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Erotico-->44. ACERTOS ESTRATÉGICOS -- 15/10/2002 - 07:21 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Gouveia não demorou para receber outro recado. Veio de voz desconhecida, marcando encontro com poderoso chefão de quadrilha vizinha. Queriam que fosse a determinado hotel de luxo, acompanhado ou não pela guarda de rufiões, para tratar de negócios de seu interesse e também da organização. Exigiam que levasse Leandro ou nada se ajustaria. Não perdiam tempo e os queriam lá dentro de duas horas.

“Que podem obter de mim que não conseguem juntar sozinhos? E Leandro, que irá fazer? Terá sido ele o autor dessa proeza, no intuito de vingar a morte da mocinha? Então, não me teriam determinado levá-lo.”

Tinha tempo para investigar o local. Enviou três pessoas de confiança, que puderam verificar que tudo estava em ordem. Não havia possibilidade de qualquer armadilha que não pudesse ser desativada a tempo.

— Alô, Leandro? Venha já. Precisamos acertar alguns pontos.

— Pretendia sair com do Carmo.

— Fará isso em seguida. Preciso de você imediatamente.

Foi a vez de Leandro perturbar-se com o inopinado do chamado:

“Terá o velho se arrependido de haver concordado com minha solicitação? Desejará acertar oficialmente o compromisso, com a concordância do filho? Terá tido alguma outra idéia, pretendendo me mandar fazer companhia a Isabel?”

Considerou que as perguntas não se respondiam. Para se resguardar, chamou Silvano e o intimou que viesse. Perturbava o domingo do subalterno, de modo inusitado, mas não queria arriscar-se sozinho. Sabia que o amigo era pessoa de confiança de Gouveia, mas contava com ele para a informação de quem estivera em São Paulo executando o “serviço”.

“Se os caras estiverem me esperando, pelo menos terei tempo de reagir.”

Acomodou na cinta uma submetralhadora e pôs no coldre do peito, ostensivamente, um trinta-e-oito.

Quando Silvano chegou, pediu para conduzi-lo à mansão do futuro sogro. Queria o comparsa na direção, para não lhe dar tempo de reação, se fosse necessário atirar.

— Quem esteve em São Paulo, executando Isabel?

A pergunta à queima-roupa não perturbou o facínora.

— Não estou sabendo de nada.

— Ora vamos! Quem é que poderia passar o endereço da prostituta ao Gouveia?

— Fui eu quem deu a ele todas as informações. Bastou que pedisse. É essa a minha obrigação. Mas não estou a par de nenhuma execução.

Leandro não tinha como duvidar da veracidade das palavras.

— Então fica sabendo que podes apagar o dossiê dela.

Silvano não deu mostras de se emocionar. Estava curtido no sangue derramado. Apenas considerou que era mais um inocente que pagava pelos temores dos chefões.

Ao saltarem do carro, observaram que havia três veículos preparados para viagem, cada qual com três ocupantes. Um deles fez-lhes sinal para que aguardassem dentro do automóvel. Percebeu Leandro que o guarda-costas se comunicava pelo celular. Por certo, avisava a chegada dele. Mais três minutos e a porta da garagem se abria, dando passagem à limusine do patrão. O grande veículo parou um instante, a porta se abriu e alguém lhe fez um gesto para que entrasse.

Leandro não poderia opor-se a atender. Saiu dando sinal de que ia ingênuo, mas punha tento na movimentação dos veículos. Já na porta, observou que Gouveia estava só. Qualquer tentativa de seqüestro não contaria com a presença do chefe.

— Vai entrando. Tenho novidades.

— Para onde vamos?

— Para um encontro em que exigiram a tua presença. Não posso imaginar quem seja, mas ouso dizer que se trata de algo muito importante, envolvendo toda a organização. Não se brinca quando um grupo poderoso chama outro para conferenciar.



Diante do hotel, três dos pistoleiros saltaram e se dirigiram para o apartamento designado. Lá encontraram duas pessoas mascaradas. Vasculharam todos os cômodos. Pediram para ver os demais apartamentos do andar. Estavam ocupados por hóspedes, de sorte que solicitaram que mais três comparsas subissem para montarem guarda nos corredores. Somente aí é que avisaram Gouveia de que poderia subir.



— Estejam à vontade. Não pretendemos ocupar o seu tempo por mais de meia hora. Trata-se de caso de grande importância para nós, que está sendo ameaçado pela sua gente. Tínhamos amparado uma moça e família em São Paulo, Isabel, amante e mãe de um filho desse seu braço direito aí. Mas foi exterminada a mando de vocês. Pelo andar da carruagem, parece que estão querendo apagar a memória que poderia ameaçar o crescimento oficial do moço. Isso nos leva a suspeitar de que a próxima vítima possa ser o menino internado. Estamos fazendo legítima suposição?

Gouveia admirava os conhecimentos dos encapuzados. Não iria, contudo, oferecer-lhes os elementos que pediam, sem que declarassem qual interesse os levava a tais investigações.

— Vejo que as nossas atividades se cruzaram. Vocês supuseram muito bem. Estamos querendo resguardar os negócios. E qual é a de vocês? Como é que estavam amparando a putinha, se nenhuma vantagem poderia oferecer a ninguém? A menos que desejassem apoderar-se...

— Não temos interesse na área do tráfico, nem do contrabando, nem do roubo, nem do seqüestro. Estamos preparando-nos para executar o poder público e, para isso, precisamos da criança viva.

Leandro mal se continha. Percebia que os antagonistas não sabiam em que pé estavam as coisas, no sentido do plano de execução do médico. Fez sinal para Gouveia, pedindo autorização para falar:

— Vocês estão a dizer que ampararam Isabel. Pois fui em quem lhe deu dinheiro para se instalar em São Paulo.

— Você deu cem mil. Nós demos outro tanto. Se fizerem as contas do valor das propriedades, vão ver que a soma chega a cento e setenta mil.

— E como é que ficaram sabendo dos acontecimentos, se o cadáver ainda está quente?

— Temos informantes atentos. Mas a morte da mãe não irá prejudicar o nosso plano. Quem poderá causar-nos transtornos é o pai. Por isso é que pedimos que viesse. Precisamos saber se pretende obter na Justiça a guarda do filho.

Gouveia interferiu:

— E se assim for?

— Iremos cobrar os prejuízos.

Leandro não se intimidou. Gouveia, entretanto, não estava seguro de que a organização não estava correndo sérios riscos. Sentia-se investigado e isso só podia ter ocorrido a partir do momento em que Leandro lhe pedira o famoso empréstimo. De qualquer modo, resolveu abrir o jogo:

— Não temos razões para interferir. Fui eu quem promovi a remoção da rapariga. Pretendia também extirpar o perigo oferecido pelo médico que tratou do menino. Mas o pai me esclareceu que pretende fazer o Doutor ficar com a criança, para lhe dar um lar que ele mesmo não poderá oferecer, à vista do próximo casamento com minha neta. Estou pondo os senhores a par de tudo. Vamos combinar a estratégia que deveremos utilizar para que tudo dê certo para vocês e para nós.

Os dois mascarados conferenciaram em voz baixa durante uns instantes. O que vinha falando prosseguiu:

— Não queremos que se entre com nenhuma ação na Justiça, até segunda ordem. Por agora, estamos concordes em que cada um fique na sua. Para que não se sintam ameaçados, podemos revelar um nome de peso dos nossos. É um dos principais o Doutor Amâncio Rebelo, magistrado neste fórum do Rio de Janeiro.

Gouveia havia reparado na correção da linguagem da personagem à sua frente. Imaginou que se tratasse de algum causídico corrupto, desses que lesam a Previdência, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o Sistema de Saúde Pública e outros órgãos governamentais. Sabia da extensão dessa rede de criminosos e do pouco valor que davam à vida humana. Eram irmãos de crimes, sem interesse em intervir nos seus negócios. Ao contrário, poderiam oferecer até vantagens, caso houvesse necessidade de se defenderem os pobres apanhados pela malha honesta dos policiais que se mantinham íntegros.

— Estamos combinados. Só não quero que façam nenhuma represália contra nós, sem antes mantermos contato pessoal. Esta conversa será sempre oportuna e evitará mal-entendidos.

Apertaram-se as mãos. Gouveia fez menção de retirar-lhes os capuzes. Não se fizeram de rogados e puseram à mostra as faces. Deram os nomes e puseram-se à disposição para quaisquer serviços de advocacia.

Leandro sentiu-se meio deslocado mas manteve a fisionomia dura dos contatos com Mário. Aproveitava para aprender com Gouveia. Talvez este lhe desse encargos mais abrangentes na organização. Lembrou-se de que estava fortemente armado e surpreendeu-se com a confiança dos outros. Realmente, tinha muito que aprender.

Gouveia interpelou os dois:

— Por que não esteve aqui alguém de maior importância?

— Havemos todos de entender que nos pusemos em suas mãos. Não é verdade que o hotel está coalhado de seguranças? Então?!...

Durante a viagem de volta, Gouveia recomendou a Leandro que cumprisse exatamente o que haviam combinado no hotel. Mais do que nunca, o velho traficante desejou aposentar-se. De si para si, imaginava Leandro bem longe dos negócios da organização. “Quem sabe se satisfaça em só pajear do Carmo?!...”

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