido, como era de se esperar, tanto pelos companheiros, como pelos orixás.

— Alguma notícia de Isabel?

— Disseram que está sob os cuidados de seres de muita luz.

— Graças a Deus!

Mário utilizou a expressão e imediatamente estranhou que fora ele quem dissera aquilo. Soou-lhe como algo muito diferente do que dizia para enturmar-se com o corpo paramédico. Baltazar notou a força com que o amigo tinha falado. Mas calou-se.

Durante mais uns vinte minutos conversaram sobre os eventos que presenciaram nas casas de assistência espiritual e despediram-se, combinando um almoço no apartamento de Mário:

— Quero colocar-te a par de todos os acontecimentos que me ameaçaram. Aqui não vai dar para expor tudo.

— E eu quero confessar que pensei em pedir a tua ajuda para liqüidar a quadrilha.

— Vejo que precisamos mesmo entrar em acordo. Agora, vou te deixar, porque preciso saber como foi a extração dos projéteis da barriga do assaltante. A polícia não teve dó dele e encheu-lhe o corpo de chumbo.

Quando saía, Baltazar cruzou com os familiares da vítima. Não havia nenhum policial presente. Não ouviu as surdas vozes que prometiam vingança. Sentiu, porém, as vibrações hostis que emanavam das pessoas e captou as ondas magnéticas que chegavam do além. Soube caracterizar cada fenômeno psíquico, chegando à conclusão de que deveria desenvolver-se para progredir no terreiro. Por força do hábito, pediu aos protetores que o acompanhassem para fora daquele ambiente ruim, solicitando deles que confortassem a família do baleado. Era o que podia fazer.

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