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Erotico-->43. PERDAS E LUCROS -- 14/10/2002 - 07:21 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Isabel jamais havia sido recebida, após as vidas anteriores, por tão seleto grupo de espíritos. Toda vez que aportava no etéreo, era conduzida para as Trevas. Ultimamente, escapava das mãos dos malfeitores e perambulava sofredora pelo Umbral, a consciência a atormentar como sempre, porque reconhecia que não realizara o bem, tendo desprezado as várias oportunidades.

Desta feita, o sofrimento da expectativa da morte se perdera em profundo sono. As dores das cutiladas não lhe refletiam na mente, sedada por miraculoso medicamento. Na verdade, fora magnetizada pelos socorristas, que a mantinham adormecida. Nesse estado de alheamento da realidade circunstante, Isabel não se debatia, esquecida dos acontecimento terrenos, envolvida por fluidos tranqüilizantes, sustentados vibratoriamente pelos mentores dirigentes dos trabalhos de assistência.

Seus pensamentos estavam sendo controlados numa faixa de felicidade em que os conhecimentos de nível superior a respeito da bondade do Criador preponderavam. Sentia-se em mundo de vibrações benéficas, onde os sentimentos se resumiam em êxtases buscados nos recônditos das sensações físicas quintessenciadas. A luz era a mais pura. A atmosfera, diáfana e transparente. Os seres, meigos e carinhosos. Os odores lembravam jardins de flores desabrochadas, multicoloridas. Dessedentava-se em fio de suavíssima água a jorrar das rochas, linfa de vigoroso poder regenerador. Todos os gozos se permitiam, sem culpa, sem sacrifícios. Nenhuma dor ou peso a carregar pelos caminhos. Absoluta confiança em que o futuro lhe reservava o paraíso celeste.

Essas fulgurações mentais lhe eram transmitidas telepaticamente. Dráusio e Alfredo participavam ativamente dos trabalhos, condensando os melhores fluidos por meio da oração contrita. Formavam no conjunto de espíritos da sustentação, para que o ambiente não se perturbasse, porque as forças externas se exerciam com todo o seu poder, na ânsia da captura daquele ser em desequilíbrio. Fraquejassem os socorristas e Isabel seria engolfada pela escuridão.

Foram momentos de muita luta para os guardiães, que dardejavam vibrações de carinhoso afeto pelos assaltantes. O violento choque das ondas antagônicas formava a muralha protetora, porque a maldade repelida volvia contra os emitentes, que não suportavam a “descarga elétrica”, como se fossem envolvidos pelas próprias acusações.

Chegava, porém, o socorro da instituição em que Dráusio e Alfredo habitavam, com aparelhos apropriados para o resgate da infeliz. O cortejo seguiu sem atropelos, até os limites das muralhas da cidade sideral. Ali era impossível para os seres inferiores obterem qualquer vitória no campo da influenciação psíquica. Durante muito tempo, ficaram a clamar por vingança, injuriando os trabalhadores que os haviam repelido, exigindo direitos sobre injustiças que afirmavam ter sofrido, maldizendo a condição de inferioridade cármica, acusando o Pai de todos os males.

Isabel foi levada para o hospital, onde receberia tratamento específico, até recobrar a lucidez. Seu filho, criatura devedora, que havia sido aceito no ventre materno com o intuito de receber oportunidade de reerguimento moral, antigo desafeto da mãe, foi levado para outro setor de recuperação, menos traumatizado mas igualmente inconsciente quanto à realidade da situação corpórea.

Dráusio não se cansava de assinalar a Alfredo a impressão de que a misericórdia divina estava exercendo-se na presença deles, pois tudo se fazia em nome do Pai. Alfredo buscava compreender o alcance das observações do amigo, vendo em tudo a aplicação somente de técnicas avançadas de proteção vibratória, através do controle das energias cósmicas à disposição dos mentores, segundo seu grau de adiantamento. Desejava adquirir o mesmo traquejo e esforçava-se ao máximo para executar o serviço de arrimo magnético. Ambos agradeciam intimamente o que consideravam o final mais feliz possível para a jovem, que estivera desintegrada moralmente e que se reerguera pelo amor ao filho, pela amizade ao marido e pelo perdão ao amante.

Estavam nesse enleio sentimental, quando foram requisitados por José, para imediato comparecimento ao centro educacional. Deixassem Isabel entregue aos cuidados dos médicos, confiantes em que teria a melhor assistência possível.



José aguardou que voltassem ao estado de atenção, alterado pelas sensações fortes das últimas horas. Ministrou-lhes saudável “passe” magnético, auxiliando-os na recuperação. Donos dos sentidos e dos pensamentos, receberam as informações de José com forte interesse:

— Caros amigos, vocês receberam uma das melhores lições práticas que pode este instituto ministrar aos discípulos. Não se deixem iludir pela decepção da retirada da carne tão cedo da irmãzinha. Se lhes fosse determinado que deveriam preservar-lhe a vida, o sentimento de perda se justificaria. Mas o verdadeiro socorrismo é o que preserva o pupilo do mal e da dor, facultando o progresso no campo da moralidade e do entendimento da existência. Que é a vida do homem na Terra senão um longo e penoso ajustamento aos valores espirituais, aqueles que promovem o amor como alavanca que soerguerá a todos ao nível de Jesus? Os evangelizadores mais sublimes só existem a partir do momento em que compreendem o sacrifício do Mestre e tal entendimento ocorre a partir da prática das mesmas virtudes oriundas da renúncia, da justiça e da bondade. Isabel está hoje muito melhor do que quando foi internada no corpo transitório. Isso é motivo para grande júbilo. Não nos detenhamos, pois, na apreciação das conseqüências episódicas junto aos que promoveram a passagem dela para o etéreo. Terão eles, um dia, a mesma assistência, quem sabe até promovida pelas próprias vítimas, apiedadas da condição de inferioridade deles. O que nos cabe, neste instante, é velar pelos que almejam retribuir com o mesmo mal, no ambiente terreno. O medo invade os corações de muitos. Esse medo transforma os assassinos em monstros, quando nós sabemos que todos somos igualmente criaturas do Senhor. Os maus pensamentos condensam elementos perniciosos para todos. À medida que se requer o pior para os semelhantes, ficam esquecidas as noções cristãs. É assim que o ódio termina por voltar-se contra os que odeiam, oprimindo-lhes a mente, desestruturando o saber religioso, desencadeando reações corpóreas indesejáveis, terminando por trazer-lhes transtornos físicos de monta. São as doenças psicossomáticas, as quais atingem a quase totalidade da população terrena. Dráusio terá a incumbência de auxiliar Alfredo, no interesse evolutivo da família de Mário. Isso significa que deverão estimular a instrução evangélica dos protetores de cada encarnado, que se encaminharão, assim que possível, para os departamentos de cursos. Não é tarefa de pequena monta e de minguada responsabilidade. Não dêem atenção, por enquanto, ao que se passa com Leandrinho, no hospital. Ele está resguardado por providências de caráter superior. Ofereçam ao médico as inspirações relativas à continuidade dos estudos espíritas. Marlene está, temporariamente, envolta por grave pressão psíquica, à vista do poderio dos traficantes, impedida, portanto, de obstar o desenvolvimento espiritual do marido. Em momento oportuno, poderá ser convencida a ouvir Isabel, mas isso é trabalho de anos de reflexão sobre as leis cármicas agora condenadas por ela em virtude da religiosidade católica. Vejam que a programação é extensa. Alguma pergunta?

Dráusio se sentia muito importante, pois admirava-se da perspicácia do mestre, ao transformá-lo em servidor do amigo, quando sempre evidenciara mais extensos conhecimentos no campo socorrista. Sua posição atual impunha-lhe humildade e fidelidade aos princípios da benignidade cristã.

O fato não passou despercebido a Alfredo, que desejou manifestar apreensão pelo elevado grau de responsabilidade que estava recebendo:

— Caro irmão José, sinto-me discípulo do companheiro Dráusio. Não seria preferível...

— Façam como determinei. O meu objetivo é desenvolver o seu espírito de liderança, para o que deve respeitar os pontos de vista dos subalternos, mostrando-lhes a melhor solução para cada problema. Sejam felizes!



Em casa de Mário, os dois puseram-se a par dos últimos acontecimentos. Ouviram a conversa telefônica com Leandro, observaram as providências do Delegado, assistiram a tomada da via pública pelo pessoal de Leandro e estabeleceram o quanto de desequilíbrio mental o medo impunha a cada membro da família. Notável era a intranqüilidade dos espíritos acompanhantes, que não conseguiam infiltrar nas mentes dos pupilos qualquer sentimento de compreensão da lei maior da causalidade.

Enquanto Marlene se entretinha com os filhos, Mário hesitava em abrir “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que trouxera no bolso do paletó. Alfredo se aproveitou da lembrança do médico e solicitou a todos que colaborassem com ele, pois pretendia fazer que lesse algum trecho adequado para o momento.

Não foi fácil, mas a idéia de que talvez se inspirasse para trazer um pouco de paz aos familiares acabou convencendo-o a abrir o livro. Deu com o texto “Justiça das aflições”, onde destacou a passagem: [...] “desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus.”

Encheu-se de coragem e elevou a voz:

— Marlene, querida, que poder têm os homens, perante o poder de Deus?

Não foi possível à esposa conter as lágrimas. Era a primeira vez que ouvia o marido falar de Deus, com fé, com crença, com confiança. Deixou as crianças e abraçou-o carinhosamente.

— Meu amigo, iremos seguir juntos pela eternidade!

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