FARÓIS QUE NUNCA SE APAGAM
ADHEMAR DANTAS*
Como faróis, são ídolos que me iluminam o caminho a seguir. Em religião, o Padre Teilhard de Chardin, que deu um novo rumo à interpretação da Bíblia, fugindo ao estabelecido, nem sempre coerente. Poderia, como Lutero, abrir uma fenda no catolicismo, criando uma nova religião, mas não o fez, não chegou a ser excomungado, aceitou a imposição de ir evangelizar chineses, na época considerados bárbaros pelos colonizadores europeus, como antes portugueses o fizeram com o Brasil, ocupando o território que já tinha dono e proclamando-se descobridores.
Foi humildemente e lá desenvolveu seus estudos, sem deixar de celebrar suas missas e cumprir seus rituais. Fazia parte de um instante de amadurecimento e dele não podia fugir. Não admitia ser chamado de Filósofo e sim de alguém que, vendo além dos horizontes restritos, extrapolava a Evolução para demonstrar o dedo de Deus em tudo.
Há dele uma frase de tão alto significado para quem procura a Verdade, que por si mesma dignificaria sua existência: “Se eu não for superado não fui compreendido”.
Como Pintor, meu ídolo é Miguelangelo. No teto da Capela Sistina deixaria sua mensagem, como entendia a criação do Universo e, na continuação, a criação do homem, Deus, dentro de um cérebro, estirando o braço não para esculpir o boneco de barro, que até já se encontrava nu e deitado num lajedo e sim para transmitir-lhe a força de Seu espírito para que, a partir de então, o homem assumisse Sua “imagem e semelhança”: Deus não pode ter um corpo igual ao do homem. Seu Sopro nos chegou como espírito.
Zombou de cardeais obesos e ignorantes, colocando-os no inferno de sua obra monumental, dotando-os com orelhas de burro; e disse desejar só ser compreendido por gerações futuras, mil anos depois. Faz cerca de quinhentos (deu por terminados os afrescos do teto no dia de finados de l512) e já se sabe muito mas não se sabe tudo. Por exemplo, talvez influenciado pelo machismo da Bíblia, Eva não recebe o Sopro, segundo sua concepção. Lá está ela, bonita e sorridente, abraçada por Deus no instante da criação do homem como espírito.
Na Música, meu ídolo é Beethoven com sua quinta sinfonia, chamada do Destino, aqueles acordes iniciais, sol, sol, sol, mi bemol no primeiro trecho e fá fá fá ré no segundo, que sempre aparecem no correr da sinfonia, são o Destino batendo em cada porta, é preciso ter ouvidos para ouvir a Voz de Deus que existe em cada um de nós, para então compreendê-LO. E saber, principalmente, que o Deus das Religiões é o mesmo da Filosofia, da Arte e da Ciência. Os caminhos é que são diferentes.
(*) o autor é escritor, médico, teatrólogo, radicado em Campina Grande-PB. Autor de vários livros e articulista de Jornais.
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