SEU EUCLIDES
Pastoral da Comunicação
Estivemos no Cemitério dos Eucaliptos para a nossa despedida.
Assistimos à missa por sua intenção, seguida de seu sepultamento.
Depois de três dias chuvosos e cinzentos, tínhamos a sensação de que, em sua homenagem, mostrando a alegria dos céus, o sol voltava a brilhar naquela tarde calma, clara e fria, em que o silêncio só era quebrado pelas orações e cantos. Pairava no ar um sentimento ambíguo: comoção envolvente, tristeza e dor profundas, pela separação; mas ao mesmo tempo resignação, pois nos consolava e até deixava em nossos corações um lampejo de alegria, a certeza de que, junto a Deus, como anunciava o brilho daquele sol, sua chegada era muito festejada.
É verdade, queríamos tê-lo conosco por muito tempo ainda. No entanto, pensar que sua vida foi bem vivida e que o Senhor nos deixou grandes exemplos nos conforta. Exemplos de fé e perseverança, religiosidade profunda, vida familiar exemplar, dedicação a serviço da Igreja, homem resignado, enfrentando todas as provações com aceitação e paciência...
Seu Euclides, gostaríamos de ter podido desfrutar mais de sua companhia e de nos alimentar mais de seus sentimentos cristãos, mas nada mais nos resta, senão nos curvarmos à vontade divina e guardar na memória a lembrança da convivência com um homem que buscou cotidianamente a santidade, a qual demonstrava em todas as atitudes, em todo tempo e em todo lugar.
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HOMENAGEM PÓSTUMA
Padre Vladimir Barbosa HergertQueremos homenagear neste número do Jornal Nossa Igreja Católica nosso amigo e colaborador primeiro, Sr. Euclides Pinton.
Quando iniciamos o trabalho da Pastoral da Comunicação, cuja idéia principal era elaborar um informativo mensal com as notícias da paróquia, o Sr. Euclides logo se entusiasmou. Comprou um computador, começou a digitar os textos, foi para a gráfica e aprendeu a formatá-los. Correu atrás de patrocinadores e mensalmente ia buscar a colaboração com a qual financiava nosso informativo. Cobrava dos agentes de pastoral os artigos. Esmerava-se em buscar gravuras que pudessem ilustrar e tornar o jornal atraente. Tinha um carinho e até um certo ciúme, se é que se pode chamar assim o zelo com que cuidava desse jornal. Só permitiu passar os trabalhos adiante, quando sua saúde faltou; mesmo assim, depois que conheceu o César, a quem confiou a continuidade das tarefas.
Nesta última década, Sr. Euclides fez um belo caminho de fé. Dizia de si que havia perdido muito tempo na vida, longe de Cristo, e que agora queria recuperar e dar-se o quanto pudesse. Amava a Igreja. Tinha uma devoção especial por N. Sra. do Patrocínio. Gostava de ler a Bíblia e livros espirituais. Tinha uma sede de conhecer as coisas de Deus. Queria todos os rascunhos, anotações de palestras, retiros, para transcrevê-los num seu caderno... Dizia que tinha pouco sono e que então rezava e estudava.
Foi ministro da Eucaristia, catequista de adultos, incentivador da Comunidade de Santa Terezinha do Menino Jesus, no Jardim Alvorada, a quem acompanhou nos primeiros anos, sempre providenciando padres para as missas e fazendo celebrações. Vinha à missa diariamente. Sentia falta da Eucaristia. Catalogou os bens móveis da paróquia, trabalho hercúleo, que lhe roubou alguns meses. O interessante é que, com Sr. Euclides, não era preciso pedir, ele se oferecia. Queria fazer. Sentia-se bem, cuidando das coisas da Igreja.
Amava sua família, sua esposa, D. Terezinha, os filhos. Orgulhava-se dos netos.
A saúde foi faltando nestes últimos dois anos. Vários procedimentos cirúrgicos. Fraqueza, falta de apetite, não conseguia mais digitar, ler, escrever...
Nossa última conversa, na sacristia, foi ainda ele oferecendo-se para providenciar um padre para reza missa na comunidade de Santo Expedito, durante as minhas férias. Dizia-se chateado por não poder ajudar, tanto quanto gostaria. Queria fazer mais. Naquele dia disse-lhe eu: “Tudo a seu tempo, Euclides! Agora é hora de cuidar de si! Tenha paciência!”. Ele sorriu e disse-me: “Eu tenho, padre!”.
No dia 25 de julho, festa de São Tiago, recebi a triste notícia de sua morte. Sei que ele vive. Sei que agora tudo para ele é festa, que se encontra com o Senhor, a quem ele tanto buscou. Sei que está feliz. Sei que sua vida se plenificou e que, se em algum momento da vida ele falhou, esses últimos anos compensaram-lhe todos os outros. Sei que um dia nos encontraremos novamente. Sei disso tudo, mas quando a morte nos visita, ronda nossa casa, ou de nossos conhecidos, ficamos tristes e pensativos. A perda de alguém, com quem convivemos, conversamos, rimos, trocamos idéias, amamos... nos assombra. É hora de silenciar. Aceitar. Crer. Entregar. Obrigado por tudo, meu irmão! Descanse em paz!
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A VIAGEM
Marcos MartinsNa vida, na iminência de uma viagem, nós nos preparamos felizes e esperançosos. Mas, esta viagem a que me refiro não é uma tão esperada assim e nem sabemos o dia e a hora em que faremos tal embarque.
No finalzinho de julho despedimo-nos de seu Euclides Pinton, já na certeza de que deixará saudades nos corações de seus entes queridos e amigos que conquistou. Subitamente ele nos surpreendeu com esta viagem sempre inesperada. Homem de fé, sempre a serviço de Deus, já quando jovem soube ouvir o chamado à vocação e ao serviço ao próximo. Foi seminarista por um tempo, mas logo descobriu sua vocação matrimonial. Formou uma família, alicerçou-se na fé e não deixou de seguir ao chamado de Cristo que diz: “vem e segue-me”. Era ministro atuante em nossa comunidade; sentia-se realizado, quando compartilhava do altar e mesa santa durante as missas e celebrações; participava das festividades da paróquia com entusiasmo e alegria; era coordenador de nosso jornal mensal “Nossa Igreja Católica”.
Dedicado corria atrás dos artigos e notícias para melhor esclarecer nossos paroquianos. Não se limitava pela idade, queria mais e mais. Disposto, podíamos ver sua presença sempre ativa na igreja. Agora, com certeza, deve estar a caminho do mestre e Senhor Nosso Deus, intercedendo por nó que aqui estamos. Este é o ciclo da vida: nascer, crescer, produzir e depois viajar. Sim, pois morrer nada mais é que nascer daqui para lá, uma vida nova, ressuscitada em Cristo.
Que, a exemplo de seu Euclides, possamos ser sempre bem firmes na fé, e, seja lá qual for nossa escolha entre os sacramentos, que seja uma escolha consciente, a serviço e regada com amor, como ele fervorosamente tão bem desempenhou até o fim, mesmo com as limitações de sua saúde. Aos familiares deixamos nossa solidariedade, respeito e agradecimento por uma alma tão generosa que conosco compartilhou desta vida. Aos amigos fica o exemplo de homem persistente e a ele próprio nosso pedido de intercessão, sabendo que a esperança do reencontro é o reconforto da despedida, pois tenham a certeza de que: “Aqueles que morrem em Jesus serão levados por Deus em sua companhia”. (I Ts 4,14b) Em nome de nossa Comunidade Nossa Senhora do Patrocínio, uma boa viagem e encontro com Deus, seu Euclides Pinton.
Fonte: “Nossa Igreja Católica”, Informativo Mensal da
IGREJA MATRIZ NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO, Araras (SP), Agosto de 2007, Ano VII, &
8470; 71, Páginas 2 e 3.