Em um telão, nos corredores do Senado Federal, eu assistia às preliminares da sessão secreta para julgar a cassação do Senador Renan Calheiros. Tão logo o Senador Tião Viana, presidente da sessão, declarou que a partir daquele momento a sessão seria secreta, a televisão encerrou a transmissão e o telão se apagou. Logo atrás de mim estava a jornalista Dinalva Ferreira que, de repente, perguntou-me: “E agora?” Dei uma resposta burocrática, dizendo que agora contávamos com a boa vontade dos senadores secretos para nos dizer o que havia ocorrido.*
Instantes depois, percebi que a resposta poderia ter sido melhor elaborada se eu tivesse comparado a política ao futebol e respondido assim:
_Dinalva, sinto-me como um torcedor que comprou um ingresso para assistir ao jogo do Brasil e Argentina. O ingresso, entenda-o como sendo o voto. É certo que não poderei entrar em campo, chutar a bola e fazer o gol. Isto equivale a discursar e votar. A minha participação no jogo é somente assisti-lo, vibrar com as jogadas bonitas, rir das caneladas e lamentar as chances perdidas de gol. Entenda como assistir à sessão, vibrar com os discursos bem elaborados, rir das asneiras que alguns senadores dirão e lamentar os discursos precários. Xingar o juiz faz parte do jogo, mas conheço a competência do Senador Tião Viana, e não seria o caso. Agora existem dois agravantes. No futebol, com a participação da torcida, o técnico escolhe os jogadores. Na política, os técnicos somos nós, eleitores que escolhemos os senadores. Nessa sessão secreta, os próprios jogadores impediram a entrada dos técnicos e da torcida. Como pode o técnico avaliar os seus jogadores se ele não assistir ao jogo? De que maneira o técnico e a torcida poderão reconvocá-los para um próximo jogo? Próximo jogo entenda como próxima eleição.
Naquele dia havia uma grande expectativa do povo pela cassação do Senador Renan Calheiros, mas os senadores o inocentaram. É como se tivessem feito oitenta e um gols contra.
Se a Dinalva repetisse a pergunta E agora? Eu responderia: “Agora, a gente escala outro time para a próxima eleição”.