Fiquei sensibilizado em saber que adentrei seus sonhos em formato alto e elegante, portando livros com citações do Oscar. Sacudindo esses transientes sonhos, vejo que a nossa realidade é bem outra: não sou alto nem tão elegante, tampouco nunca tive em guerra com ninguém, especialmente com você, conterrâneo da Boa Terra. Sou da paz e pela paz. Não guerreio. Dialogo, convenço e sou convencido com a e pela diplomacia. Se tal encontro acontecesse, na certa, eu compareceria nu como vim ao mundo. Apresentar-me-ia despojado de todos os adereços de grifes para mostrar minha simplicidade. Nem mesmo um saco de aniagem me serviria de manto. A minha nudez nada iria chocar os tão ilustres presentes ao chá parisiense, pois eles veriam nela a minha transparência e o meu despojamento das coisas materiais. Penso que, se esse encontro acontecesse de verdade, uma coisa seria tão forte que deixaria os presentes e suas ações sem serem notados - essa coisa seria a PALAVRA. Operários da usina da vida, sem ela nada seríamos. Esse instrumento de trabalho ofuscaria o brilho de todos, um por um. Não adiantaria nenhum egocentrismo e nenhum lusco-fusco ou rasgar-de-seda - ela estaria soberana acima de todos os presentes, de todos os brilhos e de todas as coisas.
Quanto às citações do grande Oscar no Quadro de Avisos, sem cinismo, tudo não passou de pura coincidência de informações e horários. Recentemente, recebi de uma amiga poeta uma lista de alguns aforismas do escritor em questão e achei alguns muito inteligentes, outros nem tanto e muito preconceituosos contra o sexo feminino. Confesso-lhe que nunca li nada do polêmico escritor anglo-irlandês, mesmo o famoso Retrato de Dorian Gray. Tampouco nunca vi nenhum trabalho para teatro ou adaptado para o cinema de sua autoria. Não conheço sua obra. Continuando o processo de coincidências, recebi de um amigo um endereço de uma página que apresenta muitas citações de grandes escritores e pensadores (http://ciclo.homepage.com/principal.htm - citações). Para minha surpresa, o primeiro da lista dos muitos escritores é o Oscar. Pelo Carnaval, recebi uma mensagem da Livraria Cultura de São Paulo oferecendo uma série de descontos em publicações diversas e recentes de livros do Oscar. Ao mesmo tempo, enquanto digitava algumas poesias, escutando a rádio do NY Times, ouvi um especial sobre Salomé, de sua autoria, e toda polêmica que o texto e a apresentação teatral geraram há mais de cem anos. É intrigante, não é? Como, há mais de um século, depois de sua morte alguém ainda fustiga as pessoas com seus escritos, suas idéias, seu comportamento!? Não o idolatro, mas o Oscar não foi um qualquer: foi diferente e muito ainda está ensinando que a opção sexual do artista em nada diminui o valor de sua obra. Em vista disso, comecei a pesquisá-lo e, em um site de busca, encontrei mais de 125 mil HPs (isso mesmo: mais de 125.000!) citando o seu nome e sua obra - note que isso somente na língua inglesa. Oscar foi de tirar o chapéu, não resta dúvida e discordo de você que ele é ultrapassado, fora de moda e naïve - ele ainda choca com o que escreveu e pelo que foi. Temos muito ainda o que aprender com ele. Como soube chocar escrevendo de maneira tão elegante e sincera! Acho que é aí que reside a força do seu trabalho. Vou continuar o meu estudo e o meu interesse pela obra deste grande escritor; certamente também que vou continuar dividindo meus conhecimentos a respeito com outros.
Em tempo: bloqueei temporariamente o meu e-mail para receber suas mensagens porque as duas que você me enviou não foram agradáveis e não é meu constume responder a ataques pessoais. Já está desbloqueado para um diálogo franco, amigo, sincero, positivo e construtivo que vá acrescentar algo a ambas as partes. Sua mudança de atitude me alegra e acho que com tempo e boa leitura seus escritos irão melhorar - daí irão lhe surgir mais leitores, fãs e, conseqüentemente, a fama tão desejada. Continue o bom trabalho, sempre!
Aceite um grande abraço
Fernando Tanajura
http://tanajura.cjb.net
