Estar feliz no mundo é um estado de, por assim dizer, quase presunção da inocência, quando os pensamentos absurdos fogem, e nossas necessidades mais sutis vêm a lume dissipadas, numa constante afluição de gozo realizado. É mais ou menos o que se dá no encontro do beija-flor com o néctar, dos lábios ressequidos pelo calor com o delicioso frescor da água amiga, ou mesmo a simples descoberta de um ouvido atento e carinhoso que queira abrigar nossas palavras chorosas.
Estar feliz, então, é fruto do simples encontro entre um e outro coração, uma e outra mão, uma e outra vida, um e outro sonho, a partir do qual o que era distante ficou próximo, o que era distinto ficou igual, o que era irrealizável se tornou tangível, o que era miragem se tornou em vida .
Estar feliz, acima de tudo, é presumir da dor incessante uma alegria após, da tempestade avassaladora uma tranqüilidade além, da perda irreparável um consolo constante.
Estar feliz no mundo, por tudo isso, não é querer despir o corpo das marcas do tempo, ou o coração dos vestígios das desilusões, mas a certeza de que estamos caminhando para a liberdade da dor, para a ausência do mal, para junto de Deus.
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