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Infanto_Juvenil-->O BARQUINHO DE PAPEL -- 02/05/2002 - 15:18 (LINDAMAR C. CARDOSO DE MELLO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BARQUINHO DE PAPEL

Certo dia, amanheci com todas as recordações tristes, que já havia vivido. Minhas recordações me levavam há anos passados, mas, que se encontravam tão presentes em minha mente e meu coração, como se tudo tivesse acabado de acontecer... Estava eu perto da janela, olhando para fora, porém nada via. Meus pensamentos sombrios me transportavam para um passado já bem distante, há muitos anos atrás...

Nessa época, estava eu com 6 anos de idade. Estava muito só, chorando e triste, acompanhada de uma melancolia sem fim. Eu havia chegado da escola e me perguntava sem obter resposta nenhuma:
- Porque eu não tenho meu pai junto de mim? Todos os meus amiguinhos tem! Menos eu! ...

Tantas perguntas me vinham a mente, todas saídas do fundo do meu coração:
- Por que ele teve que partir, e nos deixar aqui sozinhas...?
- Por que minha mãe tem que se ausentar e sempre ficar longe de mim...?

Eram poucas as horas que eu tinha minha mãezinha comigo. Isso era quase sempre a noite, quando nós duas já estávamos muito cansadas e juntas íamos dormir. Eu não entendia o porquê dessa nossa distância, se juntas seriamos bem felizes! Mamãe tinha que trabalhar para nos sustentar e podermos sobreviver com dignidade.

Com esses pensamentos constantes, eu era uma criança triste e melancólica. Sentia muita solidão sem o meu pai e minha mãe por perto...
- Será que todos eram triste assim como eu? Será que essa dor na minha alma era por causa daquele tempo tão feio e nebuloso?

O dia estava muito feio, o céu estava cinza escuro, com grandes nuvens ameaçadoras, vinha chuva pesada dentro de pouco tempo. Alguns dizem que o tempo mexe com o humor de certas pessoas: Eu creio que sou uma delas...

Com esse dia horroroso, minha tristeza, minha solidão e minha melancolia, tendiam a aumentar bastante, pois me impediam de fazer várias coisas para me distrair e passar o tempo. Assim, nesse dia, estava eu conversando comigo mesma e com Deus:
- Meu Deus, por que razão meu pai foi para junto do Senhor?

Todos me diziam que ele havia ido, porque Deus precisava muito dele lá no Céu...
- Meu Deus, e eu não preciso do meu querido pai? Pode acreditar que eu preciso muito, e também preciso muito do Senhor!!!

Era só ficar só, que assim pensava e me recordava, como tinham sido duros e tristes todos aqueles anos sem o meu querido pai...

Já havia se passado inúmeros anos, era um passado bem distante, porém tudo estava sempre presente no meu coração e na minha alma.
- Ai!... Que susto, meu Deus...!

Um grande relâmpago cruzou o céu, e um forte trovão, fazendo o maior barulho, me trouxe de volta ao presente e à realidade da vida.
- Senhor, meu Deus, aí vem chuva da brava! Com tantos relâmpagos e trovões, tenho certeza que ela não deve demorar...

E, de fato, não demorou nada, grandes pingos começaram a cair copiosamente. O vidro da janela estava embaçado. Ou será que eram as minhas lágrimas que não me deixavam ver nada...?

A chuva veio com tudo! Em segundos, tudo parecia um rio, de tanta água! A rua ficou escondida em baixo do aguaceiro, tudo ficou alagado, em pouco tempo. Mais tristeza e pensamentos distantes, essa chuva conseguiu trazer para mim...
- Ah! Que gostoso seria se eu ainda fosse uma criancinha, só para ir lá fora brincar na chuva... Sentir aquela água fria bater no rosto, ver a água rolar e cobrir os meus pés descalços!...

Lembrei-me de quantas vezes que havia feito isso, e por entre lágrimas, sorri, lembrando de que já fora feliz um dia... Eu, quando criança, gostava muito de chuva, dizia que era água benta, que Deus jogava do céu para nos abençoar. Não gostava de ver as nuvens escuras esconder o sol, lá no céu, logo ficava triste... Mas, quando a chuva caia, eu corria alegremente para brincar com ela...

Neste dia eu estava tão só, que meus pensamentos teimavam em me levar para bem longe, para recordações tristes e amargas. Procurei afastá-las, pois eu também tinha muitas recordações boas e felizes, e ainda, tinha muito para realizar e construir. Fazendo um grande esforço para afugentar toda aquela tristeza, sequei as minhas lágrimas, que teimavam em sair, molhando todo o meu rosto e olhei firmemente para fora através da vidraça. Firmando meu olhar para fora, vi e exclamei:
-Olha!... É um pequeno barquinho!... Vem correndo com a água da chuva, vem junto com a água que rola rua abaixo!

Corri para fora e o peguei. Era um barquinho feito de papel.
- Que lindo e bem feito era esse barquinho!!!

Eu também gostava muito de fazer barquinhos de papel e colocá-los na correnteza da água da chuva... Como era emocionante vê-lo navegar, até perdê-lo de vista! Eu nunca ficava sabendo até onde ele ia, e nem quem iria pegá-lo! Olhando bem para ele, vi que havia algo escrito dentro dele:
"Para o meu grande amor! Vai barquinho, vai, diga a ela que sempre a amarei e que ela não se esqueça nunca de mim!"

Sorri e disse a mim mesma:
- Esse barquinho tem endereço certo para ir... Eu não posso detê-lo, pois não foi para mim, que foi mandado...

Arrumei ele bem direitinho e tornei a colocá-lo nas águas da chuva, que continuavam a descer rua abaixo. Fiquei por um longo tempo pensando e imaginando, enquanto olhava o barquinho deslizar... Para quem seriam aquelas palavras tão lindas e carinhosas? Queria muito que fossem para mim...

Voltei para junto da janela e fiquei olhando ele se distanciar... Já ia longe, até que o perdi de vista. Fiquei ali, com o rosto bem perto da vidraça e dormi por uns instantes. Até sonhei...

"Estava navegando dentro do barquinho de papel, indo para bem longe, tão longe quanto a imaginação poderia me levar... Passavam, por mim, lindos lugares, paisagens que nunca havia visto. Ou era eu que dentro do barquinho passava por eles...? O meu barquinho navegava com toda a velocidade. Eu queria ir para algum lugar bem distante, onde pudesse ser feliz, só que não sabia para onde, e nem se esse lugar existia...
De repente, tinha alguém junto de mim: Era o meu namorado! Nós nos amávamos muito! Ele era o meu príncipe encantado, saído de algum conto de fadas. Aquele que havia esperado há tanto tempo... Era lindo, gentil, carinhoso e muito educado. Nós íamos navegando dentro do barquinho, um bem juntinho do outro. Ele me dizia lindas palavras de amor. Dizia que me amava muito e que seria meu para sempre, até a eternidade! Dizia que estávamos indo para bem longe, num lugar bem distante, onde só existia felicidade: Onde o sol brilhava sempre, e que à noite, a lua viria tomar o seu lugar com seus raios cor de prata, onde iluminaria tudo a nossa volta... Enquanto ele falava, íamos deslizando com o barquinho, sem parar. Os lugares por onde passávamos eram cheios de luz, paz, alegria e uma harmonia sem fim...
Por todos os cantos haviam pássaros e borboletas voando e dando um colorido muito especial ao ambiente. O cantar dos pássaros era como o canto dos Anjos do Céu! Que maravilha! Tudo ali era só paz e felicidades! Queria muito permanecer nesse lugar para sempre, junto do meu príncipe, navegando naquele barquinho de papel; com certeza, rumo ao Paraíso... Eu ficava admirada e feliz de ver tantos lugares lindos. Às vezes, me perguntava:
- Para onde estarei indo...?
Mas, isso não tinha a menor importância... Por onde passávamos, tudo era graça e beleza. Minha felicidade era tanta que ria e chorava ao mesmo tempo! Eu estava radiante de tanta felicidade, como nunca fora em toda a minha vida! Dentro de mim, eu tinha certeza que nunca mais iria ser triste e sozinha, e nem teria aquelas recordações tão trágicas, que me faziam tão infeliz, e me faziam chorar de tristeza.
Eu e ele para sempre! Que alegria! Que felicidade! O mundo era só meu e dele: Ali não existia nada de mal, tudo era belo e harmonioso. O Sol brilhava e nos aquecia o dia todo. Logo depois, vinha a Lua e nos iluminava com seus raios de prata, deixando ainda mais belos os lugares. O céu era só estrelas de vários tamanhos que ficavam dançando e piscando para nós. A correnteza continuava nos levando, levando sem parar... Bem junto do meu amor, eu não cansava de me maravilhar com tantos lugares lindos! Assim fomos navegando por dias, meses, anos... Aquele barquinho de papel nos transportava para a eternidade! Aquele mundo era um mundo de sonhos. Ali não existia maldades e nem invejas. Tudo era só beleza, tranqüilidade, amor, paz, harmonia e felicidade. Nós não sentíamos nada, a não ser, uma grande e profunda alegria, que vinha do fundo dos nossos corações e de nossas almas. Aquela alegria era contagiante, pois até a natureza, compartilhava conosco toda essa felicidade! Não sei como, mas, logo depois, passamos a flutuar em imensas nuvens e fomos subindo, subindo, subindo, tudo parecia não ter fim... Aos poucos, tudo foi se transformando... De repente, tudo mudou!"

Eu abria os olhos e estava ali sentada junto à janela, como se nada tivesse me acontecido! Tentei olhar para fora e nada vi, pois a vidraça estava completamente embaçada... Com as mãos fui esfregando até que tudo ficou claro e pude ver que a chuva já havia passado. Lá fora, o dia voltara a ficar claro, mostrando que as chuvas tinham se afastado para bem longe dali.

Na rua, eram poucos os vestígios da tremenda chuva que caíra. Tudo ainda estava molhado, mas sem aquela aguaceira toda. Com o passar dos segundos, comecei a ver, que tudo não passara de um lindo sonho dourado. Não sei se sonhei dormindo, ou se sonhei acordada, com um mundo que eu gostaria que existisse, e que desejava muito, que fosse o meu mundo!!!

Que pena! O sonho acabou! Tudo não passou de uma linda viagem, de uma grande imaginação sonhadora... Olhei fixamente para fora, através da janela, para ver se ainda avistava o pequeno barquinho de papel, mas ele já deveria estar longe, ou até nas mãos daquela, para quem fora mandado...

Agradeço àquele pequeno barquinho de papel que me levou até o Céu!!!


Lindamar C. Cardoso de Mello.
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