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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Um filme para a metade direita do cérebro: 2001 -- 06/01/2003 - 20:33 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Embriaguês de imagens e emoções que não querem significar nada: "2001", de Stanley Kubrick, de volta aos cinemas

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Simone Mahrenholz (DIE WELT online, 22/02/2001)
Trad.: zé pedro antunes

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"2001 - Uma Odisséia no Espaço" é algo como o "McGuffin" da história do cinema. O significado, deste que é o filme mais comentado em todos os tempos, vem sendo buscado até hoje, em insistentes e renovadas tentativas. Mas o que se busca é algo que, na verdade, intencionalmente, o filme insiste em manter velado.

De acordo com Kubrick, o que ele pretendia era deixar para trás os domínios do sentido verbal, da lógica. Em entrevista concedida à "Playboy", em 1968, o cineasta declara que o filme tem por meta "uma experiência visual, que evita o pensamento verbal compartimentado e busca, emocionalmente e filosicamente, uma penetração direta no subconsciente. Deve ser uma experiência puramente subjetiva, que leve o espectador a alcançar uma camada mais profunda da consciência, tal como a música."

Uma experiência visual, portanto, uma experiência não-verbal. Mas os exegetas não se cansam de tentar transformá-la em experiência verbal. No caso, é justamente deste impulso em direção às profundezas mais longínquas da consciência que "2001" tira esse seu fascínio duradouro.

Situando o início do filme num tempo de que já não se tem memória - o "alvorecer da humanidade" em meio a uma horda de macacos -, o que Kubrick pretende é, inversamente, levar a consciência do espectador de volta às suas camadas centrais mais profundas, tanto do ponto de vista da história de sua descendência como de sua história individual.

Com isso, o filme acaba se transformando num caso para a pesquisa do cérebro humano. Retomemos a notável organização do cérebro humano em dois hemisférios simétricos: a metade esquerda é responsável, sobretudo, pelo significado e pela lógica da linguagem, bem como pela consciência racional. Já a metade direita elabora as imagens e as emoções, os espaços distantes, o movimento, a música expressiva.

Em vez de, como é habitual, dirigir-se a ambas as formas de consciência, Kubrick, radical, cria um filme para o hemisfério direito. Encena o movimento, o espaço, quedas, cria inesquecíveis imagens primevas de esferas e estrelas, tão semelhantes ao útero a ponto de se confundirem com ele.

Na tela, abre um espaço tão imensurável quanto o tempo. Cria seqüências com enorme carga emocional, mas, em termos de "significado", praticamente o mesmo que nada. A música libera um arsenal expressivo e se comporta, por vezes, ironicamente enviezada em relação ao conteúdo da emoção. E os fragmentos de ação, com suas breves incursões rumo à racionalidade da linguagem, batem fundamentalmente contra o nada.

Quase impossível se torna a mediação entre os hemisférios do cérebro. Nas categorias da lógica da linguagem, os acontecimentos são intraduzíveis. Ainda que infinitamente passíveis de interpretação, nada significam para além de si mesmos. E nisso, com efeito, se assemelham à música. Com suas quatro partes não muito firmemente costuradas - na verdade, quatro filmes autônomos -, o filme destrói a perspectiva de um enredo coerente.

Primeiro, macacos numa paisagem pré-histórica, sem vida. Um dia, brincando, um deles descobre, na forma de um osso, a arma com a qual primeiramente abate animais, depois, entre os de sua espécie, os inimigos . O osso, atirado ao ar em triunfo - um dos cortes mais famosos da história do cinema -, vira nave espacial, a flutuar no espaço, e assim começa o segundo episódio.

Neste ônibus espacial, Heywood Floyd está a caminho de uma estação espacial, onde deve fazer baldeação a caminho da lua. Neste "Hilton do espaço", a um grupo de soviéticos ele nega informações sobre ominosas ocorrências na estação lunar Clavius. E é para lá que ele segue viagem. Em Clavius, havia sido encontrado um monolito gigantesco - que, em inúmeros episódios do filme, vai surgir como único objeto.

A terceira parte contempla uma viagem a Júpiter na "Discovery 1", nave espacial conduzida por HAL, um computador que fala. Trava-se, então, uma luta de morte entre o ser humano e a máquina inflada de vaidade. O sobrevivente, Dave, atravessa um corredor do tempo em direção ao quarto episódio - por sua vez, uma das mais famosas seqüências do cinema: um vôo vertiginoso pelo tunel das cores, atravessando a psicodelia dos reflexos luminosos, uma viagem para a morte na dimensão de um sonho, opticamente inspirada na arte moderna. E tudo isso leva quase 20 minutos! Ao final, face a face, vêem-se um embrião humano e uma estrela.

Ainda que, com suas visões meticulosamente pesquisadas, Kubrick e, agora sabemos, seu co-autor Arthur C. Clarke tenham se colocado adiante do nosso tempo e criado algo que, de acordo com o expert em inteligência artificial Marvin Minsky, "em algum momento, entre 4 e 400 anos, passará a existir" - vale a pena ver sem falta este hipnótico sonho de vigília, pelo atrativo das formas longínquas de consciência e por sua estética atemporal.

Para os fãs de Kubrick e para os neófitos, fica a sugestão de um documentário feito por seu cunhado e produtor ao longo de tantos anos: "Stanley Kubrick - A Life in Pictures", com lançamento em DVD e vídeo anunciado para o segundo semestre deste ano de 2001. Além de mostrar fatos da sua vida privada, o filme documenta, sobretudo, quão distante estava de ser apenas uma "boutade" a frase famosa que é atribuída ao cineasta: "Eu nunca sei como as coisas devem ser. Sei exatamente como elas não devem ser, só isso."

A versão que agora chega aos cinemas dura exatamente 158 minutos e 9 segundos. Mas apenas 145 minutos e 43 segundos contêm ação. O resto consiste de música composta, na época, especialmente para o filme. Como ouvertüre , intermission e coda , a música deve ser ouvida com as cortinas cerradas.

O prólogo de "2001", que podia ser visto na "prémière" em Nova Iorque em 1968, e que (supostamente) explica o monolito, permanece no acervo da família Kubrick - cumprindo plenamente o desejo do mestre.
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