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Artigos-->Drogas - Crack -- 19/11/2007 - 08:09 (edson pereira bueno leal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








CRACK



Edson Pereira Bueno Leal , novembro de 2007 , atualizado em outubro de 2.013.









O crack é conhecido como a cocaína dos pobres , pois é obtido a partir de rejeito da pasta base de cocaína , e por custar mais barato é consumido pelas camadas mais pobres da população .

É muito usado por jovens e crianças de rua , sendo que há crianças com apenas 10 anos que passam o dia fumando crack . Porém , nos últimos anos passou a ser usado por jovens de classe média e alta, tendo a cocaína como porta de entrada . Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira , da Unicamp , “Estimamos que 40% das pessoas que usam cocaína regularmente no Brasil já fumaram crack. E esse número tende a crescer”. ( Veja, 25.01.2012, p.64-69) .

É feito em forma de pedra , para fumar em cachimbos . Os traficantes misturam a droga com outras substâncias, como o bicarbonato de sódio e amônia . “Para aumentarem o volume, adicionam também cal e anestésicos como a lidocaína “ , segundo o delegado Luiz Carlos Magno , do Denarc. A mistura é fervida e depois filtrada, transformando-se em pequenas pedras do tamanho de uma pipoca. (Veja, 19.11.2008, p. 114-117).

Uma grama de cocaína pode custar até R$ 30 , uma pedra de crack custa R$ 5,00 , mas uma tragada em cachimbo já preparado custa apenas R$ 1.

Cerca de um quilo de pasta base de cocaína que na Bolívia custa R$ 11.000,00 , se transformado em cocaína rende aos criminosos R$ 130.000,00 e misturada a bicarbonato de sódio e amônia dá origem a 12.000 pedras de crack , que poderão ser vendidas por até R$ 120.000,00 . ( Veja, 25.01.2012, p.64-69) .

O crack é fumado , normalmente os viciados usam uma espécie de cachimbo feito com embalagem de Iogurte e corpo de caneta esferográfica , ou em latas . A pedra é aquecida e a droga tem esse nome porque faz estalos quando é esquentada .

Os vapores inalados se espalham pelas esponjas pulmonares , o maior e melhor absorvente do organismo , com área 200 vezes maior do que a mucosa nasal e depois caem na corrente sanguínea , passam pelo coração e chegam ao cérebro em 10 segundos , produzindo efeitos alucinógenos imediatos. Ao chegar ao cérebro a droga , dispara a liberação da dopamina em 900% , neurotransmissor que dá a sensação de prazer , de euforia , vitalidade e poder , além da impressão de que o pensamento e o raciocínio estão mais rápidos .

A cocaína demora dez minutos para fazer o mesmo trajeto . Por isso a probabilidade de um iniciante se viciar em crack é o dobro da se viciar em cocaína . ( Veja, 22.06.2011, p. 99).

Em seguida vem uma depressão profunda , o que leva o usuário a buscar nova dose . O problema é que com o tempo , a droga deixa de ter o mesmo efeito e o viciado precisa de doses mais altas para se satisfazer .

Ao contrário do que ocorre com a maconha e a cocaína , o crack torna impossível manter relações com o círculo de amigos , no trabalho ou em casa . A degradação se dá em poucas semanas . Primeiro o viciado emagrece rápido , já que a cocaína inibe o apetite e provoca náuseas diante da comida . Depois passa dias sem dormir e perde até mesmo a vontade de tomar banho . Esquece-se de que existem horários e regras . Como o crack age como anestésico , queimam-se a boca e o nariz ao fumar , sem que se perceba .

“Nenhuma droga danifica o cérebro com tanta rapidez. O viciado perde completamente o senso de julgamento e a responsabilidade . Fica agressivo . Para comprar as pedras , é capaz de roubar o dinheiro dos pais e objetos da própria casa. Muitos, sem nenhum antecedente de delinqüência , passam a assaltar “ ( Veja, 22.06.2011, p. 96).

Em três anos , a quase totalidade dos viciados estará gravemente doente , terá se envolvido em crimes e visto a família se desmantelar. No fim do quinto ano de consumo , um terço deles estará morto – em geral, pelo comportamento de risco que passam a apresentar. As vítimas de homicídio e overdose são as mais freqüentes . Para os traficantes o crack apresenta mais vantagens do que a cocaína , devido à quantidade e à velocidade em que é consumido . ( Veja, 25.01.2012, p.64-69) .

Levantamento feito pela Unicamp em 2007 mostrou que 7% dos usuários de crack tem o vírus HIV , índice dez vezes maior do que o resto da população em geral .

“O crack provoca um aumento drástico no tipo de comportamento sexual de risco que leva à propagação de vírus como o do HIV e o da sífilis. Faz com que muito mais pessoas nas áreas pobres comprem drogas, aumentando a probabilidade de levarem a seus bairros uma infecção. Muda o padrão das relações sociais entre os bairros. “ ( Gladwell, Malcolm . O Ponto de Desequilíbrio, Editora Rocco Ltda, 2002, p. 21) .

Estudantes e trabalhadores transformam-se em mendigos .

Na fase das reações paranóicas , o viciado acha que está sendo perseguido e tem pensamentos obsessivos , vem daí o apelido de “nóias” que esses dependentes carregam . A estudante paulista M. de 31 anos , livre da droga a três, não conseguia manter as janelas de casa abertas . “Eu realmente achava que estavam me espionando pela janela ou pelas frestas da porta . Também ouvia sirenes da polícia e passava horas rastejando , procurando no chão e no meu carro algum resto de pedra que pensava ter derrubado .” ( Veja, 19.11.2008 , p. 114-117) .



AS MÃES DO CRACK



Mulheres dependentes de crack que não assaltam ou pedem esmola, tendem a se prostituir para comprar a droga , contraindo doenças sexuais rapidamente .

Ao se prostituir sem nenhum controle , ficam grávidas frequentemente, muitas encadeando uma gestação após a outra.

Segundo Dráuzio Varella , “Em São Paulo, a maioria das parturientes do crack são encaminhadas para o Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste, que procurou se adaptar para atender esse contingente que cresce a cada ano. ” ( F S P , 1.12.2012, p. E-12) .

No ano de 2007 foram cinco casos. Em 2012, até sete de dezembro foram 75.Não existem dados oficiais de quantas usuárias de drogas dão a luz na cidade. A maioria das maternidades não faz esse levantamento.

Informações do programa Mãe Paulistana , da prefeitura de São Paulo, que começou a tabular dados sobre o tema em 2012 , demonstram que o problema é maior. Foram atendidas 450 gestantes dependentes em 2012 e 117 usavam crack . No Estado de São Paulo existem apenas 25 vagas para internação de grávidas dependentes químicas. Todas em instituições privadas parceiras.Somente nestas unidades , trata-se a dependência e é feito o pré-natal. No hospital Lacan, na Grande São Paulo, que oferece 10 das 25 vagas do Estado, em um ano de serviço foram atendidas apenas 11 mulheres , Muitas são coagidas pelo companheiro a não buscar tratamento.

Nem sempre os sinais de uso da droga são claros. As suspeitas começam quando as mulheres afirmam que moram na rua, não tem vínculos familiares e não fizeram o pré-natal.

Muitas mães não assumem que são usuárias de drogas, mas os bebês “denunciam “: há o descolamento da placenta, os bebês nascem muito pequenos ou prematuros, inquietos , choram muito, tremem e aparentam estar insaciáveis ( sugam a mamadeira com muita força), efeitos da droga, que ainda está em seu corpo.

A maternidade finalizou um protocolo para descobrir se a parturiente é usuário de drogas mais cedo, até com exames laboratoriais se preciso.O protocolo deverá servir de modelo para as demais maternidades do Estado.

Evidentemente as crianças que nascem não serão criadas pelas mães , pois como criar filhos morando em uma cracolândia? Por isso , a maioria das mulheres que dá a luz na maternidade sai de lá sem o seu filho.

Em 2012, o hospital acionou a Vara da Infância e da Juventude para avaliar o destino de 55 dos 75 filhos de dependentes nascidos lá. O processo geralmente demora uma semana e, quando finalizado, a mãe já recebeu alta, mas pode visitar o bebê.

A Vara da Juventude chama familiares da mulher e decide se a guarda da criança será retirada. A situação é mais grave do que parece. Em 80% dos casos a Justiça , decide pela retirada da guarda da criança e manda esses recém-nascidos temporariamente para abrigos.

Se em até dois anos a mulher não provar que tem condições de criar o filho, há a destituição do poder familiar e a criança é colocada para adoção.

Em 2012, 25 bebês de filhos de dependentes de crack que nasceram na Leonor foram colocados para adoção. Em 2007 foram apenas dois.

Sabe-se que nos casos de adoção as famílias preferem crianças pequenas , recém-nascidas , porém no caso dos filhos do crack a situação é diferente. Estes bebês nascem com crise de abstinência . Seu organismo reclama a falta do crack , inalada pela mãe durante a gestação . Não foram feitas ainda pesquisas sobre quais as consequências para uma criança da absorção de cocaína durante o período de gestação . Porém se pesquisas já comprovaram que podem ocorrer danos ao cérebro aos adolescentes que usam drogas , porque o cérebro ainda está em desenvolvimento , o que esperar de efeitos em um bebê que ainda está no ventre da mãe?

Portanto a consequência é que estes filhos do crack não conseguem um casal que os adote, estando condenados a crescer em uma creche. Ainda fica a dúvida se conseguirão ter uma vida normal , face aos danos causados pela droga , se irreversíveis.

O desembargador Antonio Carlos Malheiros confirma essa realidade :”As pessoas que querem adotar estão vencendo seus preconceitos, mas quando são crianças filhas de usuárias de drogas, as pessoas caem fora”.( F S P , 10.12.2012, p. C-3) .

Esta realidade concreta exige da sociedade um posicionamento mais concreto do que simplesmente contemplativo . Muito se discute sobre a legalidade do internamento compulsório e a maternidade de usuárias de crack também exige mais do que apenas tratar as consequências que se projetam para além da usuária . Existem anticoncepcionais injetáveis administrados a cada três meses e portanto , caso a usuária recuse sua utilização é necessário que se defina a legalidade de ministrá-los compulsoriamente enquanto persistir o vício com a droga.





PRODUTOS MISTURADOS



Em 2011, pela primeira vez , o Inmetro e o ICCE – Instituto de Criminalista Carlos Éboli do Rio de Janeiro identificaram os produtos misturados à cocaína e ao crack pelos traficantes.

Foram identificadas as seguintes substâncias adicionadas ao crack e o percentual encontrado nas amostras:

Benzocaína ( 9%) e Lidocaína ( 6%) : Anestésicos para enganar o usuário sobre o potencial da droga com efeitos prejudiciais de redução dos batimentos cardíacos e eventual parada cardíaca.

Cafeína ( 54% ) : Estimulante com efeito semelhante à cocaína , mas mais barato . Causa Taquicardia , dores abdominais e vômitos .

Solventes ( gasolina, thinner ou diesel) ( 90%) . Misturado como resíduo do refino e produção final da droga . Pode causar intoxicação crônica , alterações respiratórias , hepáticas e renais .

Levamisol ( vermífugo usado em cavalos ) ( menos de 5%) . Suspeita-se que tenha também função estimulante . Reduz a atividade do sistema imunológico. ( F S P , 30.05.2011, p. C-3) .



OXI



O Denarc ( departamento de narcóticos ) , da Polícia Civil de São Paulo , aprendeu em 2011 cerca de 60 kg de oxi, um novo tipo de droga feito com a pasta base da cocaína, em forma de pedra oxidada, mais barata e mais letal do que o crack . A matéria prima do oxi são folhas secas do arbusto Erythroxylum coca , cultivado na Bolívia , Peru e Colômbia . No preparo , os traficantes utilizam ácidos, querosene , cal e oxidantes , que “empedram” a pasta base . O oxi é uma parte anterior do processo de refino da cocaína . ( F s P , 2.5.2011, p.C-4) .

O oxi pode ser fumado puro , em cachimbos ou misturado ao tabaco de cigarros, e causa os mesmos efeitos e danos que o crack , mas é mais perigoso do que ele , pois ao fumá-lo, o usuário está enviando querosene e cal virgem para o pulmão. A cal , de PH muito básico, produz graves queimaduras no órgão, e o querosene , por ser um solvente poderoso, pode levar, a longo prazo , à falência dos pulmões . Segundo o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, “ como o princípio ativo se encontra presente em menor grau, a pessoa tende a fumar mais do que se fosse crack”. ( Veja, 15.12.2010, p. 180) .

Em 12 de maio de 2011, foi feita a primeira apreensão de Oxi no Rio Grande do Sul, com 1.500 pedras encontradas em Porto Alegre( F S P , 13.05.2011 , p. C-4) .

O óxi, presente na Região Norte há vinte anos , ganha evidência em 2011 com sua chegada ao Sudeste. Em 2005 a Rede Acreana de Redução de Danos fez uma pesquisa com 100 viciados que migraram do crack para o oxi . Um ano depois , 33 haviam morrido , vítimas de aids e hepatites virais . ( Veja, 22.06.2011, p. 100) .





DEPENDÊNCIA CRUZADA



No Rio de Janeiro em 2008 uma nova droga começou a ganhar adeptos . É o zirrê, mistura de maconha com crack , também chamada de mesclado ou craconha . O próprio consumidor pode preparar o zirrê , depois de comprar , separadamente , a maconha e ao crack . Segundo o psiquiatra Jairo Werner , “o crack causa mais euforia quando fumado junto com a maconha do que inalado . Ele entra em contato com o sangue rapidamente, logo no primeiro minuto .

Entre os sintomas dos usuários estão : aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos , baixa da temperatura , aumento da pupila , face avermelhada e diminuição do apetite . “Os pacientes aparecem com quadros de esquizofrenia , paranóicos , com manias de perseguição e medos sem motivo aparente “.

O uso combinado de drogas causa o que se chama de “dependência cruzada “, ou seja , uma potencializa o efeito da outra . Mais receptores cerebrais são estimulados ao mesmo tempo e por conseqüência os efeitos são mais devastadores . ( F S P , 27.07.2008 , p. C-5) .

Os traficantes do Rio de Janeiro sempre mantiveram distância do crack pois seus usuários são menos confiáveis . Mas o crack foi imposto ao Comando Vermelho para aliviar uma dívida que ele tinha com o PCC e indica que o PCC também está começando a controlar o tráfico no Rio de Janeiro .







CRACK NOS CANAVIAIS



Documentos da Pastoral do Migrante , divulgados em relatório da ONU , na Espanha em final de setembro apontam o consumo de crack entre cortadores de cana na região de Ribeirão Preto em São Paulo . Para Maria Lúcia Ribeiro , coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos ) , “ o crack aparece nas situações degradantes para o ser humano , como entre os moradores de rua . Nos canaviais , a droga volta a surgir como algo para enfrentar o insuportável “ . No caso o insuportável seria enfrentar as dores comuns em jornadas de até dez horas sob sol forte . O consumo ocorreria não no trabalho, mas nos alojamentos , muitas vezes acompanhado de bebidas . ( F S P , 14.10.2007 , p. C-8) .,







PLANO ANTICRAK DO GOVERNO FEDERAL – 2011.





O governo federal lançou em 7 de dezembro de 2011 um plano nacional de combate ao crack que prevê gastos de R$ 4 bilhões até 2012 , conforme a adesão de Estados e Municípios . O plano prevê a disponibilização de 2.462 leitos em enfermarias especializadas no atendimento de dependentes de drogas, 308 consultórios de rua, unidades formadas por médicos , enfermeiros e psicólogos, 408 unidades de acolhimento para internação nos casos mais graves, 166 unidades de acolhimento exclusivas para crianças e adolescentes, capacitação de 210 mil educadores e 3,3 mil PMs para prevenção do uso de drogas e instalação de câmaras de monitoramento e policiamento ostensivo nas cracolândias .

O Conselho Federal de Psicologia e outras 34 entidades por meio de uma carta alertaram o governo sobre riscos do financiamento público de comunidades terapêuticas e da internação compulsória, um passo além da involuntária . ( F S P , 8.12.2011, p. C-5) .

Em 2012 o plano gastou quase R$ 1 bilhão. Criou 19 consultórios de rua, 124 leitos para atendimento e internações de curta duração .O programa só conseguiu adesão de 13 das 27 unidades da federação. ( F S P , 17.01.2013, p. C-4) .

Para o médico Antonio Nery Filho , coordenador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas da Bahia que é contra a internação involuntária entende que o crack não é o principal problema do país “Sobretudo se comparado ao álcool , tabaco e medicamentos psicotrópicos usados fora do contexto médico e às substâncias voláteis. O uso do crack se reduz a uma população específica. Não penso que se possa falar em’Brasil contra o crack’ pois ele não tem uma dimensão que mereça o engajamento”. ( F S P , 11.12.2011, p. C-9)

O programa “Crack é possível vencer”, vai distribuir armas de choque e spray de pimenta para conter dependentes de crack. Segundo a Portaria 4.226 , de 2010 do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, as armas devem não letais devem ser usadas só por policiais treinados . Até novembro de 2012, 12 Estados já participaram do programa , totalizando R$ 62 milhões em investimentos. No Rio de Janeiro , que recebeu R$ 9 milhões, já chegaram 250 “tasers” e 750 sprays de pimenta. ( F S P , 14.11.2012, p. C-4) .



2013.



Com base nos números do Ministério da Saúde, pode-se deduzir que o crack é a maior causa, direta ou indireta, de mortes de jovens de 15 a 25 anos no país . A droga também é a maior causa, direta ou indireta, de homicídios .No mundo, o Brasil já é o segundo maior consumidor de crack ( segundo a Unifesp), e o recordista de homicídios ( segundo a ONU). ( Osmar Terra, F S P , 1.6.21013, p. A-3) .





RIO DE JANEIRO



“Proibida” pelas facções armadas até o início da década , a droga se popularizou no Rio de Janeiro e em 2009 já é vendida em cerca de 300 favelas cariocas , segundo a Secretaria de Assistência Social do município .

Um levantamento preliminar em 2009, mapeou 42 dessas áreas , sendo que 18 delas funcionam como pequenas e médias cracolândias a céu aberto . A prefeitura aponta que o uso de crack por menores de 18 anos que vivem nas ruas e são monitorados pela secretaria, era de 13% há quatro anos e em 2009 está em 90%. A classe média também começa a consumir o “zirré) ( ou desiré, mistura de crack com maconha) ( F s P , 25.07.2009, p. C-4) .

Em São Paulo o PCC ( primeiro Comando da Capital ) monopoliza o tráfico e distribuiu crack em quantidade . No Rio de Janeiro há disputa entre três grupos, o CV ( Comando Vermelho ) , ADA ( Amigos dos Amigos ) e TC ( Terceiro Comando) e essas facções criminosas ainda tem preocupação com o tempo em que terão o viciado como cliente , pois o crack é muito mais devastador do que a versão menos suja da cocaína. Por isso , a quantidade de crack comercializada no Rio de Janeiro é muito menor do que em São Paulo .

A quantidade de crack apreendida no Rio de Janeiro aumentou de 9,7 kg em 2007 para 199,2 kg em 2010 . Conforme a psicanalista Ivone Ponczek, diretora do Nepad - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao uso de Drogas , órgão da Uerj , “ até a cinco anos , eram raros os dependentes de crack no Rio. Hoje , 70% dos pacientes são usuários dessa droga”. ( F S P , 13.05.2011, p. C-4) .



BELO HORIZONTE



A maior pesquisa já feita no país sobre o crack , coordenada pelo sociólogo Luis Flávio Sapori , da PUC MG concluiu que a chegada do crack a Belo Horizonte em 1995, provocou uma explosão de homicídio nos anos seguintes . Até 1996, quando o crack era incipiente em BH , as mortes provocadas por conflitos gerados por drogas ilícitas eram 8,3% , Em 1997-2004 esse índice subiu para 19,2% e em 2005 – 2006 , 33,3% , ou seja quadruplicou . Os homicídios estão em queda na cidade , exceto os motivados por crack que não param de crescer .

A pesquisa analisou 671 inquéritos de homicídios ( de 1993 a 2006) , ouviu 19 traficantes, 23 usuários e 84 profissionais que tratm dependentes.

O crack provoca uma letalidade maior do que as outras drogas , por causa do tipo de dependência que provoca , muito mais incontrolável do que com a maconha e a cocaína. Segundo Sapori” Esse tipo de conflito é resolvido com violência : quem não paga a droga, paga com a própria vida”.

Segundo um traficante “ o traficante não mata o usuário porque ele ta devendo . Ele mata porque ele é um sem-vergonha e ta devendo e foi comprar na outra boca. E nessa situação ele mata o usuário . “... “O traficante mata menos porque não quer a polícia na sua boca. Ele percebe que a polícia ficou mais eficiente e mata menos para manter o lucro”. ( F S P , 27.08.2010, p. C-4) .





O CRACK NO SISTEMA PENITENCIÁRIO PAULISTA



Conforme assinala Dráuzio Varella , médico voluntário nas cadeias de São Paulo desde 1989 , nos anos 1992 e 1993 o crack invadiu a Detenção pois tinha a vantagem de dispensar as seringas e agulhas transmissoras do HIV no uso da cocaína , tinha o mesmo efeito e a vantagem de não doer m nem deixar as marcas denunciadoras do uso .

Porém , “o crack é invenção do diabo. No usuário crônico o efeito acaba em segundos , mas a compulsão que o obriga a vender a roupa do corpo persiste pelo resto da vida . Nas garras da dependência , os detentos contraíam dívidas impossíveis de pagar... Os guardas do presídios mais experientes diziam que o crack havia subvertido a hierarquia da prisão e as leis do crime de forma tão radical que seria impossível acabar com ele nas cadeias , previsão com a qual eu concordava plenamente .

Estávamos enganados . Quando uma das facções conseguiu sobrepujar as demais e impor suas leis entre os presídios paulistas , o crack foi considerado prejudicial aos negócios e terminantemente proibido . Por ordem do comando , quem fosse pego fumando era expulso do convívio e forçado a pedir asilo nas celas de segurança : quem ousasse traficar recebia sentença de morte. Como as leis do crime foram feitas para serem respeitadas , os presídios do Estado de São Paulo ficaram completamente livres do crack”. ( F s P , 8.5.2010, p. E-12).

Como fica claro na magistral descrição de Dráuzio Varella, o crack é danoso na avaliação do comando da própria marginalidade e pior ainda seria na avaliação das pessoas honestas . Como ele assinalou , “ o crack é invenção do diabo”, portanto , aquele incauto jovem que se arrisca a experimentar essa droga , está comprando um passaporte para o inferno .

Como visto , o crime pode resolver a epidemia de crack . Nos EUA ocorreu situação semelhante . Uma epidemia de crack devastou uma parcela de jovens pobres e negros entre 1984 e 1992 . O crack afastava os consumidores de drogas mais rentáveis e a saída do crack do mercado foi uma decisão dos traficantes , tomada por razões mercadológicas . Com isso , segundo avaliação do National Institute of Drug Abuse, o crack deixou de ser um problema de saúde pública de primeira ordem . ( F s P , 21.05.2010, p. C-3) .





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