Tendo assumido recentemente novas atividades sou obrigado a confessar que fico um pouco preocupado. É certo que sendo uma equipe pequena e preparada para as funções que desempenha a chance de algo dar errado é muito menor que em organizações de maior porte. Ocorre contudo que sempre existe a possibilidade de algo não sair exatamente como gostaríamos. O que fazer se isto vier um dia a ocorrer? Será que há um plano de contingência? Quem será o culpado oficial?
Em equipes pequenas fica muito difícil instaurar processos administrativos. Comissões de sindicància também não teriam muito sentido pois toda a empresa integraria a comissão e o corporativismo seria inevitável.
Ter pouca gente e atingir seus objetivos é um mérito, uma qualidade que não pode ser desprezada. Mas não se pode ser pequeno demais. Em qualquer organização sempre haverá lugar para um contínuo. Não, contínuo é um "boy" que já não é jovem. O que quero dizer é que todo escritório sempre há lugar para um destes rapazinhos que fazem de tudo. Se engana quem acha que sua função é ir comprar lanches, operar a copiadora e outras pequenas grandes tarefas. Estas tarefas são meros disfarces, uma ocupação enquanto não chega o momento de seu efetivo uso. Eles funcionam como as aeromoças que entre uma dose de whisky e outra ficam esperando o avião cair para mostrar como estão capacitadas a nos ajudar.
No caso dos "boys", sua grande vocação é a solução de conflitos em escritórios viabilizando a pacificação geral e a retomada do trabalho após as catástrofes. Quando existe um "boy" no escritório o sucesso de qualquer inquérito administrativo ou comissão de sindicància é garantido pois, já se sabendo quem será incriminado, poupa-se tempo, evita-se a delação e o constrangimento e há uma evidente redução de custos. Mesmo aquelas perguntas do chefe, de outra forma não teriam resposta podem ser resolvidas com grande facilidade.
- Quem foi que fez esta ...
A resposta vem imediata e unànime
- Foi o Robersmario
- Quem?
- O boy
Não, não se sinta mal nem ache que estão fazendo uma injustiça. Esta é a maior missão destes santos meninos. Com seus empregos instáveis salvam a pele de pais de família, doutores com e sem anel, senhoras com muitos anos de casa entre outros intocáveis, evitando um problema social de grandes proporções. Estas pessoas teriam muito mais dificuldade em arrumar novas colocações do que o menino. Com sorte, o menino nem é dispensado. Acalmados os ànimos, pode até haver clemência e tudo volta ao normal.
Claro que poder-se-ia demitir a moça do café, mas ninguém haverá de querer ficar sem o café. Que escritório seria este? Na realidade esta opção existe mas deve ser reservada apenas para as catástrofes muito grandes. Nestes casos diz-se que houve uma combinação entre os dois.