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Erotico-->27. O PLANO DE MUDANÇA -- 28/09/2002 - 07:45 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Uma hora depois, a tralha toda da moça estava arrumada. Almoçaram em companhia de Marlene e das crianças, porque Mário não dava mostras de que acordaria tão cedo.

Marlene estava desolada e Isabel mantinha os olhos vermelhos. A única pessoa alegre, realmente, era Sandra, assim mesmo um tantinho preocupada com os eventos que se seguiriam. Foi ela quem chamou a atenção para a necessidade de se organizarem:

— Não vamos partir, cucas frescas, sem saber o que fazer. É preciso estar mais ou menos certo para onde vamos e o que se pretende conseguir em São Paulo.

— Por mim, vou para um hotel modesto. — Ia dizer “fora da zona”, mas as crianças a inibiram. No entanto, foi o que entenderam as outras duas. — Depois, vamos a uma imobiliária, para avaliar o que é possível de se alugar ou de se comprar. Isso não precisa ser no primeiro nem no segundo dias. Quero alguma coisa bastante boa, que possa abrigar o Baltazar e família.

Marlene quis saber:

— Vocês já combinaram tudo ou as coisas estão no ar? Que é que ele vai fazer lá, sem emprego?

— O meu dinheiro no banco dá para a gente se sustentar por uns tempos. — Sonegava a informação dos cinqüenta mil na mão. — Aposto que Baltazar tem mais um pouco e a gente se arranja até que ele se ajeite. Se não for muito caro, posso instalar uma pequena loja de armarinhos e bijuterias. Ou o que Baltazar ou a ocasião determinar.

Sandra estava curiosa a respeito desse namorado, que não conhecia. No conceito dela, todos os homens eram meros aproveitadores. Pagavam, recebiam o que desejavam e desapareciam. Os que tinha mantido com certa paixão adolescente obtiveram tudo de graça. Mas muitos tiveram de pagar muito bem, principalmente no começo, quando era ainda de menor. Mas era bobinha e os cafetões levavam quase tudo. Ultimamente, Vivaldo estava um horror, tanto que foi denunciado e preso. Mas ia sair muito em breve. Coitadas das que o haviam “dedo-durado”. “Será que conseguirei livrar-me também eu dessa vida?”

Marlene sugeriu uma série de pequenos negócios. Se não desse para se instalar em loja de bairro, poderiam montar barraca no centro, já que os camelôs estão virando-se muito bem.

Na sala, a conversa prosseguia, interrompida pela desconfiança das crianças de que Isabel ia embora. Joãozinho estava agarrado nela e choramingava, para aborrecimento de Marlene. Essa reação do garoto até que a estimulava a gostar da idéia da separação.

Ia entre lamuriosa e esperançosa a conversa, quando surgiu o Doutor. Vinha com profundas olheiras pela noite muitíssimo mal dormida. Foi logo reclamando:

— Ó mocinha, que idéia foi aquela de não ficar no hotel? Às oito, estava lá para te pegar e cadê a donzela? E agora está toda formosa, de roupa chique. Você não foi despedida, ainda, sabia?

O tom da voz denunciava que as coisas tinham transcorrido bem.

— Esta daqui é Sandra. Minha antiga companheira.

— Prazer!

— Prazer!

Marlene interveio, para informar:

— Tem uns embrulhos aí para você. O portador disse que sabes do que se trata.

Na verdade, estava enciumada por causa da intimidade do marido com Isabel e queria matar a curiosidade do pacote. Levantou-se e foi buscar, esquecida de que a criada estava bem ali, à sua frente.

Mário fez menção de relatar a entrevista, mas Isabel fez-lhe um gesto para que deixasse para depois.

— Eu tenho novidades. Queres saber por que não estava no hotel? Pois, fui levada por Sandra para outro. “Chiquésimo”. Lá conversei com uns mascarados que me mandaram morar em outro Estado. Deram até um pouco de dinheiro para mim e para Sandra, com a condição de ficar calada sobre tudo o que sei. Não posso contar nada do que disseram nem para Baltazar...

Mário estava perplexo. Teria Leandro mandado alguém para despachá-la, antes mesmo de pactuar com ele? Não tinha sentido.

— Quem eram esses sujeitos?

— Não disseram, mas desconfio de que possam ser...

Quase revelou suas suspeitas, mas calou-se a tempo de passar informações a Sandra.

Mário percebeu o enrosco em que estavam. Imaginou uma estratégia:

— Querida, leva Sandra para conhecer a casa, porque eu tenho algumas coisas para conversar com Isabel a sós, no consultório. Por favor!

E, antes que a esposa reclamasse, levantou-se, pegou Isabel pelo braço e dirigiu-se ao escritório, levando os pacotes.

A conversa foi esclarecedora. Quando descobriram os cem mil reais prometidos por Leandro, tiveram a certeza de que não fora ele quem enviara mensageiros para contatar Isabel. Quem seriam? Essa pergunta ficaria sem resposta. A hipótese de que poderiam ser os chefes de Leandro ou lugar-tenentes não pareceu a melhor a Mário. Mas quem poderia ser a não ser quem quisesse preservar a quadrilha, à vista da denúncia estabelecida na carta-bomba do médico? Perdiam-se em conjecturas.

— O importante, minha cara, é aplicar bem esse dinheiro. Podes considerar-te rica, que muita gente boa trabalha a vida inteira e não consegue amealhar essa pequena fortuna. Vai dar para fazeres muita coisa. Mas não deves falar nada para essa tua amiga.

— De jeito nenhum. Parece que ela sabe dos cinqüenta mil e foi quem comprou as roupas para mim. Sei lá quanto recebeu e quanto gastou. Senti que está, de novo, de olho comprido para as minhas coisas.

— Era bom que Baltazar estivesse aqui para ajudar a gente a pensar. Vou ligar para ele. Você me dá o número?

— Deixa que eu falo.

— Como queiras.

A conversa foi rápida. Meia hora depois, o balconista estava lá.

— Vocês não viram o rebuliço que está aí fora?

— Não vimos nada.

— Tem uma pessoa ferida na viatura. Parece que está muito grave. Não vieram pedir para telefonar?

— Não estamos sabendo de nada.

Mário despachou-se, solícito para o atendimento de obrigação. O pobre policial estava mal. Deveria ter sofrido alguma convulsão pois estava com os batimentos cardíacos muito baixos. Perdera muito sangue mas a ferida havia fechado, no alto da cabeça.



— Como foi que demoraram tanto para encontrar esse homem? — Era o Delegado, furioso com o desleixo dos subalternos. — Será que não deram falta da viatura?

No meio do tumulto, na pracinha, queria localizar a pessoa que havia telefonado. O vendedor de cachorros-quentes se apresentou:

— Estranhei muito que, até o meio-dia, o soldado não havia vindo comer um sanduíche com cer... refrigerante, como fazia todo santo dia. Foi aí que fui até lá e vi o que tinha acontecido. Também, estacionou lá debaixo das árvores. Quem costuma ficar por ali, não quer nada com a polícia.

— Está certo. Quem prestou os primeiros socorros?

— Foi o médico aí da esquina.

— O Doutor Mário. Então, foi ele também quem chamou a ambulância.

— Ambulância, nada. Ele levou o guarda no próprio carro.

Parecia que todo mundo sabia mais que o Delegado. Estava furibundo. Atravessou a praça e tocou a campainha da casa do médico. Foi atendido por Joana.

— A patroa está?

— Quem deseja...

— Diz que é o Doutor Delegado. — E foi entrando para o jardim, enquanto Joana brigava com os cães.

A conversa com Marlene foi curiosa:

— Quem avisou o Doutor sobre o policial ferido?

— Ouvimos o tumulto aí fora.

— E por que não chamaram a polícia?

— Chamamos, mas nos disseram que já tinham sido avisados.

— A que hora foi isso?

— Às duas da tarde.

— Faz meia hora.

— Isso mesmo.

— Por que não chamaram antes?

— Porque foi nesse momento que Mário foi ver o que tinha acontecido.

— Quer dizer que faz menos de meia hora que o Doutor está tratando do caso?

— Faz uns quarenta e cinco minutos.

— Não estou entendendo, Madame Marlene.

— É que Mário precisou dar atendimento de emergência. Entrou e saiu com a valise e precisou mandar alguém à farmácia buscar uns medicamentos. Acho que, se não fosse isso, o guarda teria morrido. Era ele quem estava cuidando da segurança noturna?

— Tudo bem com as crianças?

— Tudo bem.

— Não viram nada que pudesse ser suspeito?

— Além do susto de agora há pouco com o policial ferido, nada mais ocorreu de especial.

— Vou mandar outra viatura, com dois guardas. Isto está me parecendo muito estranho. Em lugar de procurarem entrar na casa, vão contra o policial de vigia.

— Vai ver que se trata de alguma vingança particular.

— O que é que a Senhora sabe sobre isso?

— Eu não sei nada. Estou só imaginando.

— Se souber, avisa. Certo?

— Certo.

— Recomendações ao Doutor Mário. Ou melhor, vou até o hospital. Acho que me encontro com ele lá. Até logo, Madame. Meus respeitos. E muito agradecido por avisar a polícia.

— Não tem de quê.

Lá fora, o policial anotou a hora da entrada e da saída. Pensou que levara pouco tempo. Queria dar aos meliantes, que estariam à espreita, a idéia de que estava combinando com a família estratagemas de resguardo.

Chamou um dos policiais e determinou que ficasse de plantão à frente da porta principal. Policiamento preventivo e ostensivo. Ele mesmo fez questão de dirigir a viatura abandonada, antes que a pivetada a depenasse. Só muito mais tarde é que deram pela falta das armas, quando o almoxarifado oficiou. Os bandidos haviam reforçado o poder de fogo. Talvez algum jovem, que estaria enfrentando o seu primeiro assalto. Quem sabe do destino desses artefatos?



Com a saída do médico, Baltazar e Isabel não souberam o que fazer com o dinheiro. O moço estava extasiado com a possibilidade de ter seu próprio negócio. Mas temia que os pais não concordassem em acompanhá-los e não seria justo pedir à namorada que lhe emprestasse algum. Hesitava, pois, quanto a ir viver com ela, numa boa. Sabia, porém, que teria a moça de partir o quanto antes, conforme determinação dupla, ou seja, do pai da criança e dos homens do hotel. Sentia, também, ter de abandonar o Centro Espírita, onde estava aprendendo a ser honesto, justo e bom. Estaria aí a prova de que necessitava para ultrapassar o negaceio de quem sempre se julga credor do Pai, pelos sofrimentos que passa ou que vê os demais passarem? Ao menos, deveria consultar o padrinho.

Isabel concordou com essa idéia:

— Vamos fazer o seguinte. Levo o dinheiro para o banco. Dona Marlene vai comigo. Sandra vai comprar as passagens para um vôo da Ponte Aérea. Eu lhe dou um cheque em branco para comprar um carro. Assim, as minhas e as tuas coisas poderão ser transportadas com segurança. Se os teus pais quiserem ir, terão condução. Mas tudo isso, vais fazer só depois de consultar os orixás.

Marlene, quando informada, melhorou as providências:

— Baltazar vai com a gente até o banco, deixa a gente lá e, depois, vai até o aeroporto, comprar as passagens. Em seguida, passa pelo hospital e pede para o Mário vir para casa. Assim, ele terá tempo para falar o que pensa desse plano. A gente volta de táxi. Sandra fica aqui com Joana e as crianças. Vamos fazer as coisas de modo que todo mundo veja que estamos providenciando a mudança de Isabel.

Às quatro e meia, estavam de volta, inclusive Mário. Precisavam somente contornar o mapa com um traço mais vigoroso. E prometerem uns aos outros que se veriam em breve.

Às sete horas, Mário transportava as jovens, mais Marlene e Baltazar, para o vôo das oito e trinta. A despedida das crianças foi triste. Joana deixou escorrer algumas lágrimas e garantiu que tomaria conta dos meninos. Qualquer coisa, o soldado ali fora acorreria. Fossem na paz de Deus.

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