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Artigos-->Para Quem não For Doente do Pé ou Ruim da Cabeça -- 06/12/2001 - 16:56 (Magno Antonio Correia de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Os gatos pingados que afrontam meus pedidos e se atrevem a ler meus textos sabem que não é do meu feitio fazer propaganda do que quer que seja. Mas alguns acontecimentos da última sexta (30 de novembro) me levaram a abrir uma exceção, a qual, dizem, interpretando muito mal um provérbio romano, costuma comprovar a regra.



Tudo se iniciou pouco antes de uma sessão de cinema. Eu estava fazendo um pequeno lanche antes que ela se iniciasse quando um garoto maltrapilho me pediu que lhe repassasse o resto da minha salada, sentando-se ao meu lado para esperar que isso acontecesse. É evidente que isso me tirou completamente o apetite e não demoraram três garfadas antes que eu lhe repassasse, constrangido e um tanto quanto irritado, quase tudo que me iria goela abaixo, não fosse a interferência inoportuna.



Não se preocupe, contudo, o meu fiel “leitorado”, porque não foi para debater acerca das relações entre pobres (representados pelo menino) e remediados (grupo ao qual pertenço) que me propus a escrever este texto. O mal estar que me invadiu durante o episódio talvez servisse para algum psicólogo vigarista discorrer sobre a solidez da minha eterna reivindicação por justiça social, mas não é isso que me importa no momento. Resultado muito mais proveitoso viria pouco depois, logo após o término da sessão citada de início.



De fato, não houvesse ocorrido aquele inesperado confronto, certamente não me ocorreria jantar, naquela noite, no “Feitiço Mineiro”, restaurante aqui de Brasília conhecido e reconhecido pelo brilhante incentivo que presta à cultura. Quando lá chegamos, já havia terminado a primeira parte da apresentação de um conjunto musical que me era completamente estranho. Consegui uma mesa, a última vazia, diga-se, e me pus a esperar pela continuação do espetáculo, mais interessado, na verdade, nos aspectos propriamente gastronômicos do restaurante, tendo em vista a frustração recente no que diz respeito a esse campo.



Quando o show recomeçou, seis mulheres subiram ao palco, a maior parte delas com instrumentos de percussão. A última à direita trazia um violão e a do lado oposto um cavaquinho. Começaram a cantar e fizeram uso abusivo de quatro ingredientes: musicalidade, genialidade, sensibilidade e bom senso. O surpreendente repertório das meninas incluía, para meu absoluto espanto, tudo que de melhor e de mais refinado já se produziu em matéria de samba. Compareceram Noel Rosa, Ataulfo Alves, Zé Ketti, Cartola, Élton Medeiros, Nélson Cavaquinho e outros de mesmo quilate, tudo compondo um verdadeiro abuso, no qual não faltaram sequer peças compostas pelas próprias integrantes do conjunto, nas quais não se notava, em relação aos mestres, a menor queda de nível.



Depois de quase uma hora de apresentação, a coisa se estendeu por mais quarenta minutos, não porque o público pedisse bis, mas porque pedia tris, quadris, enfim, um espanto! Não havia no restaurante quem não houvesse se deixado levar pela exatidão do repertório, pela maneira ímpar como elas se apresentaram, pelo entusiasmo que transmitiam, que exalavam, que transbordavam a cada nota, a cada pancada de bumbo, a cada balanço. Caímos, todos os que estavam presentes naquele momento especial, na mais descarada, desabrida, desavergonhada e maravilhosa roda de samba de que tive notícia.



Ora, não havia outro jeito. No dia seguinte, sabedor de que o conjunto voltaria a se apresentar, retornei ao meu posto e compareci ao repeteco. O entusiasmo geral foi ainda maior, a dificuldade de terminar o espetáculo se aprofundou mais do que parecia crível e voltei a desfrutar, absolutamente extasiado, da convicção de que é impossível, mesmo num país porcalhão como o nosso, evitar a paixão pelo próprio umbigo.



Senhores, se forem de Brasília, não percam nenhuma oportunidade. Se não forem, procurem se informar a respeito, ora, pois! Em um e em outro caso, os que tiverem o privilégio de ouvir o “Toque de Pele” tocar – é esse o nome do estrondoso conjunto – hão de concordar comigo: essa história de música americana, iê-iê-iê, roquenrol, jazz, sei lá mais o quê, caramba, isso tudo não passa de um grande desaforo! A rapaziada da esquerda, da direita, do centro e do alto que me perdoem, mas música, música mesmo, música de verdade, é o nosso bom, velho e surrado samba!



Querem mais? Eu não! É só isso e tenho dito.

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