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Teses_Monologos-->Monólogo do Escritor -- 31/03/2002 - 07:42 (Francisco Assis de Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Monólogo do Escritor
Dedicado a todos os noveleiros


O conhecimento é fruto do pensamento lógico e criativo, logo, aquele que medita a respeito de algo conhece em primeira mão, como se ele mesmo fosse o seu mentor. O autor de caráter não sela compromisso com interesses mercantilistas seus ou alheios. Escreve suas concepções, que são a sua verdade, sem considerar o que é ensinado nas escolas. E mediante o ato de escrever que o ajuda a pensar, encontra a porta de saída do seu labirinto mental. E como se certifica que pensa à frente do seu tempo, não assimila conceitos superficiais.
Uma de suas qualidades é expressar as idéias em linguagem e estilo pessoais. Tem o dom de reconhecer que tudo aquilo que é pensado acerca de um determinado assunto, nunca é a sua extensão, nem inteiramente verdadeiro como o próprio tema. É equivalente a uma fotografia em preto e branco, que apenas dá uma noção do todo, ocultando inúmeros pormenores. E quando tenta transferir essa imagem para a mente dos demais, sabe que toda sua força e beleza são prejudicadas pela insuficiência dos vocábulos.
Idéias sem Subterfúgios
– Pensei em escrever os primeiros rascunhos desse sonho com quatorze anos de idade. Naquela época a Igreja Católica – na qual forçado por meus pais, assistia missa aos domingos – organizou em diversas cidades brasileiras, a marcha com Deus pela família e liberdade. Aquelas passeatas serviram de suporte e fizeram implodir a gloriosa revolução, (Movimento Militar de l964). Naquele lugar, presenciei padres e soldados juntos em delírio, numa demonstração plena de atraso cívico e moral. Com os poucos anos de vida que contava, vi aquela coisa como um horror. Porém, era a realidade do momento, que sepultaria por muitos anos as minhas fantasias. O que estava sendo mostrado era o inverso do que eu sonhava, porque a época, a sociedade e os meios eram adversos. Portanto, perdia o ensejo de ser um pensador não-conformista, conformando-me em ouvir a Voz do Brasil. A guinada dos meus pensamentos quase me levou à depressão do receio. Depois concluí que a vida é desse modo. Todas as oportunidades visíveis sumiram. Para os meus adolescentes olhos, as portas se fecharam. Minha liberdade de pensamento permaneceu dentro de mim, mas não queria converter-se em opinião. Aquele episódio foi o maior mal à minha geração, (do Lamarca e do Chico Buarque). Cheguei a conjeturar que a situação era definitiva, que extinguiria para sempre meu brio juvenil. Não fazia idéia de que na idade madura, teria ânimo e entusiasmo para iniciar a realização daquilo que durante muito tempo permaneceu adormecido. Por fim, num lance de mistério e de tempo, aconteceu. Doravante, só os impedimentos podem interromper essa caminhada neste mundo de lucubrações. O impulso natural para escrever é um dom que nasce com o indivíduo, não é tarefa para quem é pago para executá-la, como um operário das letras. Quando uma produção literária é encomendada por alguém, é feito rigorosamente como o patrão quer, não é uma expressão espontânea da alma. Para esse ofício inato, proporcional ao mérito pessoal, não é necessário cursar uma universidade; e o fato de freqüentar aulas não prepara nem credencia ninguém para o mesmo. O máximo que pode ser ensinado nos cursos é o desenvolvimento de títulos e a redação de acontecimentos, tal qual um relatório de trabalho. Isto toda pessoa alfabetizada tem condições de fazer com ou sem qualidade, conforme a sua aptidão individual. A literatura consiste num conjunto de concepções concatenadas; resultado da inteligência criadora da sua realidade passada, presente ou futura. O escritor é alguém que tem compromisso com a verdade, que busca a autenticidade do que escreve com originalidade, independência e coragem. Ele cunha neologismos por necessidade e não por comodismo ou desconhecimento do vocabulário da língua, como fazem outros. Às vezes labuta com tal habilidade e tamanha profundeza, que seus concidadãos de pensamento confinado, se frustram; indo a ponto de inferir que há algum culto secreto arranjado no seu trabalho ou na sua abstração. Este pode ter sido o caso de Machado de Assis. Na maior parte das vezes a pessoa que escreve está intimamente comprometida com os movimentos sociais de vanguarda, se não, é afetada por uma misteriosa simpatia por eles. Quando não alenta desprezo pelo grupo que detém o mando – e que por isso, engana, explora e sufoca a camada mais humilde da população – procura se afastar dele. É um indivíduo sem inclinação para a ditadura da hipocrisia e da esmola oficial, que se dedica interiormente à liberdade moral do homem. Que não sente nenhum prazer no luxo e no grã-finismo, nem em tomar parte em solenidades da elite vaidosa. Dá preferência à simplicidade da vida, ao sossego, à família, à companhia de amigos da adolescência, e jamais está buscando deliberadamente dinheiro ou poder. Nunca ambiciona ser agraciado com insígnia de honra ao mérito, o que considera um adorno irrisório, resultado da impostura ideológica. Uma vez que todo antro de falsidade humana – instituído no ambiente da vida urbana no mundo – agride a personalidade e a grandeza de alma de um pensador. Na sua concepção, a condecoração do escritor é a verdade com que escreve. E por isso sintetiza que medalhas são enfeites para ídolos, generais e políticos. Nem mesmo uma cadeira na academia de letras tem força para despertar-lhe o senso de vaidade, vício inexistente na sua individualidade. É esse o exato procedimento moral do verdadeiro escritor por vocação, que jamais aproveita as oportunidades para se transformar num mercenário da literatura. O trabalho de escrever não é uma profissão; é uma arte patrocinada pelo prazer íntimo da alma; logo, não se coaduna como meio de subsistência na vida moderna. Um autor que toma a decisão de tirar seu sustento unicamente da venda dos seus livros, como se fora um comerciante, incorre em contradição. Mais o que é reprovável, é ser um profissional que redige sobre um tema aleatoriamente escolhido por outrem, com o compromisso de se adequar a um alvo. Nesse domínio ninguém tem o direito de se comportar como um político, se esforçando para cair no gosto do leitor, sublimando o fingimento com objetivo mercadológico. O escrevedor não podia ser uma mercadoria para o consumo, ou um empregado preocupado com o mercado de trabalho, mas sim, um símbolo da coerência humana. É dignificante que, quem escreve, o faça com total autonomia, expondo as suas idéias sem preconceitos, ainda quando, a sociedade enredada no materialismo e na falta de amor à humanidade, se volte contra ele. Esta é a atitude a ser adotada com firmeza, mesmo que seus livros fiquem encalhados nas prateleiras das estantes, em conseqüência da propaganda contrária. Ou, inclusive, que sejam comprados pelos indivíduos de poder econômico e político, só para retirá-los do comércio e queimá-los. Quando semelhante situação ocorre, somente as futuras gerações tributam ao cultor da literatura marginalizado, o justo reconhecimento. Pois esse vive numa comunidade que por inércia mental, recusa-se a raciocinar, porque acha mais cômodo assimilar aquilo que a televisão prepara e condiciona para ela. Um autor de telenovelas que escreve sondando a preferência do telespectador somente para atrair sua audiência, não passa de um redator de aluguel, dominado pelos patrões e cativo do dinheiro. E qualquer enredo literário por ele produzido, é mercadoria de negócio, muito longe do sentimento da alma de um autêntico literato. A vontade de escrever um livro não pode ser um sonho, ela é inteiramente a realidade mais íntima de um ser humano. Porque uma obra é necessariamente a revelação estereotipada do âmago do autor. Visto que, através dela, o homem descobre seus talentos e se integra à sua verdadeira personalidade. É inconcebível uma pessoa estudar para ser escritor, ou alguém ensinar outrem a escrever literariamente, porque essa prática está subordinada à arte da reflexão que encerra o produto do pensamento. Por ter natureza intangível, não pode ser um encargo programado com técnicas ensinadas em oficinas lingüísticas para firmar um estilo e adquirir originalidade formal. Por conseguinte, um analfabeto só não pode ser escritor, porque não aprendeu a desenhar as letras, mas pode vir a ser um orador expressivo, mais profundo do que outros que freqüentaram a escola durante anos, ouvindo opiniões e acumulando dados na memória. Alguns autores por serem dependentes da mentalidade alheia se contradizem dentro dos próprios conteúdos. Um relevante demonstrador dessa contradição é um grande e popular dicionário... Inconscientemente, aqueles indivíduos evitam falar por si mesmos, e, por comodismo de raciocínio, repetem as idéias formadas por outros, podendo estar incorrendo em erros gravíssimos, sem saber. A verdade de cada um se combina primeiro com seu particular modo de ser e pensar, para depois se adaptar ou imiscuir-se com as estranhas. Nenhuma pessoa precisa temer ser tachado disso ou daquilo, desde que use da sua liberdade para fazer ou dizer o que pensa. Se alguém tem opinião pessoal, é justo que, para ele, a mesma seja importante, pois como todos somos ignorantes, ninguém dispõe de autoridade para proclamar qual a mais acertada. Porém, mais lamentável do que a não aceitação do seu ponto de vista por seu meio, é o engano vergonhoso e generalizado de expressar idéias alheias como se fossem suas, ou ainda, ouvir a própria opinião da boca dos outros. Não há necessidade de artifícios ocultos que acabam inibindo o estilo individual e concorrendo para desvirtuar o projeto original. É conveniente esquecer algumas regras vazias que foram produzidas por quem não se dedicou a pensar corretamente antes de editá-las. Não se compadeça de falar livremente de si ou dos outros, em deferência à idiossincrasia humana, como antes e de forma diferente se exprimiu Afonso Arinos. Ninguém é senhor da verdade incontestável. Quase tudo, são convenções propositais e servíveis a um grupo. Qualquer escritor pode proceder de maneira autêntica sem ser personalista, mas precisa mostrar o que é.

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