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Erotico-->41. REENCONTRO -- 12/10/2002 - 07:44 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

“Dr. Mário, venha almoçar comigo, segunda-feira. Leandro. O restaurante é o do impresso. Precisamos conversar.”

Tal foi o teor do cartão recebido pelo médico. Inesperadamente, o traficante resolvera dissolver o mistério de sua fisionomia, dando-lhe de bandeja a identidade social. Mário se surpreendeu com a ousadia e não conseguiu imaginar sobre que tema tratariam em público.

— Não vá! — disse-lhe Marlene.

— Por que não?

— Que outra coisa terá ele a te oferecer a não ser outros sacrifícios?

— Acho que está baixando a guarda.

— Ao menos, investiga primeiro esse restaurante. Vê se existe e como é conceituado. E se lá só se encontrarem bandidos?

— Essa providência vai redundar em nada.

— Como assim?

— Ele não iria me armar algo que eu pudesse evitar com simples telefonema.

— Então, faz isso.

No mesmo instante, Mário ligou para o número registrado no cartão. Os dados fornecidos pela voz do outro lado da linha confirmavam os elementos impressos. Buscou o endereço na lista telefônica. Lá estava.

— Vou passar por lá de carro para me certificar de que se trata de local bem freqüentado. Queres ir comigo?

— Vamos já!

A viagem foi longa e silenciosa. Ao passarem diante do prédio, notaram que o ambiente era muitíssimo bem freqüentado. Só automóveis do ano e muitos importados. A tabuleta, discretíssima. Aos fundos, via-se, em fase final, a construção de imenso salão. Do lado de fora, a placa indicava as obras de ampliação do restaurante.

— Querida, parece que o local não se recomenda para nenhum atentado.

— Quem será o proprietário?

— Talvez seja do próprio traficante. Dinheiro não lhe há de faltar. Mas isso eu vou perguntar a ele, diretamente. Deixa comigo.

— E se eu vier junto?

— Não acho conveniente. Em todo caso, poderás aparecer depois, com alguma de tuas amigas, desde que ela não me conheça.

— Vai ser difícil. Em todo caso, vou pensar no assunto.



Quando Mário entrou no salão, verificou que se encontrava quase lotado. O “maître” o recebeu pelo nome e o encaminhou para uma das mesas próximas, local resguardado por duas colunas, de modo que a conversa poderia estender-se sigilosa. Retirou o aviso de reserva e chamou um dos garçons, com o respectivo copeiro.

— Queira aguardar um instante, por favor. François irá atendê-lo. Esteja à vontade.

Mário agradeceu e dispensou o serviço. Estava muito excitado para pensar em comer.

Enquanto esperava o anfitrião, observava as pessoas. Desconfiava de que poderia sofrer algum golpe, como vira no cinema. Mas a presença de muitas crianças e mulheres indicava para a inocência do público. Por outro lado, o pessoal da casa era extremamente profissional. O odor puxava mais para perfume do que para a comida. No entanto, todas as mesas estavam servidas. Concluiu que era perfeito o sistema de circulação de ar, pois não encontrou indícios dos aparelhos.

Ia nessa investigação, quando alguém se apresentou:

— Perdoa, doutor, se te causei qualquer apreensão.

Leandro não estendeu a mão e puxou a cadeira defronte de onde se situava Mário, dando as costas para o público.

O médico estremeceu, reconhecendo o timbre daquela voz. A fisionomia do bandido, entretanto, era absolutamente neutra. Nenhum vinco no rosto lhe denunciava os sentimentos. Admirou-se Mário da beleza máscula do homem que tanto medo lhe provocara nas noites tenebrosas do morro. Seria possível que fosse ele quem lhe havia atirado?

— Sinto muito que nosso relacionamento tivesse sido tão estressante. Mas era o que as circunstâncias me apontavam como a melhor atitude. Faria tudo de novo, podes crer. Agora, estou te dando a oportunidade de saber quem sou como homem público. Este restaurante é propriedade minha. E tu sabes de onde vem o dinheiro. Sabes, portanto, mais que qualquer pessoa comum. E agora sabes mais do que Isabel. Mas conto com tua discrição e com tua inteligência. Vou casar com a filha de rico empresário e verás o meu retrato na imprensa. Isabel, idem. Portanto, quero que a orientes para se manter em São Paulo, com o Baltazar dela, cuidando dos negócios. Quero que lhe passes o meu interesse em que ela cuide de meu filho. Abro mão dele porque não tenho como levá-lo comigo. Não me é conveniente. E isso é fácil de deduzir, à vista da projeção social que irei adquirir. Mas não te esqueças de que a minha rede apanha os peixes miúdos. Não te estou fazendo ameaças. É a fiel imagem da realidade. É assim que se passam as coisas no mundo.

— No teu mundo...

— Seja. Mas não quero que discutas comigo. Tens muito para perder, principalmente agora. Antes que te retires, devo dizer-te que fui eu quem te comprou a casa e que te facilitou a aquisição do apartamento. Sei onde teus filhos estudam e onde moram todos os teus parentes. Se pensavas que eu vivia no morro, agora já sabes que não. E isso faz a diferença quanto à rapidez com que agirei, caso perceba que estás tramando algo contra mim. Não queiras completar o teu dossiê a meu respeito com estes novos conhecimentos. Estou muito reconhecido pelos progressos do meu menino. Mas estamos quites, conforme já te disse.

Nesse momento, o “maître” se aproximou e sussurrou algumas palavras ao ouvido de Leandro. Impassível, prosseguiu o longo discurso:

— Não foi boa a idéia de liberares Marlene para vir me observar. Vou fazer de conta que foi idéia dela. Isso vai fazê-la responsável perante mim por essa atitude imbecil. De qualquer forma, as coisas não vão mudar por causa disso, já que eu sabia que não tens segredos em casa. Espero que ela não dê com a língua nos dentes. E nada de orelhas debaixo de travesseiros...

— Santo Deus! Preciso repetir que não fui eu?

— Isso iremos ainda descobrir.

Mário estava verdadeiramente impressionado com o sangue frio do desafeto. Queria surpreender alguma idéia mal formulada, mas imaginou que todos os dizeres haviam sido longamente meditados. Sentia que muitos outros mistérios se escondiam por detrás daquela máscara de absoluta indiferença quanto ao teor das concepções morais que poderia aventar. Lembrava-se, vagamente, de que havia leis para a cidadania, mas as que regiam aquele disparatado relacionamento se expunham no poder da força que tão bem conhecia. Tinha a certeza de que estava sendo poupado. E Isabel também. “Será que existe algum princípio de condescendência nessa alma?” Perguntava mas não conseguia responder.

Leandro queria dar por encerrada a entrevista:

— Penso que não terias prazer nenhum em confraternizar comigo, almoçando e brindando. Por isso, não te ofereço nenhum dos excelentes pratos de minha cozinha. Porém, se quiseres ficar com a esposa, poderás apreciar nossos acepipes. Sei que tens juízo para não voltares a este local. Se fizeres como te determinei, não me terás nunca mais na tua frente.

Levantou-se, voltou-se sobre os calcanhares e dirigiu-se para o fundo do salão, não sem ir cumprimentando a clientela. Ao passar por Marlene, fez questão de sorrir. Esta se arrepiou toda, sentindo-se descoberta.

Mário se aproximou da mesa, avisando discretamente a esposa:

— Vamos embora.

Quem ficou sem saber o que se passava era a coitada da acompanhante, senhora de certa idade, costureira de Marlene, levada para lá com a desculpa de observar os modelos da voga. Estava surpresa com o “chiquê” do lugar e desejava saborear um bom prato.

Mário pretextou dor nas costas. Marlene o apresentou, como se estivesse admirada de encontrá-lo ali. Sabiamente, deixou a amiga com um cheque em branco para as despesas e ambos se retiraram apressadamente. No dia seguinte, o carteiro lhes entregava um envelope com o cheque inutilizado.

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