QUEM MANDOU TER ESTUDADO!
J.B.Xavier
Por não seres tão prudente,
Amigo desajeitado,
Nunca serás Presidente.
Quem mandou ter estudado!
Jogue o diploma fora
Rápida e urgentemente,
Senão, desta vais embora
Sem que sejas presidente!
Aonde esse país vai?
Pois nada dá mais retorno
Do que estudar no SENAI
E saber tudo de torno!
E se tu fores herói,
Sofre só mais um pouquinho,
Tá bom, concordo que dói!
Mas decepa o teu mindinho!
Depois tu hás de mostrá-lo
- Uma conquista arretada! -
E o eleitor vai tratá-lo
Como relíquia sagrada!
E se puderes, reclama!
De tudo! Com qualquer termo!
Nem deixes morrer a chama
Do ódio pelo governo!
Principalmente, emburreças!
Completa e urgentemente,
A menos que embruteças,
Jamais serás Presidente!
Olha-te bem no espelho.
E vejas se essa encara!
Sigas à risca o conselho:
Põe uma barba na cara!
Não te esqueças de falar
Sem nunca fazer sentido,
E também de adotar
Um simplório apelido.
Procure-o aqui nesta rima,
E jamais sigas a bula!
Porque aqui ela ensina
Algo que o povo engula!
Contrate um bom marqueteiro...
- Pode ser eu, por que não? -
Que estabeleça o roteiro
Dos destinos da nação.
Ao pobre prometa tudo
Já para o rico maduro,
- Escutas, que eu não me iludo -
Pra eles aumenta o juro!
Aparente sapiência,
Enrolas os que fofocam.
Afinal, à presidência,
Tu chegas, eles pipocam!
Se queres ser presidente
Não contrate salafrárias.
Lembra-te: por acidente
Bill comia estagiárias!
E aprendas com Fidel
Que é barbudo também,
A reconhecer o fel.
Não confies em ninguém!
Veja o exemplo do Hugo,
O rei maior da balela.
Que com cara de texugo
Enrola a Venezuela!
E entre logo no samba,
Que é bem louco e desatina,
Aprendendo corda bamba
Com o amigo da Argentina!
E cuidado com a preguiça.
- Veja o Rio de Janeiro -
Senão de lá da Suíça
Devolvem o teu dinheiro!
Invente um grande programa,
Aparentemente sincero,
E dê-lhe um nome de fama:
Por exemplo: Fome Zero!
E pra não haver apego,
Clareie em tua cabeça:
Zero de grana e de emprego,
E ai de quem não obedeça!
Haverá o inconformado,
E será geral a grita,
Porém o esfomeado,
Em qualquer coisa acredita!
Depois banque o Robin Hude
E nisso tu te desdobres,
Peça que o rico te ajude
E finjas que dás aos pobres!
Grite ao país vizinho
Que a fome tens atacado
Depois vá pro teu cantinho
Tomar teu vinho importado.
Eu, do meu lado, amigo,
Até que gosto das fomes!
Ter fome não é castigo
E se não tiver, tu somes!
Falta de fome é doença,
Já dizia minha tia,
E que tem nome e sentença:
Chama-se anorexia!
Portanto, não é a fome,
O problema dessa vida.
O problema é QUEM come!
Pois o que falta é comida!
Finjas que vais resolver
E dar de comer ao povo;
Assim o povo vai ver
Que tens um discurso novo!
Não te importes, se o dinheiro
Que deveria chegar
À boca do brasileiro
Pelo caminho ficar.
Teus ministros, secretários,
Terceiro e quarto escalão,
Farão cara de otários
Pra poder botar a mão!
Raspe os cofres a fundo
Do erário da União,
Que marcarás para o mundo
Teu nome e teu coração.
Que te importa se essa grana
Vai sumir de antemão
No bolso de um “bacana”?
O que importa é a intenção!
Tu te perdes, se explicares,
- Não faças o povo sofrer -
Depois que te aposentares,
Como o povo vai comer!
Porque mais fácil que tudo,
É o peixe na mão se dar.
Mestres não ensinam tudo,
Principalmente, a pescar!
Se seis meses conseguires
Manter o teu “Fome Zero”
Vais andar em arco-íris,
Convencerás que és sincero!
E se der certo de fato,
E embora a fome for,
Biafra, quase no ato,
De ti fará consultor!
Depois virá Moçambique
Bangladesh e os quetais,
Somália, que indo a pique,
Te chamará ainda mais!
Pois pense nisso, meu caro!
O mercado é promissor!
Pois no mundo em desamparo
Parece só haver dor!
Talvez alguém te pergunte
Matar fome, sem emprego?
Mas com esses não assuntes,
Ou terás desassossego!
Para que gerar emprego,
Se darás o pão de graça?
E se, nesse desapego,
Vão comê-lo com cachaça?
Portanto, meu grande amigo,
A cabeça não esquentes,
Demagogos como tu
Foram e serão presidentes!
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