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Poesias-->Sorte -- 01/08/2002 - 13:47 (Valéria Tarelho) |
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Sorte
Falta de sorte
essa vida de amante
Ser a outra é loucura
É um viver na clausura
na luxúria, na usura
usurpando-se do alheio
num jogo de regras e rendas
ditadas da seguinte maneira:
Para ser amante...
Há que vestir-se de organza
rendas, sedas
Render-se e ceder ao desejo
Organizar um banquete
Há que entender de prazer
e prazer proporcionar
Ajuda, também, ousadia
ser amante das letras
ter um caso com a poesia
fazer amor em prosa e verso
declarar fidelidade ao Universo
Declamar, nua,
como quem declama um épico,
poemas eróticos
de um poeta das ruas
Estar receptível, aberta
tomar banho de leite
banho de loja
banho de cheiro
dar banho de beijo
banho deleite
banho adega
(regado à vinho)
Doar-se, ser entrega
alimento servido no ninho
Deixar seu rastro na história
em versos rabiscados
assinados à batom
em guardanapos timbrados
de um motel qualquer
Carimbar, com todo cuidado
beijo-tatoo no colarinho dele
e beijo-mordida na pele
(papéis-pergaminho
de poemas-pecado)
Jamais cometer gafes
e falhas de memória
que proporcionem lembranças
e ocasionem desavenças
como esquecer uma peça íntima
no paletó do amado...
Tenha dó...ele é casado!
Há que saber uma dança
e dançar conforme a música
Ter fôlego de criança
mesmo que ofegante
e pernas de atleta
mesmo que pernas bambas
Encarar a maratona
do correr na contramão
sabendo-se campeã
ou troféu de garanhão
Há que vestir-se para o crime
e despir-se dos valores
Ter um pretinho básico
que caia como uma luva
incrivelmente decotado
com zíper nas costas
da nuca até o quadril
abrindo possíveis chances
de derrapagem nas curvas
Sob ele, e sobre a pele
apenas transparências
que ocultem e revelem
reentrâncias, reticências...
Há que ter olhar magnético
atrair todos os sexos
com seu andar rebolado
Há que ser sensual
seduzir toda espécie animal
solteiros, casados
enrolados
qualquer estado civil
do moleque ao senil
todos no cio natural
da fome, dita, carnal
Saber várias línguas
mesmo que em um idioma
Entender dialetos e sinais
um simples toque decifrar
e traduzir ao pé da letra
um grunhido, um gemido
um linguajar vulgar
Conhecer a fundo
linguagem corporal
ter profunda sapiência
discernir o bem do mal
e dar lições de anatomia
Ter paladar apurado
apreciar iguarias
e comidas exóticas
ser o prato predileto
manjar dos deuses
e quentinha de bóia-fria
para escapadinhas ao meio-dia
Ser isca, petisco
aperitivo
algo nutritivo para se beliscar
Possuir habilidades manuais
manusear instrumentos
deixar-se manipular
Tirar líquido de pedra
engolir a seco o pranto
na hora da despedida
Ser prendada e atrevida
na arte dos encontros às escondidas
Há que entender de lucros e perdas
das altas da concorrente
das quedas de movimento
Preparar-se para a quebra
em benefício da matriz
e , ainda, dizer-se feliz
Há que possuir sorte aos montes
e, apenas por precaução,
uma plantação de "clovers"
porque é muito azar ser amante!
É muita falta de sorte
Apaixonar-se perdidamente
por um amor de momentos
É viver a perder batalhas
(sem entregar os pontos)
viver sempre dividida
blefar no jogo da vida
por não ter outra escolha
Vencer na categoria "a outra"
sair do time reserva "amante"
e passar ao principal
são meras expectativas...
Possivelmente ocorra
com sorte de principiante
e uma lavoura
de trevos de quatro folhas
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Valéria Tarelho
http://almadepoeta.weblogger.com.br
http://www.poesiailustrada.hpg.com.br
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