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Artigos-->Bum! Bum! Bum! -- 11/12/2001 - 21:56 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não só o banho de sangue na prisão de Qala-I Dschanghi levanta questões sobre a condução da guerra no Afeganistão. Os EUA insistem em ignoram os direitos humanitários dos povos.



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De Ulrich Ladurner, na minha tradução, o leitor vai encontrar neste site alguns dos textos que ele escreveu, na qualidade de enviado especial, para o DIE ZEIT online de Hamburgo: "Islamabad-Blues (ou: quando a noite vem)", "DEUS NEON (ou: como depois de uma revolução)", "O amor em tempos de guerra", "Há esquinas das quais a gente não gosta de se lembrar", "A chave (ou: para se entender o Paquistão)", "Imagens mais pesadas do que o chumbo", "Uma viagem de táxi muito especial", "A guerrilha dos dólares no Paquistão", "Areia levada pelo vento num continente longínquo".



O DIE ZEIT online anuncia para as próximas semanas o lançamento, em papel impresso, dessa longa série. São textos sobre o cotidiano das pessoas nas proximidades da guerra. De volta a Hamburgo, é ele quem assina, juntamente com Jochen Bittner, o denunciador artigo abaixo. Lamentavelmente intraduzível o título do original: "Töten, töten, töten" [Matar, matar, matar]. Com todos os riscos, fiquemos com os estampidos. Prometo não incluir o texto em "eróticos", onde ele certamente atrairia visitas. Um outro bom título poderia ser: "O efeito das bombas de estilhaços sobre as margaridas do campo".





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"Bum! Bum! Bum!"



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por Jochen Bittner & Ulrich Ladurner: "Töten, töten, töten" (DIE ZEIT online, 50/2001)

trad.: zé pedro antunes



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Foi horrível, isso está fora de dúvida. As imagens da rebelião dos Taleban na prisão Qala-i Dschanghi conseguem abalar mesmo o telespectador mais anestesiado: um lutador da Aliança do Norte se vale de um morto como escudo; tanques disparam a curta distância sobre os rebeldes; um pátio entupido de cadáveres. A prisão como matadouro.

Foi um dos raros olhares para o dia-a-dia do Afeganistão desde o início da guerra em 07 de outubro. Uma guerra que levanta questões sobre a preservação dos direitos dos povos. São mesmo razoáveis os métodos e meios empregados? Civilistas vêm sendo poupados? O ocidente faz justiça às suas elevadas aspirações morais?



O estopim da rebelião de Qala-i Dschanghi não ficou esclarecido. Há duas versões: A rebelião, como se diz, irrompeu porque os Taleban preferiam morrer a serem aprisionados. A segunda explicação: os Taleban teriam se rebelado por acharem que sofreriam execução sumária.



Se rebelião espontânea ou massacre encenado – o certo é apenas que, ao final, entre 400 e 600 prisioneiros estavam mortos. Tratava-se, no caso, de assim chamados "árabes" – fundamentalistas de terras de muitos senhores, que se ligaram a Osama Bin Laden. Os "árabes" foram um problema para todo mundo: Mesmo entre os afegãos eles são odiados; são caçados pelos americanos; em seus países de origem (Paquistão, Rússia, Arábia-Saudita, Uzbequistão), teme-se o potencial de destruição que possuem. Ninguém lamentaria se morressem.



Alguns dias antes dos acontecimentos de Qala-i Dschanghi, dizia o Ministro da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, dizia: "Os combatentes estrangeiros devem ou ser aprisionados ou mortos!" O Pentágono esforçou-se por esclarecer que Rumsfeld, com isso, não havia decretado morte aos "árabes". Há dúvidas quanto à mensagem ter chegado também às mãos de Raschid Dostum, o senhor da guerra, que, com a ajuda da Força Aérea americana, conduziu o sufocamento da rebelião.



Mas não apenas Qala-i Dschanghi levanta questões sobre a proporcionalidade da guerra.De acordo com as notícias do jornal britânico The Independent, bombas americanas mataram nas últimas três

semanas cerca de até 500 civis em diversas cidades afegãs. Só na localidade de Khanabad, próxima ao Kundus norte-afegão, morreram cem pessoas numa chuva de bombas de estilhaços. Tais ogivas consistem de centenas de pequenas "bombinhas", que, ao explodir, espalham uma carga de estilhaços. Algumas permanecem no solo – até que um toque descuidado ou curioso as faça explodir. Muito tempo depois do lançamento, ainda podem matar e mutilar. Mutilado ficou Habibullah, de 15 anos de idade, que topou com uma delas. O repórter do The Independent, Justin Huggler, encontrou o menino sentado, barriga estraçalhada, num campo repleto de buracos de bombas.



Bombas de estilhaços em regiões habitacionais se chocam contra os princípios essenciais dos direitos dos povos. São destinos como o do jovem Habibullah que uma conferência diplomática internacional queria impedir em definitivo, ao convocar, em 12 de agosto de 1949, por iniciativa da Cruz Vermelha, as Convenções de Genebra. Desde então, 188 países fecharam acordo com os tratados dos direitos de guerra e seus protocolos adicionais de 1974 a 1977, em torno de uma intenção aparentemente paradoxal: Tanto quanto possível, tornar humana a desumanidade da guerra.



Dois axiomas humanitários atravessam a maioria dos acordos relativos aos direitos dos povos no sentido da "ius in bello".



Primeiro: Deve-se poupar todos os participantes da guerra, todos as partes em conflito, bem como civis, de sofrimentos exagerados.



Segundo: Deve-se fazer uma distinção estrita entre combatentes e população civil.



Ainda que os EUA, com sua cruzada antiterror, não estejam conduzindo contra o Al-Qaida de Bin Laden uma guerra clássica, o fato não altera em nada a validade das convenções sobre direitos de guerra.



Muito pelo contrário: Justamente porque os americanos não combatem nenhuma nação, mas indivíduos, mais rigorosas devem ser ainda, para os muitos não participantes do conflito, as regras de proteção. Mas é exatamente isso o que não está acontecendo no Afeganistão.



Desde o começo dos ataques aéreos, as forças de combate americanas lançaram pelo menos três mega-bombas do tipo BLU 82, também conhecidas como "Daisy Cutter" ("estraçalhador de margaridinhas"). Com 7 toneladas de peso e 3,65 metros de altura, as bombas de gás combustível detonaram pouco antes de chocarem-se contra o solo. A violenta explosão de uma mistura de gasolina deixa, num raio de 550 metros, uma devastação total. Não é preciso dizer que não-participantes também perdem a vida quando, de bombardeiros B-52 voando a 5.000 metros de altitude, se lançam bombas desse tipo. O artigo 35, parágrafo 2 do Primeiro Protocolo Adicional das Convenções de Genebra, frisa:



"Armas, disparos e material, bem como métodos de condução de guerra (...) que possam causar ferimentos supérfluos ou sofrimentos desnecessários."



Os Estados Unidos até hoje não ratificaram este Primeiro Protocolo Adicional de 1977. Tampouco foi reconhecido pelos EUA o Acordo Internacional de 10 de outubro, que proíbe o uso de armas convencionais de ação indistinta (capazes de atingir na mesma proporção combatentes e civis).



Essas resoluções conjuntas reforçam uma vez mais, depois das Convenções de Genebra, o axioma da proporcionalidade dos meios empregados. De acordo com elas, é permitido o que do ponto de vista militar, por um lado, se faz necessário, sem, por outro lado, ferir a aspiração à humanidade. Entre outras coisas, deduz-se que as partes em guerra, onde e sempre que isso se fizer possível, devem empregar suas armas mais modernas e mais objetivas, com a finalidade de poupar vidas.



Já há um mês, o New York Times noticiava, contudo, que o Pentágono mandaria lançar alguns dos mais antigos tipos de bomba do exército americano sobre o Afeganistão. Ao lado das bombas "Daisy Cutter", bombardeiros B-52 despejam sobre localidades onde se concentram os Talebam uma chuva de bombas de 250 quilos cada, sem controle possível.



Um tal bombardeamento de superfície seria irrelevante do ponto de vista dos direitos dos povos, se, com a mesma eficiência, tais lugares pudessem ser destruídos por armas precisamente controláveis.



Por conta de listas de alvos superadas, tais armas de precisão atingiram vários depósitos da Cruz Vermelha em Cabul nos dias 16 e 26 de outubro. Também esta foi uma infração contra o direito dos povos: de acordo com o artigo 54 do Segundo Protocolo Adicional das Convenções de Genebra, é proibido atacar ou destruir "objetos vitais para a população civil".



Para assumir o controle da situação na prisão de Qala-i Dschanghi, prestavam auxílio não apenas jatos de combate norte-americanos da Aliança do Norte, mas também membros do comando Delta Force. De acordo com as palavras de um ex-membro, Eric Haney, a unidade especial opera de forma tão indiscriminada quanto as bombas "Daisy Cutter": "Sua tarefa é matar pessoas. Eles não fazem prisioneiros."







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