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Teses_Monologos-->Monólogo do Policial -- 30/03/2002 - 14:09 (Francisco Assis de Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Monólogo do Policial
Dedicado aos policiais dignos


A polícia é o segmento mais preconceituoso da sociedade. Ela evidencia odiar os pobres, e se compraz em servir à classe dirigente. Os delegados, a despeito de procederem da classe dominada, sentem prazer em ser úteis ao sistema. Muitos membros se realizam trabalhando nos subúrbios, onde extravasam seus instintos maus e seu sadismo. Entretanto, essa mesma corporação se intimida diante de quem detém poder.
Devassei as vísceras desse corpo entulhado de anomalias. Ante os poderosos, policiais e autoridades aparentam meninos reprimidos, fazendo a vontade daqueles. Caminham como ovelhas dóceis da metamorfose policial inédita. Por suas fraquezas inerentes, fazem-se símbolos do servilismo humano. E as pessoas influentes não obstante nutram-lhe aversões, como precisam usar seus serviços contra o inimigo, fingem admirá-la.
A ética médica que merece tantos elogios da comunidade, também apresenta suas degradações. Alguns cirurgiões são conhecidos na esfera policial como médicos solidários. São aqueles que, além de não procurar minorar a dor do paciente, retarda o atendimento na expectativa de que o marginal não resista. Essa conduta antiética só se verifica, quando chega ao hospital, um bandido gravemente ferido e recomendado.
Discurso da Torpeza
– Na opinião de muitos policiais, bandido é uma raça desgraçada que tem de morrer. Por isso na seqüência de uma prisão, levam-no para o mato ou para o pau. Quando operam na periferia, já entram atirando, forçando os moradores para dentro de casa. Nessas áreas não tem lei. Pode até pôr fogo ao barraco que fica por isso mesmo. O carro é descaracterizado! A placa é fria! Se houver chance, é só mais um “presunto” que mandam para o inferno mais cedo. E quando o elemento corre, alguns que não medem conseqüências, atiram nas costas para se deleitar durante o socorro retardado à vítima. Às vezes o chefe fica preocupado, e o pessoal é obrigado a acalmá-lo. Diz que o “cara” é um pé-rapado, não dá nada! Que nem a imprensa nem os políticos querem saber de pé-de-chinelo. Para a vizinhança calejada, é apenas mais um morto no seu dia-a-dia. Para a alta sociedade, pobre é sinônimo de marginal, tem de se “lascar”. Quando é indigente, não se vê a cara de defensor público; nem mesmo a turma dos direitos humanos aparece. Não dá Ibope! Advogado! Nem pensar!... E aquele relatório de fantasia da ONU, não passa de uma versão de jornalista que fica ouvindo conversa de policiais. Esses sujeitos sabem inventar as coisas: aproximam suas idéias da realidade e assim convencem os manés. Porém, a verdade mesmo, tem outra feição. Se fosse só aquilo que é noticiado seria uma maravilha. Esses boatos de afogar o elemento no lago, de dá choques na gengiva, de enfiar agulha embaixo das unhas, de ameaçar os filhos, faz parte da rotina, o pior ninguém comenta porque não sabe! Os exames do IML não comprovam as acusações! E quem vai querer ser tachado de mentiroso? A polícia, não obstante a cegueira dos poderes constituídos, é um órgão autocrático que nos bastidores age ao arrepio da lei e à revelia das ordens expedidas. Não abre os olhos para ver que a situação mudou. Os governos democráticos falam de progresso no Brasil do real, e o que avança mesmo é o crime organizado! Portanto, a cada dia fica mais cômodo trabalhar. Quem vai testemunhar contra a polícia? Não é doido! Tem mulher e filhos! Para o nosso presidente tudo é picuinha, logo, só dá alguma coisa se não souber fazer. Foi nesse governo que presos foram mortos nas custódias da famosa polícia, igual ocorria no regime militar. Não vou nem fazer comentários sobre as ações dos grupos de elite, daquelas siglas que colecionam troféus! Hoje, está provado que governo militar é uma ilusão, civil é muito melhor, que não entende nem interfere no andamento do serviço. As autoridades só conseguem saber o que acontece no país, nesse campo, quando a ONU relata. E ainda assim, não sabem tomar providências. Os políticos vivem no mundo do supérfluo e das câmaras, extravasando sua vaidade. Como eles podem não enxergar? É tudo falsidade! Ninguém assume que sabe! São capachos do poder. Julgam-se acima do bem e do mal, como se a desgraça alheia não lhes dissesse respeito. Na polícia brasileira é praxe arraigada as autoridades agirem movidas pelo interesse, ou em proveito das pessoas influentes. Os delegados conhecidos como suspeitos, são lotados de propósito nos setores principais a fim de fechar o círculo, não obstante os dossiês oficiais. E não é porque o chefe é “burro”, ao contrário, ele tem seus motivos. A culpa é sempre do superior que não tem ousadia de usufruir o cargo a não ser indiretamente, por isso põe alguém talhado para o posto, e assim não se compromete. Diante dessa situação vergonhosa que envolve parte da cúpula dos organismos de segurança, a única saída plausível é a extinção urgente do Inquérito Policial, esse monstro que fomenta a corrupção e o crime organizado no Brasil. Até porque esse trabalho daquelas autoridades é escusado; é um gasto inútil de tempo, de dinheiro e de papel, já que tudo vai ser feito novamente pelo juiz e o promotor. Delegado de polícia nunca investiga ou descobre nada, ele apenas manda pôr por escrito aquilo que os policiais produzem com esforço e com suor. Nunca tive a desventura de ser utilizado como jagunço. Porém, o grande suplício da função é assistir às reuniões. O Estado que paga um policial para traficar, usar droga e extorquir os outros, é mais culpado do que o próprio elemento. E os superiores que sabem e não adotam nenhuma providência contra esses bandidos de carteira funcional, estão comprometidos e são indignos dos postos que ocupam. Raramente vemos esses delinqüentes que traem a sociedade e o juramento de defendê-la, banidos do quadro de pessoal. Essa prática é a maior aberração do poder público na atualidade. No nosso meio é comum o ingresso da personalidade volúvel, isto é, de alguém que porta alguma anormalidade. Esses indivíduos por despeito e egoísmo alentam o desejo secreto de reduzir os colegas à condição de inúteis, e os demais, de coitados. O autêntico homem de polícia é violento e contrário à legalidade. Existem uns camaradas conscientes da nossa realidade, mas o policial nato, revelando a lucidez do maníaco, vocifera que o certo era não deixar nenhum marginal vivo. Esses são os desastrosos da função, que cedo ou tarde, extrapolam as atribuições abraçando a degeneração, ou se fazendo criminosos de fato. Avaliados na sua estreita visão, deviam ser eliminados pelos policiais legalistas que trabalham em obediência à lei. São elementos capazes de alentar vingança por um indivíduo que furta uma caneta. Todavia, quando o criminoso é ele, falta com o dever legal, não se impõe nenhuma exigência, dar-se ilimitada liberdade. Geralmente, “afana” pequenos objetos da repartição; não cumpre com a palavra empenhada; e sente prazer em nunca falar a verdade, como muita gente da sociedade considerada polida. No fundo, é um cultor da mentira. Quando não diz uma inverdade total, distorce a narração dos fatos. Na sua concepção paranóica, quando o agente da ação é ele, tudo é permitido; mas tratando-se dos outros, tudo é proibido. São pessoas que se destemperam diante de um acidente com um filho e choram sem consolo, porque são materialistas presumidos. E como são pouco racionais, na sua insignificância espiritual tornam-se dependentes, apegando-se por debilidade à corporação. Quando for comprar novas viaturas o governo não pode optar pelos modelos de luxo, para evitar que as autoridades as transformem em carros particulares. Pois além da disparidade salarial entre delegado e agente de polícia, há também o tratamento diferenciado. Quando o subalterno honrado comete um deslize, é punido por vingança. Quando o superior perpetra uma falta grave, muitas vezes é acobertado pelos chefes das corregedorias. Esse é um dos fatores que concorre para gerar indignação naqueles que têm hombridade, sobrando apenas os molambos para retirar as caspas do terno do patrão. Uns são usados, e sentem prazer quando vão vigiar uma residência ou surrar um vizinho da fazenda do primo da mulher de um doutor, que o está incomodando. Para essas ações eles se reúnem com euforia, convencidos de que estão engrandecendo o nome do órgão ao “fazer média” com pessoas ricas ou ligadas ao poder. Geralmente a apreciação feita é negativa. Eles são vistos como moleques de recado, como capangas de fazendeiro, e são considerados pelos próprios aproveitadores, como vermes da sociedade, seres incapazes de pensar. E estranhamente, essas aventuras são efetuadas por bacharéis em direito, que depois do feito, passeiam comentando detalhes pelos corredores, orgulhosos da função e da façanha. São elementos que não praticam a autocrítica, desse modo vão para casa, extasiados, acreditando no bom serviço prestado à classe dominante. É com esse panorama pernicioso que raros policiais de brio se deparam, por isso se decepcionam, se rebelam e se recusam a compartilhar. Depois desses lances, eles são olhados como inimigos; restam-lhes poucas amizades; subtraem-lhes as oportunidades; são anulados pelos superiores que em regra debocham da dignidade; e ficam sem chance de progresso na vida funcional. Se porventura passar na prova de conhecimentos para delegado do seu órgão, fatalmente será reprovado no exame psicotécnico, instrumento que pode segregar uns e beneficiar outros, especialmente os filhos de umas autoridades que estão se aposentando ou aposentadas. Essa é a abominável realidade das nossas corporações de segurança que parecem não ter mais concerto. E ainda por cima, têm de conviver com aqueles bacharéis broncos que estudam horas e horas e não conseguem aprovação em concurso público... Esses indivíduos, divididos entre as duas classes, por via de regra, têm comportamento ambíguo, assemelhando-se a um delegado frustrado. Não perdem o cacoete de agente, mas assimilam a conduta nociva de muitas autoridades. É um servidor numa metamorfose diferente e doentia, sem respeito e sem cargo, que vive em dúvida quanto a sua condição e a sua expectativa.

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