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Artigos-->Antropologia: o Evangelho e a aculturação indígena -- 20/11/2001 - 09:22 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um missionário evangélico entre os índios na Amazônia expôs um breve relato sobre sua atuação e os conflitos que enfrenta por conta da oposição da FUNAI ao trabalho evangelístico entre os povos indígenas, orientada pelo entendimento dos antropólogos brasileiros sobre o que chamam de “aculturação” indevida dos índios.



As atitudes da FUNAI podem se explicadas historicamente. Nos tempos do Marechal Rondon, o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) foi criado com o propósito de aproximar os índios brasileiros da “civilização”. Ou seja, se os índios estavam isolados em sua reservas, alienados dos benefícios que a dita civilização propicia, então que fossem inseridos nela, pra que fossem “domesticados”. O resultado não poderia ser outro senão a perda da identidade de índios que, não se adaptando ao estilo de vida “civilizado”, sentiram-se compungidos a voltar às origens. O grande problema é que os índios que se recusaram a aderir a essa política integracionista não reconheciam mais naqueles índios civilizados membros puros em suas comunidades, ficando os mesmos sem saber a que cultura pertenciam. Descoberto o engano, foi extinto o SPI, dando lugar à FUNAI, cuja política foi em direção oposta à do SPI: o objetivo agora era manter os índios isolados em suas reservas, longe do contado com o homem branco.



Resoluções da FUNAI estabeleceram as normas para que os missionários pudessem acessar as reservas indígenas. Uma das resoluções estabelece que as reservas indígenas nas quais haja povos nunca dantes contatados somente podem ser visitadas por homens brancos na hipótese de os índios estarem correndo risco de vida. Ou seja, os missionários não podem, por exemplo, manter contato com os Zoé’s, tribo de índios que ainda não tiveram contato com a dita civilização.



O missionário questionou primeiramente o conceito de civilização, afirmando que se trata de um tremendo equívoco dizer que os índios não são civilizados, ou que a sua cultura, sendo primitiva, é inferior à dos brancos. Dizia ele que qualquer povo é civilizado na medida em que vive em sociedade e tem suas características próprias quanto à estrutura dessa sociedade, governo, usos e costumes, tradições e mitos. Por que considerar os povos indígenas não civilizados? Porque não têm os mesmo elementos da civilização ocidental? Ou porque sua tecnologia, ou melhor, os instrumentos pelos quais resolvem seus problemas cotidianos, não são os mesmos de outras culturas? Se ao invés de vara de pescar usam arpões, e de espingarda, flechas, eles são inferiores a nós ou incivilizados?



Quando chegou no ponto de questionar o conceito de aculturação, motivo pelo qual a FUNAI não quer a evangelização dos índios, o missionário foi mais enfático. Disse ser uma hipocrisia de certos antropólogos a afirmação que o anunciar o Evangelho e levar os índios a trocar de religião é uma violência muito maior do que permitir que madeireiros invadam as reservas indígenas e extraiam irregularmente o mogno que enfeita os lares ingleses, sem ficar um tostão no Brasil e muito menos pra beneficiar os índios.



Disse que é uma hipocrisia por dois motivos: o primeiro é que na cosmovisão indígena não há a separação entre o secular e o sagrado, peculiar na cultura ocidental; não é o caso da cosmovisão do ocidente em que religião e modo de sobrevivência ou mesmo o contato com a natureza nada têm em comum. Os índios compreendem a natureza de forma animista e integral. Quer dizer, todas as coisas na natureza têm um espírito, e cada espírito se submete a um outro superior. Se uma árvore tem um espírito, quando uma é derrubada não se está matando apenas uma árvore, mas o espírito que nela habita, o que atrairia a ira da Natureza e as conseqüências diretas disso seriam a escassez de caça e pesca, a ausência da chuva quando necessária ou a presença dela, quando não, etc... Logo, essa explicação antropológica que faz distinção oficial/antropológica entre o derrubar uma árvore e a afirmação evangélica que o índio tem uma alma e precisa de salvação erra por não entender a cosmovisão indígena, ou deliberadamente ignorá-la, ainda mais quando nega ao missionário a pregação mas permite ao madeireiro a extração.



Em segundo lugar, porque usa dois pesos e duas medidas no aplicação do método científico-antropológico na avaliação do que seria a destruição cultural de um povo. Dizem os antropólogos que anunciar aos índios Jesus como o Salvador, e que os índios precisam dele para serem salvos é uma violência absurda e inaceitável porque mutila e, nos casos dos índios convertidos, destrói totalmente a sua cultura, quando lhes impõe uma cosmovisão alheia, diferente, de forma intrusa e violenta. É aplicar nela a teologia ocidental e suas explicações para os mesmos fenômenos para os quais os índios já têm a sua própria. Quando indagados por que a suposta imposição da religião cristã é a mais violenta forma de aculturação os antropólogos se perdem em explicações que não suportam análise. E são desonestos exatamente pelo que direi a seguir.



Considerando que aculturação significa a alteração, total ou parcial de aspectos culturais de um povo a partir do contato direto e contínuo entre culturas distintas, por que esses mesmos antropólogos não questionam a luta de um de seus pares, Luís Mott, presidente do grupo Gay da Bahia, no sentido de impor o homossexualismo à cultura nacional? Analisando friamente, usando o método científico-antropológico, pode-se afirmar que o homossexualismo é um traço presente, peculiar, típico da cultura, da sociedade brasileira? Se tiverem que ser honestos os antropólogos terão que responder: Não. Não é comportamento que possa ser definido como integrante de nossa cultura heterossexual. Por que então esses mesmo antropólogos não se levantam contra essa tentativa de alterar essa cultura nacional por conta de uma suposta luta pelo direito dos homossexuais? Não estaria esse antropólogo usando mal a ciência para impor aos brasileiros um comportamento culturalmente estranho?



Terminou o missionário por dizer que o Evangelho é supra-cultural, expondo de forma lúcida como a Bíblia fala que homens de todas as tribos, povos e raças um dia louvarão a Deus. E que a mensagem do Evangelho tem que ser anunciada em todo o mundo, a todas as criaturas, pois, como bem disse, a cultura é diferente de povo para povo, porém a alma de cada homem é essencialmente igual, cada uma preciosa aos olhos de Deus, tão preciosa que enviou Seu Filho ao mundo para salvá-la.

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