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Erotico-->26. A NOITE DE ISABEL -- 27/09/2002 - 06:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Assim que Mário, Baltazar e Isabel chegaram do “Barnabé de Rezende”, tiveram longa conversa, da qual resultou que Isabel deveria passar a noite fora.

— “Prevenir acidentes é dever de todos”, disse Baltazar, que estava vivamente impressionado com o que lhe dissera o benfeitor espiritual. Deixou de citar o perigo que iria correr e prontificou-se a levar Isabel no carro do Doutor, dentro do porta-malas. Optaram por deixá-la no chão do banco de trás, com uma coberta. De longe, não se perceberia que estava ali.

O próprio Baltazar registrou-se num hotel de boa categoria, onde passaria a noite com Isabel. Às três da manhã, Baltazar voltou, guardando o carro na garagem, crente de que não estaria sendo vigiado, que os amigos do Centro lhe disseram que a barra estava limpa. Antes de sair, deixou o cartão do hotel em que Isabel se hospedara. O esquema havia funcionado às mil maravilhas.



Entretanto, assim que Baltazar se retirou, bateram à porta de Isabel. A pessoa se identificou como Sandra, a prostituta que lhe herdara as roupas.

Isabel se assustou, sem tempo para refletir a respeito da inopinada visita. Abriu a porta muito ressabiada.

— Que fazes aqui, criatura?

— Isabel, precisamos conversar seriamente.

— Que aconteceu? O Vivaldo...

— Que Vivaldo, que nada! O coitado está curtindo cadeia. O que tenho a te dizer é muito sério.

— Diz logo.

— Em primeiro lugar, vamos sair daqui. Cata as tuas coisas que o teu quarto já está pago.

— Como assim?

— Faz parte da história. Vem comigo.

— Sandrinha, será que não estás...

— Podes confiar. Estou te salvando a pele.

— Posso dar um telefonema?

— Me pediram para não deixar, que o telefone do médico está grampeado.

— Que sabes tu do médico?

— Vem comigo que eu te explico tudo.

Aí, a curiosidade já havia assumido o posto do temor. Sandra parecia muito senhora de si. Ao falar do Doutor, revelava que sabia de muita coisa. Resolveu acompanhá-la numa boa.

Na porta do hotel, havia um táxi esperando. Entraram e o motorista seguiu, sabendo de antemão para onde deveria dirigir-se. Deram uma volta pelas principais avenidas e foram parar em Copacabana. Diante de um dos hotéis cinco estrelas, o carro parou e Sandra levou Isabel pela mão. Adentrou o saguão como se estivesse em casa. Dirigiu-se ao elevador e deu o número do andar ao ascensorista. Diante da porta do apartamento, esperou que o elevador descesse para acionar a campainha. Quando abriram a porta, Isabel se sentiu atraída para uma armadilha. Havia dois homens encapuzados, embora a roupa indicasse riqueza e elegância.

Um deles se aproximou e lhe disse para não temer nada:

— A mãezinha de Orivaldo não tem nada que temer aqui.

Isabel quis apoiar-se em Sandra, mas esta havia desaparecido.

Foi-lhe indicada uma cadeira.

— Teremos uma conversinha. Nós sabemos de tudo. Basta confirmar.

Isabel fez um gesto com a cabeça. Sentia-se alheada da realidade, como se sonhasse. No interior da sala, havia forte cheiro de perfume, como se alguém tivesse derramado um vidro inteiro no tapete.

— O nome verdadeiro de Orivaldo é Leandro? É filho de Leandro? Consta o nome do pai na certidão de nascimento? Vocês são casados no civil? E no religioso?

Isabel negou os casamentos. O interrogatório prosseguia?

— Queres seqüestrar o teu filho?

— Quero ficar com o que é meu.

— Raimunda não está parecendo mais de confiança?

— A história do abandono...

— A história nós conhecemos. Queres viver com Leandro-pai?

— A minha paixão por ele se transformou em ódio. Vocês sabem qual é a profissão dele?

— Sabemos de tudo. Não te esqueças de que nós fazemos as perguntas. Estarias disposta a viver em São Paulo?

— Se for com meu filho.

— Isso veremos. Por enquanto, está recluso no hospital. Ouve com atenção porque o que te vamos propor é pegar ou largar. Você vai receber a quantia de cinqüenta mil reais para te instalares em São Paulo. Não precisa ser na Capital. Onde achares melhor. Vais poder levar o teu namorado e a família dele. O dinheiro será suficiente para ficarem bem. Se ele quiser abrir uma casa de comércio, você entra em contato com a Sandra, que iremos oferecer a quantia necessária. Depois disso, não contes com mais nada. Quando for possível, iremos trazer-te de volta, para requisitares oficialmente a posse de teu filho. Até lá, hás de ficar muito quietinha no teu lugar. Se vires o retrato de Leandro nos jornais ou revistas, se ele aparecer na televisão, vais fazer de conta que nada viste. Nem ao teu namorado, amante ou marido poderás mostrar que sabes de quem se trata. Essa é a garantia de tua sobrevivência. Uma palavra sobre ele e morres. Está bem explicado o que estamos querendo?

A voz que propunha o acerto era a mesma que ameaçava. Falava da vida e da morte com a mesma tonalidade. Isabel é que estava numa zoeira de cabeça que não conseguia aprumar-se.

— Toma um copo d’água.

O desconhecido levantou-se, encheu um copo com água de uma garrafa que retirou do “frigobar”, tomou dois goles e passou para a moça.

Isabel bebeu maquinalmente, folha levada pelo vento.

Sentou-se o cavalheiro. Enquanto tomava a água, ia pondo as idéias no lugar. Observara que a mão que a servira era branca. No braço, o que chamaria de Rolex. Estaria sob o poder dos chefes do tráfico? Então, o plano de Mário estaria surtindo efeito. Criou coragem para uma pergunta:

— Sei que não devo perguntar nada, mas eu queria saber se o Doutor Mário está em segurança?

— Não cabe a nós protegê-lo dos perigos que ele mesmo está criando. Contudo, achamos que vocês poderão conversar amanhã cedo.

— Mais uma coisa. Posso confiar na Sandra? Acho que ela é um pouco avoada...

— Não podes confiar em ninguém. O que ela sabe, sabe. Além disso, nada mais poderás contar-lhe. Estamos nos entendendo?

— Mais alguma recomendação?

— Parece que não entendeste nada. Quando dissemos, bico calado é para manter a boca totalmente fechada. Não conheces a lei do silêncio? Pois, então! Que novidade é essa?

No pensamento de Isabel, as coisas estavam bem nítidas. Eram os chefes do Leandro que não queriam perder o colaborador. Quem iria gastar tanto dinheiro com uma pobre prostituta? Um tiro resolveria a questão, a menos que a papelada do Doutor...

— Vais ficar aqui até amanhã. E não irás fazer ligação alguma. Quando for a hora de partir, a Sandra virá te buscar. Boa noite!

— Boa noite.

O outro cavalheiro, que permanecera calado o tempo todo, aproximou-se da moça, afagou-lhe a face bonita e lhe disse junto à orelha:

— Não tenha mais medo de nada.



Às dez da manhã, apareceu Sandra, que fez introduzir no quarto duas malas bem grandes.

— Querida Isabel, este é o presente de casamento que te enviam os caras que estiveram contigo de madrugada. Fui eu mesma que comprei. Fiz questão de escolher tudo do bom e do melhor. Agora você vai tomar um banho, botar uma roupinha de viagem, que teremos um dia cheio pela frente.

Isabel espantava-se com a desenvoltura da ex-companheira.

— Posso perguntar o que tens feito desde que nos separamos?

— Tenho feito o que sempre fizemos. Só que, desde domingo, tenho vivido um verdadeiro conto de fadas, graças a ti e a teu filho. Depois eu te conto tudo. Agora, São Paulo, lá vamos nós.

— Espera um pouco. Quer dizer que vais comigo?

— Como dama de companhia e já fui paga adiantada por um mês de serviço. Eram as férias que vinha pedindo ao Vivaldo. Estou às tuas ordens.



Ao meio-dia, aportavam diante da casa de Marlene. Na bolsa a tiracolo, com os badulaques de sempre, um grande envelope com cinqüenta mil reais em notas de cem novinhas em folha.

O doutor dormia. Marlene não queria dar a Isabel a notícia da necessidade de ir para outro Estado. Estava sendo forçada a isso. Antes que abrisse a boca, Isabel lançou-se ao seu pescoço, em prantos.

— Que é isso, menina?

— Dona Marlene, estou de partida para São Paulo.

— Como assim?

— É só o que posso dizer. O doutor está bem?

— Ele tem novidades pra te contar. Espera aí que vou acordá-lo.

— Não precisa, não. Deixa que eu preciso arrumar as minhas coisas. Ah! Ia esquecendo. Esta é a Sandra, minha antiga companheira, aquela pra quem dei os vestidos.

Sandra não gostou de que soubessem quem era e o que fazia. Mas o dinheiro que estava na conta corrente não se deslocava do centro de seus interesses, de modo que não ligou para nada. Deu a mão bem de leve à patroa da amiga e saiu rebolando, atrás da outra, para apressar a partida.

Nesse momento, Joana foi atender à porta e voltou com uma sacola, com embrulhos de sacos de supermercado.

— Isto está sendo entregue para o Doutor Mário. Disseram que ele sabe de que se trata.

A preta velha é que estava atarantada com os últimos acontecimentos. Justo agora, quando estava acostumada com a ajuda de Isabel, ia embora. Começou um padre-nosso para que Marlene encontrasse logo alguém com a mesma disposição e de quem as crianças gostassem tanto. Não sabia que estava muito próximo o dia em que iria mudar-se daquela casa.

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