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Erotico-->46. DO CARMO -- 17/10/2002 - 09:22 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não poderia ter passado despercebido a do Carmo que Leandro não se deslocava sem se fazer acompanhar de guardas de segurança. Reparara nas armas, contudo, não pôde deixar de se estarrecer quando viu a metralhadora. Mas calou-se, porque não deveria ficar cobrando o noivo sobre algo que se justificava pelo grande número de crimes e seqüestros relativos às pessoas abonadas.

O avô também mantinha os mesmos cuidados, embora nunca portasse arma de fogo. Estranhara, pois, sobremodo, quando da invasão da casa da praia. No entanto, era exímia no tiro ao alvo, conhecendo intimamente o manuseio de fuzis e pistolas, adestrada que fora em escola especializada.

— Precisas saber como enfrentar os bandidos — dissera-lhe o pai na oportunidade.

Ganhara diversos apetrechos desportivos e uma arma portátil, com a recomendação de mantê-la consigo. Como não se achasse ameaçada, sempre cercada pelos homens do avô, conservava o pequeno revólver em casa.

Mas a metralhadora não saía de sua cabeça.

“Por que tanta precaução? Se, ao menos, fosse milionário. Não acredito que possua mais do que está investindo na ampliação do restaurante. Será que o apartamento que diz ter é mesmo dele? Se precisou pedir dinheiro emprestado, é porque não possui capital de reserva. Se não fosse sincero para comigo, desconfiaria de que está dando o golpe do baú. Mas, também, que importância tem isso, se eu me derreto toda por ele?! Há de ficar agradecido à minha família e, mais que isso, preso por causa dos compromissos assumidos. Meu avô é bem capaz de querer reaver tudo, se me der o cano. Para que a metralhadora? Será que tem porte de arma? Não lembro que haja alguma lei que ampare o porte de armas de repetição. Está aí algo muitíssimo misterioso. Na próxima vez, vou pedir para examinar a arma. E vou querer saber se atira com ela. Terá freqüentado escola de tiro? Se for bom, talvez possamos entrar em algum torneio juntos.”

Perdia-se em sonhos de medalhas olímpicas. Imaginava o namorado personagem importante no mundo dos esportes. Lembrou-se do fiasco surfístico. Prudentemente, evitara levá-lo ao clube náutico. Pensou que fizera mal. Deveria forçá-lo, para realçar ao máximo o moreno da pele dele. Bem tisnado, com a tez tratada por filtros solares convenientes, iria parecer um desses manequins de passarela. Era um bom pedaço de mau caminho. Desejava estar com ele. Acendia-lhe o desejo e telefonava, marcando encontro. Depois que havia recebido a bênção paterna, tinham plena liberdade. Não mais era interrogada pelo avô a respeito de onde estivera.



— Quero saber se tens o dom de atirar com precisão.

Leandro não se vangloriou:

— Sou medíocre. O instrutor queria que ficasse exercitando-me mais uns meses. Mas atirar me deixa com os nervos em pandarecos.

— E com a metralhadora? Acertarias os bandidos, se aparecessem para raptar-te? Ou carregas a arma apenas para fazer figura?

— Até parece que entendes do assunto.

— Entendo, sim. Tenho diploma e porte de arma. Só não carrego comigo, porque não vejo necessidade. Mas não hesitaria em acertar algum bandido que se aproximasse.

— Duvido. Já passaste por alguma prova de fogo?

— Tenho medalhas ganhas na academia.

— Pois eu já precisei fazer uns malandros correr. Não tenho certeza, mas algum deles deve ter recebido chumbo nas costas. Garanto que a sensação que se sente depois é horrível. Achas que atirar em stands é o mesmo que acertar em pessoas na rua?

— Se és tão mau, como é que te saíste bem?

— Não sou assim “tão mau”. Tenho as minhas qualidades. A principal é nunca perder o sangue-frio.

— Então, diz por que precisas da metralhadora. Não me venhas com a história da defesa pessoal. Os teus guardas não são suficientes para tua garantia? Meu avô também tem guarda-costas, mas a primeira vez que o vi armado foi aquele dia na praia. Acho que me escondes algo muito importante. Já foste seqüestrado? Tens inimigos poderosos? Os traficantes estão te pressionando, por causa de teu vício? Deves dinheiro a eles?

Leandro não suspeitara de que a noiva iria assaltá-lo. Para qualquer eventualidade, porém, fabricara discurso conveniente. Afinal de contas, alguém poderia denunciá-lo, para prejudicar a quadrilha. Bastava que outra organização criminosa quisesse açambarcar os pontos no morro sob sua responsabilidade. Olhou a moça nos olhos e disse, como a indicar que o faria uma vez só:

— Tenho o meu passado. Já te contei muita coisa. Sabes do meu filho e da minha ligação com a prostituta. Conheces o meu vício e já percebeste que não sou dependente. A minha preocupação é expandir os negócios, criando uma casa noturna nos moldes do restaurante, para pessoas ricas e gente da alta sociedade. Mais tarde, quero entrar no ramo da hotelaria. Sonho em possuir um estaleiro, para a fabricação de barcos de passeio, quem sabe até iates. Acreditas que eu possa estar envolvido com o pessoal do tráfico e que esteja sendo assediado por eles? Esquece.

— E por que precisas da metralhadora?

— Queria demonstrar poder e força, para impressionar-te.

— Não será com essa arma que me irás cativar.

— Pois eu pensei que te irias sentir mais protegida, tendo a teu lado um homem decidido a enfrentar qualquer bandido.

— Eu acho que tens, realmente, é muito sangue-frio. Acredito piamente nisso. Mas o que estás a me dizer são lorotas. Eu não sei por que precisas de uma metralhadora, mas vou descobrir.

— Faz como achares melhor. Quanto a mim, não vou me descuidar, nesta cidade cheia de criminosos. Prezo muito a minha vida e a tua, para cair nas garras dos quadrilheiros. Sugiro que converses com o velho Gouveia e perguntes o que acha de minha providência. Verás que me dará razão. Conversa com teu pai. Talvez te mostre alguma arma bem mais pesada que a minha. Confias na polícia para resguardar os cidadãos? Pois eu não confio, haja vista a quantidade de policiais envolvidos com os crimes. Reparaste que sempre existe algum dando cobertura aos assaltos e seqüestros? Não foram poucos os Delegados e Comandantes da Polícia Militar presos como assassinos e até chefes de quadrilhas. Não precisas ir muito longe: basta ler o jornal uma única vez. Todo dia, o noticiário aponta o nome de diversos soldados apanhados nas malhas da lei. E, se quiseres saber, os que prendem só o fazem para proteção de outros bandos.

— Podes carregar nas palavras. Nenhum desses fatos justifica que leves contigo uma metralhadora.

— E se te disser que nunca atirei com ela?

— E se te disser que eu mesma atirei muitas vezes, para aprender a manejar?

— Aí serei eu quem irá te perguntar com que objetivo.

— O conhecimento não ocupa lugar, como me responderias tu mesmo.

Vendo que Leandro não iria abrir o jogo, do Carmo resolveu não insistir. Mas calcou na mente a intenção de descobrir o que tal arma estava a ocultar.

Por seu turno, o traficante começou a suspeitar de que a moça sabia muito mais a respeito das atividades da família. Seria, contudo, burrice ele mesmo colocar tais cartas na mesa. Fixou a determinação de não provocá-la, nem por sutis provocações. Sentia na moça a forte personalidade dos Gouveias e regozijava-se por possuí-la para o convívio íntimo. Chegaria o dia em que estariam tão enredados nas tramas da vida que contar ou não contar os segredos da organização teria igual sentido. Não temia vir a ser desprezado ou rejeitado, pois teria ela de fazer o mesmo com o pai, o avô, os tios e, quem sabe, a mãe e demais parentela feminina. O sangue não era deles?! Então a mocinha deveria transformar-se numa mulher de mesma envergadura. Levado pela euforia desses pensamentos, arriscou perguntar:

— Como achas que serão os nossos filhos? Será que terão a tua personalidade forte e decidida?

— Filhos? Vamos, por enquanto, ficar apenas nas produções vazias. Se eu quiser encher o bucho, te aviso. Gozar a vida é o que pretendo e, para isso, estamos unindo-nos. Ou esqueceste o nosso trato?



A sós, em seu quarto, do Carmo punha sentido nas palavras do noivo.

“Como reagirão meu pai e meu avô, se eu lhes propuser as questões, conforme me indicou Leandro?”

Não ia mais longe nas interrogações íntimas, admirando-se de que Leandro lhe tivesse vindo com histórias de filhos. Lembrava-se de que ele possuía um e que não falara em trazê-lo consigo.

“Esse cara tem tomado algumas decisões esquisitas. Se não fosse tão bom na cama e tão apresentável para a sociedade, não seria eu quem iria me preocupar em descobrir os seus mistérios. Onde se viu entrar no ramo da hotelaria ou se transformar em dono de estaleiro?! Não há de ser com o dinheiro do meu avô. Nem com o rendimento do restaurante e da boate. Enfim, separação de bens no casamento e divórcio são válvulas de segurança que me livrarão dos perigos do tédio.”

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