- Pai, é o fim do mundo? Eu tenho ouvido tanta choramingueira!
- Fim do mundo porra nenhuma, meu Filho. O mundo é um redondo fim de feira. E a humanidade não tem por onde, é beco sem saída, é o fim da picada, só isso. Nem o capiroto anda mais interessado.
- E que tal uma nova tentativa?
- Sem chance, meu Filho. Não foi à toa que os teólogos, à sua imagem e semelhança, acharam de inventar essa lero pomposo de "economia celeste".
- Mas não tem nenhum cristão sacando o lance?
- Bem, tem um sujeito aí publicando alguma coisa um pouco mais avançada. E o cara é peitudo mesmo, atrevido, um lídimo boquirroto. Já andam de olho nele lá pelas bandas do Vaticano. Mas o que vale é que não fica tratando a gente com todas essas pieguices milenares, arroubos domingueiros, com esse cristianismo de fachada que ainda vai acabar entupindo o inferno.
- Êpa, mas esse tipo de leitura pode nos levar a conhecer a humana esculhambação em sua mais do que verde-amarela brasilidade?
- Na mosca, meu Filho. Acertou em cheio. O título da série é mesmo "Teologia da Esculhambação". Já tinha chegado ao número 28. E muita gente lê... Um esforço que venho acompanhando com divino interesse.
- Pô, Pai, mas então me passa bem rápido o endereço do site.
- Tudo bem, mas devagar com o mouse que o site é de barro. É pura flor que não se cheire. Todos mui amigos, se tratando por "doce e terna amiga". E até o adjetivo "dileto" já andou pintando no pedaço. Dizem que o sinteco novo anda abalando os nervos da moçada. Só o mulherio resiste com brabeza, por força do hábito. A Leila Míccolis disse muito bem: "Em poetiza todo mundo pisa".
- Mas então vale entrar em busca e procurar direto o nome do cara. Bem, suponho que seja cristão e batizado?
- Confesso que não guardei direito o nome. Fugiu ao meu entendimento. É um troço meio esquisito. Parece uma sigla.
- E se a gente tirasse isso a limpo com o Espírito Santo?
- Espírito Santo?
- Sim, o Lúcio Emílio do Espírito Santo Junior. Gente finíssima. Andou meio sumidão. Sabe como são os mineiros... Mas agora parece que voltou com tudo. Disposto a peitar a falta de decoro dos contentes. Fico torcendo pra que ninguém invente de adotá-lo. Não gostaria de vê-lo eternamente castigado por um patrocínio do proprietário do site.
- E esses destaques todos? Taí uma coisa que não me cheira bem. Sabe aquela coisa do odor de santidade?
- Ah-ah! Essa coisa dos destaques é mania nacional. Coisa de escola de samba, sei lá.
- Mas, e essa história de dizer que o senhor é brasileiro?
- Pura alucinação. Essa gente é chegada num misticismo. Os reis do papo furado. Falam e escrevem tão mal. Taí um lugar onde eu não piso.
- Mas os mais excitados costumam bradar que um dia o senhor vai voltar etc. etc. etc.
- Nem morto. Você viu o tanto de armas que destruiram no Dia do Desarmamento? Uma enormidade. Todas elas apreendidas em 1997. Repare bem a data. Olha só a demora. De lá para cá, imagine o tamanho da reposição, o arsenal que eles não foram comprando.
- Mas, e se o senhor vier armado?
- Isso são coisas e loisas, invencionices daquele escritor mineiro que sabia todos os nomes do capeta. Mas ele contava histórias do tempo em que Canudos ainda não tinha se bandeado em massa pras favelas. Esse contador de causos de Cordisburgo simplesmente acreditava que ia ser somente um bangue-bangue. No máximo, um filme desses de cangaceiro, Glauber Rocha, essas coisas. Agora o governo deles tá dando um duro danado para continuar tapando o sol sem a peneira como vinha fazendo há quase oito anos. Pudera, com um candidato desses! Ó o grau!
- Meu Pai da Glória, mas isso é o fim do mundo.
- Fim do mundo porra nenhuma, meu Filho. O mundo é um redondo fim de feira. E a humanidade não tem por onde, é beco sem saída, é o fim da picada, só isso. Nem o que-diga, nem o capiroto anda mais interessado. E é bom que a humanidade continue por lá com suas superstições e suas crendices. Ou você acha que foi por acaso que eu tratei de transformar tudo quanto é cinema em igreja?
- Não entendi. O fato é que eles continuam de qualquer forma aspirando à eternidade.
- Sim, tudo bem, Mas bater no peito, ficar gritando pelo meu nome em altos brados nunca deu camisa, digo, nunca deu eternidade a ninguém. Está me entendendo? Que se esgoelem de cantar, mas lá embaixo. Porque aqui em cima - cf. "sonhos de fausto" - já temos a música das esferas. E melhor que isso só o silêncio-cio. E melhor que o silêncio-cio só mesmo o Sardemberg "Guabi" Guabyroba cantando "I m fucking in the rain". Dixit.
