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Artigos-->Qualidade de Ensino no Brasil -- 23/06/2008 - 07:57 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Qualidade do Ensino no Brasil



Prof. Edson Pereira Bueno Leal junho de 2008 , atualizado em novembro de 2008 .







Não havia no Brasil uma cultura de avaliação . Ela começou nacionalmente a partir de 1996 com a criação do Provão e depois do Enem e tornou-se indispensável para a avaliação do nível de ensino no país , muito ruim quando se verifica o rendimento em exames internacionais como o Pisa .

O Brasil tem quatro mecanismos federais de avaliação de ensino . O Saeb, o Enade, o Enem e a Prova Brasil , todos de padrão internacional .



ENADE



O Provão foi extinto pelo governo Lula no final de 2003 , por intermédio de uma Medida Provisória que instituiu um novo sistema de avaliação, a partir de 2004 . o SINAES baseado em uma série de informações das instituições superiores como capacidade institucional ( oferta de programas de pós-graduação) , produção científica , instalações , etc) ; ensino e produção de conhecimento ( dados do corpo docente , qualificação, dedicação , publicações , etc) ; responsabilidade social das instituições ( contribuição da instituição à sociedade e ao desenvolvimento social ) e aprendizagem . Esta última prevê um novo Exame Nacional de Desempenho do Corpo Discente que será realizado duas vezes a cada três anos para cada área de ensino , no primeiro e último ano de cada curso . O resultado final do processo produzirá os conceitos de satisfatório, regular e insatisfatório . Os resultados regular e insatisfatório obrigarão as instituições a assinarem um pacto de ajustamento de conduta que não cumprido poderá resultar na suspensão temporária da autorização ou na cassação do reconhecimento do curso. . ( F S P 17.12.2003, p. C-1) .

Os resultados do Enade podem ser acessados em www.inep.gov.br/superior/enade.



Enade 2007



Em 2008 o MEC mudou os critérios adotados para avaliar as universidades pelo Enade. Segundo o presidente do Inep , Reynaldo Fernandes , “ Quisemos tornar a avaliação mais completa . Agora, para ter nota 5 , é preciso ir bem em tudo . E para ir mal , também precisa ir mal em tudo “.

Foi criado um novo indicador , o conceito preliminar . Ele considera o desempenho e a evolução dos estudantes no Enade, o perfil do corpo docente ( como número de professores com dedicação integral ou doutorado ) e a percepção dos estudantes com base nos questionários respondidos no Enade. Até 2007 , o padrão para avaliar os cursos eram apenas os dados referentes à prova ( conceito Enade) .

O conceito Enade , que faz parte do conceito preliminar , avalia o conhecimento dos universitários . Ele é calculado a partir do resultado dos alunos na prova de conhecimento geral , aplicada a todos os cursos , e na prova de conhecimentos específicos em cada área .Ele tem a pretensão de mostrar o curso que forma os melhores profissionais e é aplicado tanto aos calouros, quanto aos formandos , por amostragem.

Outro índice é o IDD ( Indicador de Diferença de Desempenho ), que mede o conhecimento agregado pelos cursos aos estudantes . Ele é calculado a partir da diferença entre o desempenho dos formandos de 2007 e o dos ingressantes de 2004 .



CONCEITO PRELIMINAR DE CURSO



Na edição de 2007 do exame , a novidade é o CPC – Conceito Preliminar do Curso , calculado a partir do conceito Enade (40%) , do IDD (30%), e dos chamados insumos do curso (30%) – recursos pedagógicos , infra-estrutura e qualificação do corpo docente . Parte da nota do item “insumos “ é calculada a partir da avaliação dos próprios alunos sobre as aulas práticas e os planos de ensino das disciplinas .

O conceito será final apenas após a visita da comissão do MEC ( que será obrigatória para os cursos com notas 1 e 2 e optativa para os demais ) ,Os cursos são avaliados a cada três anos .



CPC 2007



Em 2007 participaram 3.228 cursos em 16 áreas de conhecimento com 189.614 estudantes , dos quais 118.610 calouros e 71.004 formandos . Cerca de 2.027 cursos tiveram conceito e 1.110 não por não terem cumprido requisitos técnicos como ter ingressantes e concluintes .

Dos cursos das universidades privadas , 31,4% tiveram notas 1 e 2 , em uma escala de 1 a 5 , no CPC . Entre as públicas ( 23 federais , 19 estaduais e 22 municipais ) o percentual foi de 18,2% .

Cerca de um terço das graduações oferecidas pelas instituições públicas tirou notas 4 e 5 , e apenas 10,4% dos cursos privados .

Considerando apenas o IDD , 42 cursos de universidades privadas obtiveram nota máxima . Na maioria deles, os alunos tiraram notas média ou baixas no Enade, mas demonstraram ter adquirido muito conhecimento durante a sua graduação. A Unip , teve quatro cursos nota 5 no IDD , mas mesmo neste quesito as privadas estão em situação pior do que as públicas . Cerca de 34,8% das instituições avaliadas tiraram as notas mais baixas de acordo com esse critério , contra 27% das públicas .

O Estado de São Paulo ficou em sexto lugar no percentual de cursos pior avaliados somente a partir do resultado da prova e em 18º lugar na lista dos Estados com maior percentual de cursos com notas máximas .

No Brasil , dos 3.238 cursos , 722 ( 22,3%) tiveram conceito entre 1 e 2 e 621 (19,2% entre 4 e 5) . São Paulo , de 731 cursos , 208 ( 28,5%), tiveram conceitos 1 e 2 e 107( 14,6%) , entre 4 e 5 .

A Unicamp e a USP não participaram da avaliação o que contribuiu em muito para o péssimo resultado do Estado . A Unesp teve seis cursos entre os nove mais bem avaliados no Estado , com nota máxima cinco : Agronomia , Ilha Solteira ; Educação Física , Bauru ; Enfermagem , Botucatu ; Medicina Veterinária , Jaboticabal; Odontologia , Araçatuba e Araraquara . A Famerp teve o curso de enfermagem em São José do Rio Preto , a Unifesp , o curso de Fonoaudiologia em São Paulo e a única privada a São Camilo, o curso de Tecnologia de Radiologia em São Paulo .

A Unip teve 13 cursos com nota 2 ( educação física , nutrição, enfermagem e farmácia , em diversos campi) e a Unibam 11 cursos com nota 2 ( nutrição , bio-medicina , enfermagem , farmácia , fisioterapia e odontologia em diversos campi) . São as duas universidades que mais investem em propaganda e as que tiveram o maior número de cursos mal avaliados , com nota dois , que indicam cursos que não tem condições de continuar funcionando segundo o MEC . ( F S P , 7.8.2008 , p. C-3-4) .



CPC 2008



De cada dez instituições de ensino superior , três tem nível inadequado ( nota 1 ou 2) . A quase totalidade da rede privada – 96% , tem desempenho considerado insatisfatório .Das 1144 faculdades , 429 tiveram nota 1 ou 2 . De 131 centros universitários , 16 foram mal avaliados e de 173 universidades , só 9 tiveram nível crítico .



Para Cláudio de Moura Castro o CPC gera um número sem sentido . Com o Enade o MEC compara profissões , quando a dificuldade da prova não é a mesma . Soma os resultados da prova aplicada aos formandos à nota dos calouros na mesma prova , ou seja , favorece as universidades públicas que atraem os melhores candidatos , pois em pesquisa verificou-se que 80¨% dos resultados do Provão se deviam à qualidade dos alunos aprovados no vestibular .

No IDD é medida a contribuição líquida do curso superior ao subtrair das notas dos formandos as notas dos calouros . “Na Farmácia temos uma escola com 5 no Enade e 2 no IDD . Temos outra com 2 no Enade e 5 no IDD . Embora a média seja a mesma , esconde mundos diferentes . A primeira forma os melhores profissionais , porque recruta bem , mas ensina pouco . A segunda produz alunos medíocres , mas oferece muito a eles . Cada indicador tem seu uso “.

Já no Índice de Insumos como descrições do processo de ensino , número de doutores , docentes em tempo integral e outros , “ para o público , conhecidos os resultados , os meios ou processos se tornam irrelevantes . Se o aluno aprendeu , não interessa como nem com quem – a não ser aos especialistas .” Por sua vez em um curso de filosofia ter todos os professores com doutorado em tempo integral pode ser ótimo . Já em um curso de engenharia , arquitetura ou direito sem profissionais seria péssimo , pois as profissões estariam sendo ensinadas por quem não as pratica . “ Esse curso ganha ponto pelo perfil dos docentes , quando deveria perdê-los “

“Mas , como dito , a falha mais lamentável é a decisão de somar três indicadores que mal sabemos como interpretar individualmente . Louvemos a coragem do MEC de gerar e divulgar avaliações . Mas nos parece inapropriado entregar ao público uma medida tão confuda “ . ( Veja, 24.09.2008, p. 24) .





ENEM



O ENEM - Exame Nacional de Ensino Médio , criado em 1998 representa uma tentativa de avaliação do nível de ensino médio no Brasil . Os dados de 2002 da prova de conhecimentos gerais mostram uma nota média de 34,13 , patamar insatisfatório e o pior resultado desde o início dos exames . Dos 1,3 milhão de alunos que fizeram a prova em 2002 , cerca de 74% ficaram na faixa de desempenho de insuficiente a regular na parte de conhecimentos gerais . Em 2003 o desempenho na prova objetivo foi melhor e a nota média subiu para 49,55



NOTAS MÉDIAS DO ENEM POR ANO

1999 2000 2001 2002 2003

Objetiva 51,93 51,85 40,56 34,13 49,55

Redação 50,37 60,87 52,58 54,31 53,36

2004 2005 2006 2007 2008

Objetiva 52,47

Redação 56,41



A ampliação do número de universidades que incluíram o ENEM como mais um critério de seleção, criou a falsa idéia de que seria mais fácil ser aprovado no vestibular , ou até que o vestibular iria acabar. Ledo engano. O que a realidade dos números demonstrou é que aumentou em torno de 10% o número de inscritos para os três vestibulares das universidades públicas em São Paulo e em consequência , piorou a relação candidato/vaga . Na prática , a nota de aprovação de 2000 sendo em média maior do que a de 1999 , exige um ainda melhor nível de preparação dos vestibulandos.

Outra realidade mostrada pelo ENEM é que a distância entre a escola pública e a escola particular de 2o grau é grande . A nota média obtida nas provas de Redação do ENEM 2003 foi de 53,36 , sendo que a dos alunos de escolas particulares de 64,44 e das escolas públicas 52,77.

Em 2003 , na prova geral a média dos alunos da escola pública foi de 49,5 contra 55,4 dos alunos da rede particular. Em 2002 ,entre os estudantes de escolas públicas 84,5% tiveram desempenho de insuficiente a regular , contra 37,6% dos alunos das escolas particulares . Já o desempenho de bom a excelente obteve 9,2% dos alunos na rede particular e apenas 0,7% dos alunos da rede pública.

No exame de 2007 a média de todos os alunos que estudaram em escola pública na prova objetiva foi de 49,2 , enquanto os que cursaram apenas na rede privada foi de 68,0 . Na prova de redação a diferença foi menor , de 55,3 das escolas públicas para 62,3 das particulares .

Em 2007 , Tocantins teve o pior desempenho entre as escolas públicas ( 50,16 e 41,32 , redação e objetiva ) e o Rio Grande do Sul teve o melhor desempenho ( 59,74 e 54,61 ) . Entre as escolas particulares o melhor desempenho foi da Bahia ( 65,59 e 67,84) e Distrito Federal ( 64,55 e 73,3) e o pior Roraima ( 59,52 e 56,2) . São Paulo ficou apenas em quarto lugar na prova objetiva em escolas particulares e 14º lugar na redação em escolas particulares . ( F S P , 24.11.2007 , p. C-6) .

Na verdade , mais do que o simples fato de estudar em uma escola pública ou particular , exercem influência fundamental a renda familiar , a escolaridade dos pais , o incentivo dado à educação em casa e principalmente a determinação do aluno em levar a sério os estudos e dedicar-se com afinco . Estudos do economista Naercio Menezes Filho indicammque 80% da diferença de desempenho entre escolas públicas e as privadas é explicável pelo status sócio econômico da família do aluno . Outros 10% são explicáveis pelo status dos colegas de ensino e apenas 10% restantes são atribuíveis à qualidade da própria escola . ( Veja, 7.11.2007 , p. 110) .

Os dados do ENEN cruzados com a renda familiar dos alunos mostram que existe uma correlação diretamente proporcional entre o desempenho na prova e a faixa de renda em salários mínimos . Quanto melhor a renda familiar, melhor a média na prova .

Nota média por tipo de escola freqüentada

Média parte objetiva Média na redação

2002 2003 2002 2003

Pública 30,39 44,8 52,10 52,8

Particular 47,22 64,2 63,03 64,4

Pública e part 36,77 52,3 56,42 56,7

Fonte : Ministério da Educação , in FSP 13.11.2002, p. C-1

Desempenho por tipo de escola em % em 2002

Escola Pública Escola particular Pública e particular

Objetiva Redação Objetiva Redação Objetiva Redação

Insuf a Reg. 84,5 18,7 37,6 5,3 66,3 12,3

Reg a Bom 14,8 73,6 53,3 68,3 31,0 74,0

Bom a Exc 0,7 7,8 9,2 26,4 2,7 13,7

Fonte : Ministério da Educação , in FSP 13.11.2002, p. C-1

O detalhamento dos resultados segundo outros indicadores demonstra a importância da família e das condições sócio econômicos no rendimento escolar . Assim , saíram-se melhores os de renda mais alta , de raça branca , e cujos pais tem melhor escolaridade

Enem 2003 Indicadores sócio econômicos e rendimento nas provas

Raça Redação Objetiva Renda Redação Objetiva Mãe Es Redação Objetiva

Branco 57,47 53,05 1 sm 44,48 37,85 Sem esc 47,83 38,80

Negro 52,15 44,13 1 a 2 51,41 42,22 1 a 4 s 51,80 43,20

Mulato 53,30 45,84 2 a 5 55,35 49,07 5 a 8 53,68 46,13

Amarelo 55,73 50,13 5 a 10 59,44 56,37 2 grau 58,18 53,31

Índigena 50,02 42,28 30 a 50 66,38 68,73 Superior 64,14 64,57

+ 50 65,70 68,47 Pós gradu 64,86 65,31

Fonte : MEC , in FSP 21.11.2003, p. C-1 .

Pesquisas de valor adicionado realizadas em Minas Gerais concluíram que 80% das pontuações no Provão são explicadas pelo que os alunos sabiam ao entrar no ensino superior . Portanto , somente 20% se devem á excelência da faculdade cursada , daí a importância da qualidade no ensino de segundo grau como preparação para o nível superior .

Além do Enem outros indicadores foram criados para medir a qualidade do ensino médio , o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica , que cruza notas da Prova Brasil e Saeb com a taxa de aprovação dos alunos , a Prova Brasil , único exame oficial que abrange alunos de 41.000 escolas públicas de ensino fundamental no país e o Saeb – Sistema de Avaliação da Educação Básica que é aplicado a uma amostra de estudantes de escolas públicas e particulares .



Enem 2007



Na lista de 4.830 escolas avaliada pelo Enem em 2007 , a melhor escola da rede estadual regular , ou seja, não técnica , colocou-se na 913ª posição , atrás de 849 particulares , 62 técnicas públicas e da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP . Nenhum colégio estadual regular alcançou a média da rede privada (64,1) e 71% tiveram média de exame menor do que 50% , entre as particulares , o índice foi de apenas 0,6% . Metade das escolas da rede pública do estado não alcançaram a média nacional da rede pública de 48,081 pontos . ( F S P , 27.05.2008 , p. C-4) .



Enem 2008



Conforme o Enem 2008 o Rio Grande do Sul tem a melhor rede pública do país , mas os alunos do estado não conseguiram acertar metade da prova , apenas 42,12 pontos em cem . O Distrito Federal é o melhor colocado com a média geral de 45,39 e com a rede privada com 61,90 .

Em último lugar ficou Alagoas , nas duas provas , com 31,76 pontos nos testes e 53,35 na parte escrita na rede pública .

Os alunos da rede pública tiveram desempenho 34% pior no Enem de 2008 em comparação com os da escola particular . A diferença foi de 18,8 pontos , 37,3 contra 56,1 .



Enem 2008

Média geral red. e prova Rede pública* Rede privada*

UF Nota posição Nota posição Nota

DF 45,39 2 41,11 1 61,90

RS 43,42 1 42,12 10 53,42

RJ 43,29 7 38,96 7 55,50

SC 43,13 3 40,43 6 56,92

SP 43,01 6 39,02 3 58,50

MG 42,69 4 39,61 2 60,12

ES 42,59 8 38,13 5 57,11

PR 42,33 5 39,43 4 58,21

GO 39,30 10 35,97 9 54,09

PE 38,71 15 33,75 11 49,95

MS 38,00 9 36,08 17 50,78

RN 37,14 14 33,78 14 53,28

MT 37,05 13 34,70 19 51,81

CE 36,28 17 33,27 12 50,69

RO 36,26 11 35,26 21 48,78

SE 36,05 21 33,02 13 45,67

BA 35,69 20 33,06 8 51,94

PB 35,66 18 33,24 18 47,66

PA 35,57 16 33,37 20 52,67

RR 35,56 12 35,03 27 50,48

PI 35,01 26 31,81 16 45,98

AC 34,32 19 33,18 23 55,34

AM 34,14 25 32,55 22 51,38

MA 34,08 24 32,56 26 48,02

AL 33,94 27 31,76 24 56,12

TO 33,65 23 32,67 15 45,20

AP 33,48 22 32,93 25 51,65

Fonte: Inep . * apenas prova objetiva . in F s P , 21.11.2008 , p. C-3 .



SAEB



O Saeb usa uma mesma escala de pontos para as três séries avaliadas , 4ª e 8ª do ensino fundamental e 3ª do ensino médio . Assim, se um aluno do 3º ano do ensino médio e um da 4ª série do ensino fundamental tirarem 175 pontos, significa que eles estão no mesmo nível de aprendizagem , por isso a escala é cumulativa , ou seja, espera-se que o estudante aumento o número de pontos com o passar das séries . .



Estudo divulgado pelo MEC em 2003 conclui que o nível de leitura e do aprendizado de matemática na maior parte dos alunos está entre o intermediário e o muito crítico . A maior parte dos alunos enquadrados no aprendizado " muito crítico" ( 96 a 98%) é da rede pública e está fora da idade adequada para a série que cursa . ( de 58 a 84% ) .



Situação ensino de português e matemática no Brasil 2001

Muito crítico Crítico Intermediário Adequado Avançado

4 ª série

22,21 / 12,53 36,76/ 39,79 36,16/ 40,89 4,42 / 6,78 0,43 / 0,01

8ª série

4,86 / 6,65 20,08 / 51,71 64,76 / 38,85 10,23 / 2,65 0,06 / 0,14

3 série médio

4,92 / 4,84 37,30 / 62,60 52,54 / 26,57 5,34 / 5,99 0

Fonte : dados do Saeb de 2001, analisados pelo Inep . FSP 23.04.2003, p. C-3 .

Os números de 2003 registraram pouca mudança .

Situação ensino de português e matemática no Brasil 2003

Muito crítico Crítico intermediário adequado

4ª série

18,7 / 11,5 36,7 / 40,1 39,7 / 41,9 4,8 / 6,4

8ª série

4,6 / 7,3 22,0 / 49,8 63,8 / 39,7 9,3 / 3,3

3ª série médio

3,9 / 6,5 34,7 / 62,3 55,2 / 24,3 6,2 / 6,9

Fonte : Saeb , 2003 .

Pesquisa realizada pelo Inep em dezembro de 2004 com dez grupos de pais de alunos do ensino fundamental de classes entre B e E , em Belém , Recife , Brasília , Rio e Curitiba , chegou à conclusão de que as escolas públicas do país são um espaço de “ transgressão e desordem “ e viraram “ terra de ninguém” . (F S P 20.01.2005 , p. C-3) .

Um das razões pelas quais as escolas brasileiras estão nesta situação é que inexiste no país punições ou bonificações para as escolas de acordo com o desempenho de seus alunos . Por exemplo no estado americano do Texas , se os resultados da escola no exame nacional forem ruins , a escola precisa explicar ao Board Education as razões deste mau desempenho e encaminhar um plano de desenvolvimento . Se não melhorar é fechada e o aluno tem direito de pedir transferência para outra escola . Já as escolas que tem pelo menos 90% de seus alunos aprovados ganham prêmios anuais . Nada disto existe no Brasil .

Na pesquisa Pulso Brasil , feita pelo Instituto Ipsos , os pesquisadores abriram um mapa-mundi na frente dos 1000 entrevistados em setenta municípios das nove regiões metropolitanas e lhes pediram que indicassem onde ficava o Brasil e somente metade acertou . Ou seja é muito grande o analfabetismo geográfico de parte significativa da população . Para 2% o Brasil fica na República Democrática do Congo, para 2% na Argentina e 1% no Chade . Na pergunta onde ficam os EUA , 82% não sabem , para 4% ficam na Rússia, 7% no Canadá , 2% na Groelândia . Onde fica a Argentina ? , 84% não sabem , 5% fica na Bolívia , 3% no Peru , 2% na Austrália e 2% no México . Onde fica a França?, 97% não sabem , 3% fica na Groelândia, 2% na Ucrânia , Arábia Saudita e Argélia . Onde fica o Japão? , 92% não sabem , 7% fica na Austrália , 4% na Indonésia ou Groelândia, 3% na China e 2% na Rússia .O conhecimento dos países não é uma cultura inútil , pois sem ele o indivíduo não tem condições de reconhecer o mundo que o cerca e entendem as relações de poder e econômicas entre as nações . Trata-se de uma imperdoável falha de ensino nas escolas . ( Veja, 7.11.2007 , p. 108-109 ) .



Saeb 2005



Os dados do Saeb de 2005 são estarrecedores . Os dados para o Brasil ., considerando os alunos que estão na terceira série do segundo grau apenas 22,2 % estão com nível adequado , 44,9% tem nível equivalente à oitava série e 15,6% tem nível equivalente à quarta série . ( F S P , 1.10.2007 , p. C-1) .

Segundo dados do Saeb 2005 , quase a metade dos estudantes do Estado de São Paulo termina o ensino médio com conhecimento em escrita e leitura esperados para um aluno de oitava série . Cerca de 43,1% dos alunos tiveram notas inferiores a 250 em uma escala de 425 , patamar fixado para a oitava série . Outros 15,2 % dos alunos tiveram desempenho ainda pior ao desejado para crianças da quarta série do ensino fundamental , ou seja menos de 200 pontos . ( F S P , 1.10.2007 , p. C-1) . .



Saeb 2007



As notas no Saeb de 2007 melhoraram , mas ainda não recuperaram o patamar de 2005 . Somente na prova de matemática na 4ª série , a média dos estudantes de 2007 – 193, foi superior à média dos estudantes de 1995 – 191 . e em Matemática e Língua Portuguesa as médias vem melhorando desde 2001 , o que pode sugerir uma tendência desta geração que posteriormente vai se refletir nas médias de oitava série e no nível médio . Em todas as demais as notas de 2007 foram insuficientes para recuperar o patamar de 1995 .( F S P , 13.06.2008 , p. C-7) .



Saeb 1995 – 2005 notas de Matemática e Língua Portuguesa

1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007

Matemática

4 série F 191 191 181 176 177 182 193

8 série F 253 250 246 243 245 240 247

3 série M 282 289 280 277 279 271 273

Língua Portuguesa

4 série F 188 187 171 165 169 172 176

8 série F 256 250 233 236 232 232 235

3 série M 290 284 267 262 267 258 261







IDEB



Os testes do Saeb e da Prova Brasil são correlacionados com o percentual de aprovação em cada nível de ensino , resultando no Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica .

Em uma escala de zero a dez , o ensino fundamental brasileiro da 1ª à 4ª série teve nota 4,2 em 2007 , para 3,8 em 2005 . Da 5ª a 8ª série a nota foi 3,8 para 3,5 em 2005 e da 1ª à 3ª série do ensino médio de 3,5 para 3,4 em 2005 . A nota embora tenha melhorado é muito ruim .

A meta é chegar , apenas em 2021, às médias atuais dos países desenvolvidos de 6 na 4ª série, 5,5 na 8ª e 5,2 no ensino médio . Como os outros países continuam avançando , quando o Brasil chegar a estes números eles já estarão defasados .

Embora tenha havido uma melhora de 2005 para 2007 , os números são ainda muito ruins em comparação com 1995 , pois desde então houve uma piora nos indicadores educacionais ainda não revertida .

No ensino fundamental o avanço é coerente com outras avaliações do MEC , situação beneficiada pelo fato da quantidade de alunos neste nível estar estável e com tendência de diminuição por causa da queda da taxa de fecundidade e apenas menos de 3% da faixa etária de 7 a 10 anos está fora da escola desde 2002 .

Os dados do MEC mostram que , na 4ª série , apenas 739 escolas ( 2% do total) , e 54 municípios ( 1%), já atingiram ou superaram a meta de 6% .

Mas no ensino médio o aumento tímido de 3,4 para 3,5 só ocorreu devido a um aumento pequeno no percentual de estudantes aprovados , que passou de 77,2% em 2005 para 77,8% em 2007 . .A situação no ensino médio é mais complicada , pois 18% da população de 15 a 17 anos está fora da escola e outros 34% ainda estão no ensino fundamental.

Na 8ª série , apenas 189 escolas (0,7% do total ) e sete cidades conseguiram alcançar a meta de 5,5 para 2021.

Quando se analisa cada estado, dez não conseguiram atingir suas metas : Rio Grande do Sul, Piauí , Pernambuco , Rio, Alagoas , Goiás , Amapá, Pará , Espírito Santo e Sergipe . No caso dos três primeiros o índice ficou estável e nos sete últimos houve piora .

Um ponto positivo verificado em 2007 é o avanço significativo das notas da 4ª série no Nordeste que passaram de 2,9 para 3,5 , enquanto no mesmo período o índice do Sudeste variou de 4,6 para 4,8 . Com isso ocorreu uma diminuição das desigualdades regionais , com a distância entre as duas regiões caído de 1,7 para 1,3 ponto .

O Estado de São Paulo aparece nos resultados do Ideb , sempre no grupo de quatro melhores unidades da federação, mas estes resultados decorrem dos elevados índices de aprovação dos alunos , que em parte é explicado pela política de aprovação automática que vale até a oitava série , onde a reprovação só ocorre em casos excepcionais . Por exemplo na oitava série do ensino fundamental , São Paulo apresenta apenas a oitava maior média nas provas de português e matemática , mas o percentual de aprovação é de 89% e quando se soma os dois fatores e se calcula o Ideb , São Paulo fica em primeiro lugar . Já no ensino médio , onde a aprovação não é automática , São Paulo fica em quarto lugar .

Em todos os níveis de ensino , as particulares vão melhor . Na 4ª série o Iden delas é de 6,0 , ante 4,2 da escola pública . Na 8ª série os índices são respectivamente de 5,8 e 3,5 . No ensino médio ficam em 5,6 e 3,2 . ( F S P , 21.06.2008 , p. C-6) .

Segundo o ministro da Educação , Fernando Haddad “ não só houve uma resistência enorme como uma incredulidade se o MEC teria coragem de fazer [ os resultados individualizados por escola e por município desde 2005 ] e divulgar metas” .

A divulgação permite às escolas um diagnóstico mais preciso de seus problemas e passam a se preocupar mais com o que é cobrado nos exames nacionais . ( F S P , 12.06.2008 , p. C-5) .



MANIPULAÇÃO NO IDEB



Seiscentos e setenta e quatro municípios brasileiros conseguiram melhorar ou manter seu Ideb de 2005 a 2007 , única e exclusivamente por causa do aumento nas taxas de aprovação . Nessas cidades , o desempenho dos alunos nos testes de matemática e português caiu ou ficou estagnado , mas foi compensado pelo aumento , em alguns casos surpreendentes , na aprovação em dois anos .

Esses municípios representam 16% dos avaliados pelo MEC no primeiro ciclo do ensino fundamental ( da primeira à quarta séries) . Em outros 2.497 (58%), a aprovação também contribuiu para melhorar a nota, mas não foi o único fator . A taxa de aprovação em alguns municípios chegou a dobrar ou atingir o patamar de 100% .

O movimento Todos pela Educação analisou esta situação apenas nas capitais e identificou nove cidades no primeiro ciclo do ensino fundamental ( Rio Branco, Macapá, Goiânia , Teresina, Fortaleza , Maceió , Vitória , Rio de Janeiro e Porto Alegre ) , e sete no segundo ciclo ( Manaus , Boa Vista , Fortaleza , Goiânia , Aracaju, Rio de Janeiro e Porto Alegre) , onde o Ideb aumentou , mas houve piora no desempenho em Português e Matemática .

Naturalmente este expediente tem limites pois na próxima avaliação não haverá mais espaço para o aumento da aprovação e o Ideb poderá estagnar ou piorar pelo desempenho de alunos aprovados sem capacidade . ( F S P , 3.11.2008 , p. C-1) .



ENCCEJA



Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos foi criado em 1995 para avaliar as pessoas que concluem o antigo supletivo nos níveis fundamental ( antigo 1º grau) e médio ( 2º grau) .



SARESP - ESTADO DE SÃO PAULO



Aplicada em São Paulo desde 1996 abrange um universo de 2 milhões de estudantes .. O Estado de São Paulo decidiu definir objetivos concretos para as escolas atingirem como , ainda, uma expressiva melhora no nível das aulas será premiada bônus de até três salários a mais por ano para cada funcionário . No ultimo exame os alunos da 8ª série do ensino fundamental das dez melhores escolas tiraram nota 7,2 em matemática , contra 3,3 da média das outras escolas . Das dez melhores escolas apenas uma fina na Grande São Paulo , em Embu-Guaçu e todas elas apresentam em comum uma fórmula simples como diretores dispostos a encontrar soluções caseiras para a crônica falta de dinheiro , professores bem treinados , prédios sem luxos, mas bem cuidados , incentivos variados á leitura e pais participantes da vida escolar.

Estudo feito pelo americano Eric Hanushek , doutor em economia da Universidade Stanford , que calculou o efeito das várias medidas para melhorar o nível de ensino , entre elas o aumento do salário dos professores e concluiu que nenhuma outra produz tanto impacto positivo quanto um sistema de cobrança de resultados e premiação ao mérito . ( Veja, 5.12.2007 , p. 121-122) .



SARESP 2007



Os resultados do Saresp 2007 apontam uma situação “trágica” no ensino de matemática nas escolas públicas de São Paulo : mais de 80% dos alunos não atingiram os conhecimentos esperados pela própria Secretaria da Educação .

Cerca de 80,8% dos alunos da 4 série do ensino fundamental , 94,6% da 8ª série e 95,7% da 3ª série do ensino médio estão abaixo do adequado em matemática .

Cerca de 59,8% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental , 69,2% da 8ª série e 78,8% da 3.ª série do ensino médio estão abaixo do adequado em português .

Apenas 4,3% dos estudantes do 3.º ano do ensino médio atingiram o patamar desejável no exame de matemática .

A maioria dos alunos do 3º ano do ensino médio tiveram as maiores dificuldades e não conseguiram representar uma fração em percentagem , por exemplo que ½ equivale a 50% , uma conhecimento primário em matemática .

Em português as notas melhoraram em relação ao exame de 2005 . Na 8ª série do ensino fundamental , a nota passou de 228,4 em 205 , para 242,6 em 2007 em um total de 425 pontos . A cada dez pontos significa que os alunos ganharam um ano de aprendizagem . ( F S P, 14.03.2008 , p. C-1) .



IDESP - ESTADO DE SÃO PAULO



O Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo foi criado em 2008 e define notas para as escolas e metas para cada uma até 2.030 . A meta é definida , ano a ano, para cada escola da rede estadual . Usa o Saresp e o fluxo escolar . No Idesp de 2008 , apenas 7 das 5.183 escolas estaduais obtiveram nota de país desenvolvido .

Conforme assinala Gustavo Ioschpe , “ a ojeriza à meritocracia em nossas escolas vem sob a desculpa de que a competitividade pode causar profundos danos à psique das crianças . Um sistema educacional como o chinês , em que os melhores alunos de cada sala são identificados publicamente – em algumas escolas , através do uso de lenços coloridos – e , posteriormente transferidos às melhores escolas , desperta em nossos professores os seus instintos mais primitivos . Frequentemente ouve-se que sistemas assim levam as crianças ao suicídio , depressão , etc. É a senha para que criemos uma escola inclusiva , afetiva, que cria seres felizes e éticos . É uma empulhação sem tamanho ... Qual a sociedade que produz menos violência e infelicidade : aquelas em que os alunos brincam ou aquelas em que estudam? “ . ( Veja, 3.9.2008, p. 98) .



PROVA SÃO PAULO – MUNICÍPIO DE SÃO PAULO



Realizada pela primeira vez em 2007 , verifica os conhecimentos dos estudantes da rede municipal em português e matemática , onde a aprovação é automática até a 4ª série . Também é feito um questionário para alunos , pais , professores e diretores . A prova em 2007 mostrou que 29% dos alunos da 2ª série , tem um nível de aprendizagem considerado “crítico “, nas duas disciplinas . Perto de 15% dos alunos da segunda série não tem idéia de como funciona a íngua portuguesa.



O EXEMPLO DO CEARÁ



Um grupo de escolas particulares de Fortaleza no Ceará , que reúnem 25.000 estudantes dos ensinos fundamental e médio conseguiu a proeza de ocupar 30% das vagas nos últimos cinco vestibulares do ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica . Nas olimpíadas nacionais de física , química e matemática , dos 670 alunos que receberam medalhas em diferentes competições , 260 , ou 40% eram do Ceará .

O motivo deste excepcional desempenho em ciências exatas é a a priorização da qualidade do ensino . A carga horária reservada às disciplinas de exatas é 25% maior do que a média brasileira . A jornada de estudos é de sete horas , que pode se ampliar com aulas extras de xadrez e gincanas de matemática , cerca de 60% dos professores e diretores com mestrado ou PhD , a meritocracia com os melhores alunos alçados às prestigiadas “classes olímpicas” , o espírito de competição com a participação freqüente em olimpíadas de ciências dentro e fora da escola , as aulas práticas em laboratórios bem equipados e bibliotecas com boa coleção de publicações científicas estrangeiras . Tal conjunto tem como resultado o que a estudante Jéssica Fernandes , 18 anos , resumiu em poucas palavras “ Sabe o que pé contar os minutos para uma aula começar? ( Veja, 19.11.2008 , p. 73) .





QUALIDADE DE ENSINO A RESPONSABILIDADE DAS ESCOLAS



No final de 2002 o professor Nilton Ismael Rosa lecionava história no Centro de Ensino Médio Setor Leste , prestigiada escola pública de Brasília .

No final da terceira série do segundo grau, prestes a prestar vestibular , o professor pediu em uma prova que os estudantes citassem , dois acontecimentos que contribuíram para a queda da monarquia no Brasil . Um dos alunos respondeu textualmente “ Monopolo brigaro , a queda cafeeira, camada acima briga dos grandes fasendero por que suas riquezas era concentrada poriso teve conflitos no Brasil .

Pediu-se também aos estudantes a diferença entre democracia e ditadura . A resposta de outro pré-vestibulando foi : “ A democracia é um objetivo que o ser humano luta para obter fazendo o possive e dano o melhor de si . A ditadura é algo cero que exigem responsabilidade autoridade . ( sic)

Os dois alunos foram reprovados pelo professor e aprovados pelo Conselho de Classe da Escola e com eles , outra meia centena de estudantes com média final abaixo de 4.

O professor Ismael Rosa pediu a anulação da decisão do conselho integrado por todos os professores da escola . Desatendido , pôs a boca no mundo . Transferido de escola , foi à justiça . Em decisão liminar , foi devolvido ao colégio , sob protestos de colegas de magistério . A secretária de Educação de Brasília , Maristela de Neves Melo Mendes , sobre os alunos diz” Deveriam ter sido reprovados muito antes . Mas qual seria o objetivo de retê-los no terceiro grau se a gente não tem como dar a eles toda a escolarização de novo? Pode ser que o conselho de classe tenha avaliado essas condições . “ Segundo a secretária , o desastre educacional de Brasília foi agravado por fracassos registrados entre 195 e 1999 . Um deles se chamava “ escola por ciclos “ . Em 80 escolas públicas, as turmas foram divididas por faixas etárias . Crianças de seis , sete e oito anos , por exemplo, freqüentavam a mesma sala. A aprovação era automática . Alunos fracos eram aglomerados em “classes de reintegração” . Em 1999 , havia 27 mil crianças sob regime de “reintegração” . Estavam analfabetos , com três , quatro anos de escola .” Interrompida em 2.000 , a experiência deixou seqüelas . Os “analfabetos” foram mantidos no estágio em que se encontravam , entre a 3ª e a 5ª séries . Esse descalabro todo acontecendo em Brasília , a capital federal do país e ocupando no último censo do MEC o topo do ranking em qualidade de ensino no país . ( Josias de Souza, F S P , 24.08.2003, p. A-19) .



VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS



O caso da escola estadual Amadeu Amaral em São Paulo é um claro exemplo da falência total do modelo educacional adotado pela Secretaria da Educação de São Paulo . A escola ocupa um prédio amplo , tombado pelo patrimônio histórico e é uma das 500 escolas em que foi implantado o regime de turno integral , os alunos entram às 7h e saem às 16 horas . A escola em novembro de 2008 tinha apenas 277 alunos e 63 professores , portanto deveria ser um modelo de qualidade de ensino .

Porém, em 12 de novembro de 2008 a polícia militar foi chamada pela direção da escola para acabar com um tumulto que começou ás 10h20 quando, sem motivo , 30 alunos começaram a destruir a escola . “Meninos embrulhavam os pulsos em camisetas para estourar os vidros com socos . Cadeiras foram arremessadas do 2º andar , depois de arrebentar as janelas”, contou uma aluna da 7ª série . Dez minutos depois de iniciada a depredação , duas adolescentes começaram uma briga violenta de unhadas e puxões de cabelos , a destruição se propagou por todo o prédio e professores , com medo, trancaram-se em uma sala de aula . No dia 10 de novembro , as aulas já tinham sido encerradas às 11 horas , por causa de outro surto de vandalismo , vidros e carteiras quebradas . Cerca de 20 PMs chegaram e oito entraram na escola armados de tonfas , espécie de cassetete e conseguiram controlar a situação em cinco minutos , aos berros . ( F S P , 13.11.2008 , p. C-1) .

Pesquisa feita pelo Udemo em abril de 2008 revela que 86% de um total de 683 escolas estaduais entrevistadas relataram algum tipo de violência ocorrido em 2007 . O sindicato enviou o questionário para 5.300 escolas , mas apenas 683 responderam . Pesquisa feita pela Apeoesp em 2006 revelou percentual semelhante , 87% dos professores entrevistados revelaram saber de casos de violência ocorridos em sua escola . Violência verbal em 96% dos casos , vandalismo em 88,5% , agressão física em 82% , furto em 76% , assalto á mão armada em 18% , violência sexual em 9% , e assassinato em 7% .

Segundo o professor Sérgio Kodato , coordenador do Observatório de Violência e Práticas exemplares da USP de Ribeirão Preto “ A violência é fruto da decadência das instituições , principalmente das escolas públicas . As instituições são mecanismos civilizatórios criados para diminuir os conflitos sociais . E quando não cumprem o seu papel , vem á tona uma carga de violência . Pesquisas indicam que um terço dos alunos não sabe o que faz na escola .Um grupo grande de alunos não vê sentido na escola . Para esses , a escola virou um clube , um local para esportes , amigos e paquera . Têm ainda aqueles que freqüentam a aula , mas estão ‘boiando’ . Os chamados analfabetos funcionais . Além da degradação da infra-estrutura das escolas públicas , houve também uma perda de autoridade da figura do professor e do diretor . Você pode ver que os alunos confrontam, batem nos professores e não se intimidam . Hoje, mesmo que o aluno ponha fofo na escola , não acontece nada . No máximo uma transferência . Com a progressão continuada isso piorou . Deixou a escola pública e o professor completamente sem mecanismos organizadores . Não se reprova nem por freqüência, nem por nota . O professor não é avaliado . A escola não é avaliada . Digamos que o professor entregou os pontos .A sensação de impunidade cria um clima de livre-arbítrio, onde de pode tudo . ( F s P , 13.11.2008 p. C-3) .

Para Jorge Werthein e Miriam Abramovay ,” isso estpa enfraquecendo as relações de convivência entre alunos, professores e demais atores sociais que atuam nesse espaço escolar . Por causa disso está diminuindo de forma acelerada e alarmante , tanto para alunos quanto para professores , o desejo de ir á escola , que deixa de ser um espaço prazeroso . “( F S P , 20.11.2008 , p. A-3)



A IDEOLOGIZAÇÃO NOS CURSOS DE PEDAGOGIA



Para a antropóloga Eunice Durham , “ as faculdades de pedagogia formam professores incapazes de fazer o básico , entrar na sala de aula e ensinar a matéria . Mais grave ainda , muitos desses profissionais revelam limitações elementares : não conseguem escrever sem cometer erros de ortografia simples , nem expor conceitos científicos de média complexidade . Chegam aos cursos de pedagogia com deficiências pedestres e saem de lá sem ter se livrado delas . Minha pesquisa aponta as causas . A primeira , sem dúvida é a mentalidade da universidade , que supervaloriza a teoria e menospreza a prática . Segundo essa corrente acadêmica em vigor, o trabalho concreto em sala de aula é inferior a reflexões supostamente mais nobres . O objetivo declarado dos cursos é ensinar os candidatos a professor a aplicar conhecimentos filosóficos, antropológicos, históricos e econômicos à educação . Pretensão alheia às necessidades reais das escolas – e absurda , diante de estudantes universitários tão pouco escolarizados . “

Nas diretrizes oficiais para os cursos de pedagogia , “ entre catorze artigos , catorze parágrafos e 38 incisos apenas dois itens se referem ao trabalho do professor em sala de aula . Esse parece um assunto secundário , menos relevante do que a ideologia atrasada que domina as faculdades de pedagogia “ .

Essa ideologia atrasada se manifesta “ por exemplo na bibliografia adotada nesses cursos , circunscrita a autores da esquerda pedagógica . Eles confundem pensamento crítico com falar mal do governo ou do capitalismo ... Em vez de aprenderem a dar aula, os aspirantes a professor são expostos a uma coleção de jargões . Tudo precisa ser democrático , participativo , dialógico e naturalmente , decidido em assembléia .”

Os sindicatos estão preocupados com os direitos corporativos e não com a qualidade de ensino “ Entenda-se por isso : lutar por greves, aumentos de salário e faltas ao trabalho sem nenhuma espécie de punição . O absenteísmo dos professores é afinal , uma das pragas da escola pública brasileira . O índice de ausências é escandaloso . Um professor falta , em média , um mês de trabalho por ano e, o pior , não perde um centavo por isso “ .

“Os cursos técnicos de ensino superior , ainda desconhecidos da maioria dos brasileiros , formam gente mais capacitada para o mercado de trabalho do que uma faculdade particular de ensino ruim . Esses cursos são mais curtos e menos pretensiosos , mas conseguem algo que muita universidade não faz : preparar para o mercado de trabalho . É estranho como , no meio acadêmico , uma formação voltada para as necessidades das empresas ainda soa como pecado . As universidades dizem , sem nenhum constrangimento preferir ‘formar cidadãos’. Cabe perguntar , o que o cidadão vai fazer da vida se ele não puder se inserir no mercado de trabalho? “ . ( Veja, 26.11.2008 , p. 17-21) .



EDUCAÇÃO BRASILEIRA EM RELAÇÃO AO MUNDO



Se compararmos a educação brasileira , mesmo a da elite com a verificada em outros países a situação é bastante negativa . Estudo do pesquisador Creso Franco , da PUC RJ feito com base nos resultados do Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Alunos mostra que só 21% dos alunos da elite brasileira conseguiram notas que os colocavam nos níveis 4 e 5 de aprendizado que indica capacidade para interpretar textos com maior nível de complexidade e fazer análises críticas .

O estudo foi realizado com as notas do PISA 2000 , e considerou-se elite os 7% mais ricos entre estudantes de países em desenvolvimento e os 25% mais ricos de países desenvolvidos onde a elite é maior.

RESULTADOS COMPARATIVOS DO PISA ENTRE A ELITE

País %alunos aprendizado elevado % alunos muito

baixo aprendizado

Brasil 21 17

Coréia do Sul 55 1

Espanha 46 5

EUA 53 6

Rússia 33 9

França 57 3

México 27 9

Portugal 48 4

Fonte : F S P . 28.09.2002 , p. C-1



PISA 2003



O PISA – sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos é uma avaliação internacional aplicada pela OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico a alunos de 15 anos de idade . Participam dela os 30 países da organização , que reúne países desenvolvidos e outros que aderem á avaliação voluntariamente como tem feito o Brasil .

A cada edição , a ênfase do exame é em uma das três áreas avaliadas . Em 2000, foi leitura , em 2003 matemática e em 2006 ciências .

No Pisa realizado em 2003 o Brasil ficou em último lugar em Matemática , entre 40 países , em penúltimo em ciências , apenas à frente da Tunísia e em leitura apenas á frente do México , Indonésia e Tunísia . ( F S P 7.12.2004 , p. C-5) .

Relatório anual da Unesco “ Educação para Todos “ divulgado em outubro de 2006 coloca o Brasil na 72ª posição em um índice de desenvolvimento com 125 países que avalia o grau de cumprimento das metas traçadas na Conferência Mundial de Educação , realizada no Senegal em 2000 . O índice é divulgado desde 2003 e o que mais prejudica o desempenho do Brasil nesse índice são as altas taxas de repetência e evasão no ensino fundamental . Além deste são levados em conta a escolarização no ensino fundamental , a taxa de analfabetismo adulto e a igualdade de gênero na educação .O Brasil apresenta índice 0,905 considerado médio . Reino Unido , Eslovênia e Finlândia obtiveram o melhor desempenho , todos com índice de 0,994 . ( F S P 27.10.2006 , p. C-1) .

Outro estudo divulgado pela Unesco e a OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento feito em 40 países em três habilidades básicas : leitura , matemática e ciências em escolas públicas e privadas na faixa dos 15 anos. Na prova de leitura , os brasileiros ficaram em 37° lugar e em ciências em 39.° e matemática em quadragésimo . ( Veja, 15.12.2004 , p. 120) .

O Brasil ficou atrás de países como a Tunísia e a Indonésia . Em matemática , metade dos avaliados ficou abaixo do grau 1 , em uma escala de seis níveis , o que significa que não sabem nem somar , nem subtrair . Em ciências , os estudantes tiveram dificuldades em discernir os vários órgãos do corpo humano e em leitura não conseguiram reter , nem interpretar textos indicados nos primeiros anos escolares.



PISA 2006



Os resultados do PISA ( Programa Internacional de Avaliação de Alunos ), referentes a 2006 , divulgados pela OCDE ( Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico colocam os alunos brasileiros em 52ª posição no ranking de ciências, 53ª posição no teste de matemática e 48ª posição no de leitura , sendo que foram realizados exames em 57 países , com mais de 400.000 estudantes . Comparando com o exame de 2003, os alunos brasileiros pioraram em leitura , ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática .

O teste no Brasil foi aplicado a 9.292 alunos de 7ª ou 8º séries ou ensino médio de 625 escolas públicas e privadas , de 390 cidades no país .

Em ciências , o Brasil ( 390) ficou à frente apenas da Colômbia (388), Tunícia ( 386) , Azerbaijão( 382) , Qatar ( 349) e Quirguistão ( 322) e atrás de vários países da América Latina como Chile ( 438) , Uruguai ( 428) ,México ( 410) e Argentina ( 391) , ( F SP , 30.11.2007 , p. C-5) ,

O pior resultado aparece em matemática . Em uma escala que vai até seis , 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso, o que quer dizer que só conseguem responder questões com textos familiares e perguntas definidas de forma clara .Em matemática o Brasil ( 370 ) ficou à frente apenas da Colômbia ( 370) , Tunísia ( 365), Qatar ( 318) e Quirguistão (311) e atrás de vários países da América Latina como Uruguai ( 427) , Chile ( 411) , México ( 406), e Argentina ( 381) .

Em leitura , 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele , em uma escala que vai até cinco , o que significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples O Brasil( 393) ficou à frente apenas da Indonésia ( 393) , Montenegro( 392) , Colômbia ( 385) , Tunícia ( 380) , Argentina ( 374) , Qatar ( 312) e Quirguistão ( 285) e atrás de vários países da América Latina como Chile (442), Uruguai (413) e México (410) .

Em ciências , 61% tiveram desempenho até o nível um em uma escala que vai até seis . Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares . Noções básicas como as funções dos órgãos do corpo humano , o fato da Terra girar em torno do Sol , o que é a camada de ozônio e o que é “água potável” , são ignoradas pela maioria dos que responderam á prova .

Nos três casos , a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior que a média da OCDE , organização que congrega , em sua maioria , países ricos . A média geral do Brasil em matemática ficou em 370 pontos contra 498 pontos da média dos países da OCDE . e em leitura 393 pontos contra 492 dos países da OCDE . .

Os dados mostram que a Escola pública brasileira tem desempenho pior , mas a particular também não tem notas boas e a diferença entre a rede pública e privada no Brasil é a maior entre 35 países . ( F S P , 5.12.2007 , p. C-1)

Segundo Andréas Schleicher , coordenador do Pisa os estudantes brasileiros “ são estudantes que demonstram certa habilidade para decorar a matéria , mas se paralisam quando precisam estabelecer qualquer relação entre o que aprenderam na sala de aula e o mundo real ... Enquanto o Brasil foca no irrelevante , os países que oferecem bom ensino já entenderam que uma sociedade moderna precisa contar com pessoas de mente mais flexível . Elas devem ser capazes de raciocinar sobre questões das quais jamais ouviram falar , no exato instante em que se apresentam . “ Por postura ultrapassada das escolas ele destaca “ a divisão do conhecimento por áreas estanques e incomunicáveis . O outro é o treinamento para a execução de tarefas repetitivas .”

Ele assinala “ fico perplexo com o fato de a neurociência , área que já permite observar o cérebro diante de diferentes desafios intelectuais ser tão ignorada pelos educadores . “

A China terá em 2015 , duas vezes mais diplomados universitários do que a Europa e os EUA juntos . Como demonstração da preocupação com a qualidade da educação ele cita o que presenciou na Coréia do Sul : “ Enquanto os estudantes faziam a prova para o ingresso na universidade , as principais avenidas de Seul ficaram fechadas para o tráfego . Quando perguntei ao funcionário do Ministério da Educação a razão daquilo , ele respondeu com naturalidade : ‘Estudo exige silêncio . Que os motoristas esperem ‘” . ( Veja, 6.8.2008 , p. 17-21) .

Pesquisa encomendada pela revista Veja à CNT/Sensus em 2008 revela que 89% dos pais com filhos em escolas particulares , consideram que o dinheiro é bem gasto e tem bom retorno e 89% dos professores se consideram bem preparados para a tarefa de ensinar . Como , de acordo com os testes globais dos quais o Brasil participa , o ensino no Brasil é péssimo , o país está formando alunos despreparados para o mundo atual , competitivo, mutante e globalizado ,então alguma coisa está profundamente errada na visão de pais e professores . ( Veja, 20.08.2008, p. 74) .



BIRD 2008



Segundo estudo divulgado pelo Banco Mundial , no Brasil a oferta de serviços básicos para crianças é pouco superior à média da América Latina . A entidade criou o Índice de Oportunidades Humanas , que analisa fatores de ensino e de moradia ( acesso a água, energia e saneamento ) .

Considerados apenas os indicadores educacionais , o Brasil ficou em 15º lugar entre 19 países , atrás de Bolívia , Peru e República Dominicana . Os mais bem posicionados foram Chile, Jamaica e Argentina .

Foram analisados o número de alunos que terminam a sexta série na idade correta e a quantidade de crianças entre 10 e 14 anos na escola . Na escala de 0 a 100 , o Brasil tirou 67 no indicador de educação .A média da região foi 76 . Já na nota que condensa tanto fatores educacionais quanto de moradia , o país subiu para décimo, com nota 72 . A média da região ficou em 70 .

De acordo com o estudo , “ o Brasil está perto do acesso universal à eletricidade, a meio caminho no saneamento e tem muito a fazer na educação “.

Na área de educação , o Brasil teve um desempenho ruim na quantidade de crianças na série compatível com a idade : foi melhor apenas que Nicarágua e Guatemala . Em relação ao número de jovens na escola o Brasil ficou na terceira posição . ( F S P , 3.10.2008 , p. C-6) .



BID 2008



Segundo estudo do BID divulgado em outubro de 2008 , de cada cem brasileiros de 15 a 19 anos , 72 não estão preparados para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho . A mesma conta foi feita em outros cinco países da região : Peru ( 85% ) , México ( 65) , Uruguai (59) , Chile ( 53) e Argentina ( 53) e o Brasil só não foi pior do que o Peru .

O estudo levou em conta não só o percentual de jovens sem ensino fundamental completo , mas também aqueles que , mesmo concluindo este nível , tiveram uma educação de péssima qualidade .

Dos 57% que fizeram o fundamental , o estudo estima que metade teve uma educação de baixa qualidade , já que 50% dos alunos brasileiros que fizeram a prova do Pisa não passaram do nível 1 de aprendizado mais baixo .

O que surpreende no caso dos países latino-americanos , incluindo o Brasil é que , mesmo tendo níveis baixos de qualidade de ensino , a população avalia de forma positiva a educação , fenômeno classificado no estudo como “satisfação excessiva” .

No caso brasileiro , cerca de 64% da população disse estar satisfeita com a educação . No Paraguai este percentual chega a 75% , maior do que o do Japão que é de 70% .

Uma explicação para este paradoxo está na baixa escolaridade dos pais que tendem a avalia positivamente qualquer avanço dos filhos, ainda que apenas formal . A tendência é este índice diminuir no futuro , com a maior escolarização das novas gerações . ( F S P , 29.10.2008 , p. C-4) .



QUALIDADE DE ENSINO O CONSENSO MUNDIAL



Para o americano Eric Hanusek , doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts e professor da Universidade Stanford,. “ os dados demonstram que a influência da educação passa a ser decisiva apenas quando ela é de bom nível . Ai, sim , consegue empurrar os indivíduos e a economia . Países capazes de proporcionar bom ensino a muita gente ao mesmo tempo , elevam o padrão de sua força de trabalho . Quando uma população atinge alta capacidade de raciocínio e síntese , torna-se naturalmente mais produtiva e capaz de criar riquezas para o país . ( Veja, 17.09.2008, p. 22) .

Saiu em 2008 , estudo da consultoria McKinsey, coordenador pela egípcia Mona Mourshed, doutora em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) e estudiosa das reformas educacionais em dezenas de países .

Uma equipe comandada por ela, durante um ano , visitou 120 escolas em vinte países , os que apresentam os melhores resultados com educação , como Cingapura, Coréia do Sul e Finlândia . O resultado foi a seleção de práticas comuns , que deram certo nestes países , todas testadas em sala de aula e que como poderá se ver a seguir , não são praticadas no Brasil .

O estudo fez também uma comparação do volume de investimento em educação feito por diversos países , com os resultados obtidos . Os dados mostram que , países com um aumento significativo de gastos como os da OCDE ( Bélgica,Reino Unido,Japão, Alemanha,Itália, França, Nova Zelândia e Austrália) , não apresentaram melhora nos resultados .Isso foi verificado também nos EUA . Conclui-se que os bons resultados na educação não estão exclusivamente relacionados ao gasto na área . Naturalmente nestes países a estrutura de ensino já é de excelente nível o que não é o caso do Brasil .

Outro ponto importante que o estudo mostrou é que o processo de aprendizagem começa antes mesmo de a criança entrar na escola e fica claramente evidenciado que o número de palavras ouvidas pelas crianças até os quatro anos irá impactar fortemente a sua formação posterior .



1. SÓ OS MELHORES ENSINAM



Poucos fatores influenciam tanto a qualidade de ensino quanto o nível de seus professores, daí a relevância de recrutar os mais talentosos .

A conclusão geral é a de que a qualidade de um sistema educacional não pode ser maior do que a qualidade dos seus professores .

Países como a Coréia do Sul e Finlândia , criaram seleções para o magistério tão rigorosas quanto as de uma grande empresa . A triagem começa antes de entrar no curso superior . Só podem concorrer a uma vaga nas faculdade de educação , os 10% com as melhores notas .

Na Coréia do Sul, primeira colocada no ranking de leitura no Pisa 2006 , exige que os que vão trabalhar no magistério obrigatoriamente devem estar entre os 5% melhores e um exame nacional para ingresso no ensino superior . Na Finlândia , são apenas os que estão entre os 10% melhores e em Cingapura, entre os 30% .

É preciso ainda passar por provas , entrevistas e aulas demonstrativas devidamente avaliadas por especialistas . Com tantos filtros na entrada , não se desperdiça tempo, nem dinheiro na formação de gente sem talento , a qualidade do curso aumenta e a carreira de professor , naturalmente ganha novo status .

Levantamento feito pela Fundação Lemann e pelo Instituto Futuro Brasil , mostra que apenas 5% dos melhores alunos que se formam no ensino médio desejam trabalhar como docentes de educação básica . Os pesquisadores selecionaram como “top” , o grupo dos que ficaram entre os 20% mais bem colocados no Enen 2005 . Destes 31% querem a área de saúde e 28% engenharia, 37% carreiras ligadas a humanas e apenas 5% ser professor . Com base nos questionários do Enade , o estudo identificou que os alunos de pedagogia vêm de famílias de baixa renda e têm mães de pouca escolarização – condições que apontam maiores chances de dificuldades acadêmicas. ( F S P , 9.6.2008 , p. C-1)

No Brasil , ao invés de preocupar-se em ensinar adequadamente cada ponto da matéria , o que significa conhecer muito bem o que se pretende ensinar , os professores aprofundam-se em estudos sobre teorias pedagógicas que se esmeram em procurar mostrar qual a maneira correta para o aluno aprender .

Para o americano Eric Hanusek , doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts e professor da Universidade Stanford, de todos os fatores numa escola, certamente o que mais explica a excelência na sala de aula diz respeito á capacidade dos professores de despertar a curiosidade intelectual dos alunos e lhes transmitir conhecimento . ( Veja, 17.09.2008, p. 22) .

O Teach of America , programa ligado a uma fundação sem fins lucrativos , de mesmo nome , recruta alunos das melhores universidades dos EUA para dar aulas em escolas públicas de mau ensino . Os jovens professores são tratados como “CEOs da sala de aula “ , e monitorados por tutores, obedecem a metas de desempenho e prestam conta dos resultados alcançados pelos alunos .

Um estudo americano recente mostra que , em relação a um docente de padrão mediano à frente da classe , tais professores conseguem melhorar em até três vezes o desempenho de um mau aluno .

Depois de uma temporada no comando de uma classe de crianças , os jovens costumam ser automaticamente recrutados por empresas como o JP Morgan e a consultoria McKinsey, e as universidades de Harvard e Yale . Não só ocupam boas vagas como também negociam contratos mais vantajosos que incluem , nas empresas ,a presença de um tutor no início da carreira e, nas universidades , bolsas de estudo entre outras regalias . ( veja, 15.10.2008 , p. 98-100 ) .



2. PARA CADA ESTUDANTE DE PEDAGOGIA, UM TUTOR .



Para se formar no curso de magistério o aluno é obrigado a entrar em uma sala de aula na função de professor . Mas não é um estágio comum. Os universitários são acompanhados por tutores, professores experientes cujo papel é orientar os novatos do momento em que sentam para planejar uma aula até quando corrigem a lição . Avaliam também o desempenho dos aspirantes à função , e corrigem eventuais falhas . A decisão de criar esta função , tomada por governos de diferentes países , ajudou a elevar o nível dos professores recém-formados . Deu tão certo que em alguns lugares tais profissionais já são figuras permanentes nas escolas , caso da Inglaterra . Lá eles não apenas dão consultoria aos principiantes, como avaliam , diariamente , o nível geral de ensino.

Esta função não existe no Brasil . Nos cursos de educação o aluno deve fazer um estágio , mas isto fica à sua escolha e no caso de ser feito em sala de aula, consiste em apenas assistir aulas dadas por um professor .



3. TORNAR ATRAENTE A CARREIRA DE PROFESSOR



O baixo retorno financeiro e o reduzido status social do magistério afugenta os interessados mais qualificados . Segundo Roberto leão , presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação “ Como a profissão é desprestigiada , a maioria daqueles que escolhem para trabalhar como professor o faz porque o curso superior na área é mais fácil de entrar , barato e rápido . O pobre , que estuda no caos que é hoje a escola pública , vê na pedagogia uma das poucas opções possíveis de chegar ao ensino superior . Muitos não escolhem a carreira por vocação , mas , sim , porque é onde dá para entrar . É preciso tornar a carreira mais atrativa , para o pobre e para o rico “ . ( F S P , 9.6.2008 , p. C-1) .

O salário inicial dos professores foi igualado ao de outras carreiras e com isso houve um substancial aumento na procura por faculdades de educação . Em países como a Coréia do Sul e Cingapura , isso foi feito sem aumentar os recursos para a educação , mas apenas aumentando o tamanho das classes , pois 112 estudos demonstraram que classes maiores não prejudicam o ensino de maneira significativa . Segundo os pesquisadores , “ as variações da qualidade dos professores superam totalmente qualquer efeito da alteração do tamanho das classes .

Com essa medida foi possível diminuir o número total de professores e pagar melhor a todos . Complementarmente esses países implantaram sistemas meritocráticos , nos quais os melhores ganham mais dinheiro e responsabilidade e podem subir na carreira exercendo funções de supervisão , como a de “consultor de currículo”, tão prestigiada quanto a de diretor de escola .

Com essas medidas , os melhores alunos passaram a se motivar para procurar as faculdades de educação .

Para o americano Eric Hanusek , doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts e professor da Universidade Stanford, “ o método mais eficaz , sem dúvida , é aderir à meritocracia . Entenda-se por isso oferecer incentivos financeiros e carreira atraente a quem merece . E fácil identificar ao mais eficientes . São aqueles que, ao término do período escolar , conseguiram melhorar o desempenho de seus alunos em relação ao patamar do qual partiram no início do ano . ( Veja, 17.09.2008, p. 23) .



4. MBA PARA DIRETORES



Regra geral encontrada pela pesquisa é que quanto mais eficiente o diretor da escola , melhor o nível de ensino na unidade. Por isso , países de educação exemplar se empenharam em encontrar uma fórmula para chegar aos melhores e treiná-los para exercer a função . Os que se candidatam ao cargo de diretor só podem exercer a função depois de passar por uma espécie de MBA . Durante seis meses, freqüentam cursos para aprender técnicas elementares de gestão e fazem estágio em grandes empresas , nas quais observam os métodos aplicados por executivos . Em Cingapura, o candidato a diretor é obrigado a se internar em uma multinacional , como a HP e a IBM , e provar, por meio de avaliações , ter aprendido a traçar metas, cobrar resultados e estimular uma equipe.

A Escola deve ter forte liderança do diretor . Ele manda . Deve ser um gerente , estando livre para tomar as medidas necessárias para a escola alcançar os objetivos propostos .



5. AUDITORIA NA SALA DE AULA



Além de monitorar a qualidade do ensino por meio de critérios objetivos , por exemplo em exames nacionais é feito nestes países e no Brasil , mas eles foram além . especialistas tem a tarefa de inspecionar periodicamente a escola para produzir avaliações sobre o ensino das escolas . Durante as visitas , assistem às aulas , entrevistam alunos e professores e observam o estado de conservação do prédio . Das auditorias resultam não apenas relatórios , mas recomendações bem práticas como mudar os rumos de uma disciplina ou até trocar um diretor ineficiente . Por exemplo em Nova York os diretores podem ser demitidos caso não dêem mostras de estar à altura do cargo .

Boas escolas devem ter clara percepção dos objetivos que pretendem alcançar , poucas metas , quantificadas, que não mudam de uma hora para outra e são compartilhadas por todos .



6. CURRÍCULO OFICIAL



Em todos os países de ensino exemplar adotou-se um bom currículo oficial . Isso significa aquele cujas metas de aprendizado são claras e exigentes . Com o currículo é possível ter objetivos definidos a alcançar no ensino e um instrumento para aferir o nível dos alunos diante de expectativas concretas . Uma certa flexibilidade do currículo só é recomendável quando o país já tiver enraizado a cultura do bom ensino .



7. REFORÇO ESCOLAR COMO PARTE DO ENSINO



Os países concluíram que o ensino só é bom quando todos aprendem com qualidade . A decisão de formar bem a todos os alunos tem uma forte justificativa financeira . Cada aluno que repete custa em torno de US$ 20.000 a mais para os cofres públicos . Portanto , custa mais barato oferecer reforço escolar . No Brasil este problema em alguns Estados como São Paulo foi enfrentado da pior forma possível. Se os alunos não conseguem notas para passar de ano , simplesmente elimina-se a repetência , tornando a aprovação automática dentro dos ciclos .

Porém , o reforço escolar adotado nos países de boa qualidade de ensino é bastante diferenciado . Em cada escola há professores especialmente designados para dar as aulas particulares . Estes mestres ganham mais e têm boas condições de trabalho : são treinados durante um ano para a função e ainda contam com a ajuda de psicólogos para lidar com os casos mais difíceis . Cerca de 30% dos alunos em média freqüenta as aulas de reforço .( Revista veja, 18.06.2008 , p. 128-130) .



ESCOLA É PARA ESTUDAR E NÃO PARA SE DIVERTIR



No Brasil a pedagogia contemporânea passou a preocupar-se em demasia com o fato de que as crianças devem gostar da escola . A satisfação com a escola colocou em segundo plano a questão central que é a aprendizagem . Conforme assinala Cláudio de Moura Castro “ Na Europa , os meninos vão à escola para estudar , não para gostar da escola . Há um currículo a ser cumprido, e a última pessoa a ser perguntada se gosta ou não do currículo é o aluno. Há uma pressão do processo educativo e uma pressão social para que aquele currículo seja cumprido . O espaço social do aluno não inclui a liberdade de ser malandro . O preço do fracasso é altíssimo . O sistema social e econômico impõe valores que não estão em discussão , enquanto o sistema americano , com seu grau de individualismo maior , tende a oferecer ao aluno o que ele espera da escola . Aí é que se produzem os chamados analfabetos funcionais . “ ( Veja, 5.5.1993 , p. 8) .



AULA É PARA PRESTAR ATENÇÃO NO PROFESSOR



A sala de aula é convencional , a jornada de trabalho é longa ( pelo menos cinco horas) . Os alunos são seriamente cobrados , as avaliações são freqüentes , existe bastante dever de casa e muito feedback para o aluno . Ou seja, os alunos precisam estudar . A disciplina é rigorosa e não se pode conversar durante a aula , um grande problema brasileiro onde os professores perdem boa parte de seu tempo procurando manter a disciplina da classe . Ou então , de acordo com algumas teorias pedagógicas em moda , o professor , ao invés de ensinar esmera-se em desenvolver a sociabilidade de seus alunos , não o seu conhecimento , mas a sua capacidade de trabalhar em grupo . Daí as aulas terem sido substituídas em muitas aulas pelos famosos “seminários” , onde quem” ensina” é o aluno .





FINLÂNDIA



A Finlândia ocupa o topo do ranking de qualidade de ensino feito pela OCDE com base em testes aplicados a alunos de 57 países .

As salas de aula são convencionais , com quadro negro e , às vezes , um par de computadores . As diferenças começam com o currículo amplo , que inclui o ensino de música , arte e pelo menos duas línguas estrangeiras . Para os professores é exigido título de mestrado como pré-requisito de formação até para os educadores do ensino básico . Os professores são selecionados entre os 10% melhores alunos .

Em 1985 o país fez uma reforma no ensino e colocou o professor como o principal responsável pelo desempenho de seus alunos : é ele quem avalia os estudantes , identifica os problemas , busca soluções e analisa os resultados . O Ministério da Educação dá apenas as linhas gerais do conteúdo a ser lecionado .

O currículo escolar é flexível . decidido em conjunto entre professores , administradores, pais e representantes dos alunos . A cada três anos as metas da escola são negociadas com o Conselho Nacional de Educação. A currículo prescreve as mesmas competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa .

Em vez de decorar fatos, fórmulas e definições há ênfase em aplicar as teorias a problemas da vida real . Os livros são de boa qualidade , detalhados e universalmente criados . O professor não precisa “criar” a sua aula , embora não seja proibido , pois existe uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que acontece na aula .

O governo finlandês faz anualmente um teste com todas as escolas do país e o resultado é entregue ao diretor da instituição, comparando o desempenho de seus alunos com a média nacional . Graças a este controle a discrepância no desempenho das escolas é a menor do mundo .

Cerca de 99% das escolas são públicas e o aluno conta com material escolar , refeições e transporte gratuitos . Cerca de 20% dos estudantes recebem algum tipo de reforço escolar , ou seja ninguém é deixado para trás e por isso os índices de repetência são baixíssimos . No Brasil a solução para o problema do baixo rendimento foi eliminar a avaliação .

O salário médio dos professores na Finlândia é de US$ 31.785 por ano, contra US$ 12.005 no Brasil . ( Veja, 20.02.2008 , p. 66-68) .



FISCALIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E AS UNIVERSIDADES .



Universidades reprovadas pelo Ministério da Educação estão há pelo menos 13 anos sem passar pela fiscalização que o próprio governo deveria fazer nas instituições , processo chamado de recredenciamento . Em uma das escolas, a última análise foi feita em 1975 .

Desde 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases , o governo deveria analisar periodicamente indicadores como a qualidade do corpo docente da instituição e projeto pedagógico entre outros pontos . As que não conseguissem o recredenciamento não poderiam abrir novas turmas .

Em geral , as universidades abertas antes de 1996 afirma que não precisam passar pelo recredenciamento, pois foram criadas antes da lei que determina o procedimento .

Paulo Renato , ex-ministro da Educação declarou “ Tentei fechar alguns cursos e não consegui , mesmo tendo uma série de elementos técnicos . Desejo sorte ao ministro “ .

Norma posterior à lei fixou em cinco anos o prazo para obter o recredenciamento . Em 2004 , o governo Lula determinou que a renovação só precisaria ser feita após a finalização do Sinaes , sistema de avaliação criado pelo seu governo , ou seja , o próprio governo adia indefinidamente a aplicação da legislação . Cerca de nove instituições em 2008 foram reprovadas pelo MEC , com conceitos 1 e 2 no Índice Geral de Cursos e destas seis possuem autorização anterior a 1996 : Universidade Santa Úrsula RJ , credenciada em 1975 , Universidade para o desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí ( 2006) , Universidade Federal do Recôncavo da Bahia ( 2005) , Universidade estadual de Ciências da Saúde de Alagoas ( 2005) , Universidade do Grande ABC – SP ( 1995) , Universidade de Santo Amaro – SP ( 1994 ) , Universidade da Amazônia –PA ( 1993 ) , Universidade Iguaçu RJ ( 1993 ) e Universidade Ibirapuera SP ( 1992) . ( F S P , 13.09.2008, p. C-1) .,



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