Movido por uma enorme expectativa, pela enésima vez tornei a assistir o filme "Eine Stadt sucht den Mörder" [Uma cidade procura o assassino], do grande Fritz Lang. O título, em português, é um acontecimento: "M, o vampiro de Düsseldorf".
No cartaz do filme e na capa da fita de vídeo, o olhar de Peter Lorre (foi ator da companhia de Brecht), com a letra "M", de "Mörder" (assassino) escrita a giz no paletó preto.
Na cena final, uma assembléia de mendigos, afetados em seus proventos pelos assassinatos de crianças perpetrados pelo "vampiro" da tradução brasileira, é obrigada a ouvir do acusado um impressionante discurso de autodefesa. O discurso, na verdade, acaba funcionando como uma peça da acusação. Só que contra a assembléia julgadora.
A seqüência inicial inteira é uma aula de estética expressionista, com o uso do preto e branco e do jogo de luz e sombra, cinema puro, levados a uma culminância raramente alcançada no cinema em todos os tempos. Não se dá a ver o assassinato e nem o corpo da criança assassinada, apenas uma bola desce rolando por um pequeno declive um pouco abaixo daquele que intuímos como sendo o local do crime. Em seguida, a câmera flagra um balão de ar preso à fiação de um poste de iluminação. O balão tinha a forma de um boneco. A menina o recebera de presente das mãos do suposto assassino um pouco antes. Deste, na verdade, até ali, só tínhamos visto a sombra, projetada exatamente sobre um dos cartazes de busca, que prometia uma soma relevante em dinheiro para quem o identificasse. Enquanto isso, sozinha e distraída, a menina joga a bola contra a parede onde o cartaz se encontra afixado.
Uma lástima a cópia comercializada pela Editora Altaya, de inúmeros maus serviços prestados com suas outras coleções de música ou literatura. Sobre a legenda anterior, em inglês, da qual ainda se podem ver algumas rebarbas, simplesmente colaram uma nova tarja com a legenda em português. Não é fácil ter prazer em presença de tantos ruídos acumulados sobre uma só fita de vídeo: o som do original (alemão) é indiscernível, e a maçaroca das legendas ocupa, muito desagradavelmente, todo o campo inferior da tela, para não falar das perdas com que já arcamos, de resto, nas laterais. Haja!
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