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Teses_Monologos-->Monólogo do Defunto -- 30/03/2002 - 07:12 (Francisco Assis de Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Monólogo do Defunto
Dedicado aos familiares de Wladimir Herzog (1937-1975)


A existência é um mistério para o homem. Uns acreditam numa vida após a morte. Outros entendem que o ato de morrer é o fim da essência do ser. Todavia, quase todas as pessoas têm como verdadeira a existência de Deus. Se o Criador é espírito, e a criatura de alguma forma encontra-se ligada a Deus, ainda que seja pela crença, é concebível que a pessoa possua um lado espiritual. Sendo um aspecto do ser, impalpável como Deus, essa sua face invisível não pode morrer, porque pertence ao infinito, isto é, é parte essencial de Deus. Tomando por base esse raciocínio, um homem tem em si duas vidas: uma física e uma psíquica. Porém, só experimentará uma morte.
Em geral, o lado psíquico do indivíduo é tão debilitado, que ele adota uma conduta convencional, oposta à natureza humana, e não luta para alcançar o plano divino. Para alumiar o entendimento, existe a mente; a mediadora entre o corpo e a alma, contendo duas fazes, a humana e a divina. A primeira faz a ligação entre o cérebro e a consciência. A segunda liga o subconsciente, à alma. Em muitos seres, esse poder está adormecido devido ao modo de viver. E a conexão possível é tão sutil, que só quem vive em verdade, isento de hipocrisia e preconceito, e sem o sentimento venal de agradar ao mundo, pode obter a prerrogativa de desfrutar essa plenitude da vida.
Reminiscência da Dor
– Vocês que estão velando por esse corpo sem vida, portanto, já inútil, acompanhado apenas por apego à matéria, em ocasião oportuna retornarão à terra em vida consciente. E se perguntarem às gerações do futuro, quem foi o brasileiro mais poderoso da segunda metade do século XX, decerto nenhuma pessoa saberá responder. Pois ele não permanecerá como um vulto histórico, sendo visto apenas como um traidor das famílias, dos trabalhadores, dos estudantes; que breve será esquecido. O próprio historiador se recusará a mencionar seu nome, e se o fizer, será somente por dever do ofício. Ele nada construiu para o bem da humanidade, é apenas um homem com muito dinheiro e poder, porque faz o condicionamento da população. Por isso pode usufruir o prestígio de nomear ministro de Estado, e adequar a opinião do público para derrubar presidente da República que não se submeta aos seus caprichos. Entretanto, no passado; enquanto o líder operário, Lula, apanhava nas ruas da polícia política do governo militar, ele se deleitava nos banquetes oferecidos pelos comandantes dos exércitos. Porém, sua origem é tão ignorada quanto a daquele. No entanto, há uma profunda distinção na alma. Enquanto uma era expansiva, nobre e ousada; a outra era convencional, submissa e conivente. Essa a grande disparidade entre o homem de luta e o porta-voz da falácia oficial, preocupado a vida inteira com o poder e a fama. Do ponto de vista profissional, ético e moral, ele foi medíocre. Será uma das maiores desonras históricas que a posteridade terá notícia. Mascarou com o silêncio conveniente a execução de um colega de profissão. Vou mencionar apenas um nome, e o caso mais gritante: O tal enforcamento do jornalista Wladimir Herzog na masmorra do II Exército em São Paulo, comandado na época por um general da inquisição, durante o governo do enérgico presidente Geisel. O laudo cadavérico oficial legitimou como causa da morte, o suicídio. E, as organizações que tudo sabiam pela amizade do seu barão com os homens fortes do sistema, não noticiaram a opinião verdadeira; julgaram mais cômodo publicar a versão oficial. Como é vantajoso ser conivente e prestativo para se tornar rico e respeitado! Será que o tormento que a alma tem de suportar depois da morte, compensa esse comportamento abjeto? Sua rede de emissoras de televisão cresceu do dia para a noite no tempo da ditadura militar, a qual apoiou com maquiagem e com ardor. Assistiu complacente a troca nociva de informações e de presos entre os regimes militares de governos sul-americanos. Por esse motivo, até hoje recebe as benesses do poder. Atualmente é o homem mais temido do Brasil. Sua força política foi adquirida tanto pela condução da comunicação de massa como pelas informações oriundas dos órgãos de repressão e segurança. Todavia, aqui neste plano sublime, ao confrontar os dois colegas de profissão, evidencia-se a desigualdade moral. Você, Wladimir! Meu companheiro de viagem para esta vida plácida do “post mortem”; como eu, com 38 anos de idade; posso exaltá-lo com propriedade, como o símbolo do orgulho “nacional”. Mártir e herói brasileiro por toda eternidade. A nação deve muito a você, que foi esquecido de inúmeros colegas e da multidão que desfruta da liberdade pela qual sacrificou a sua vida. Entretanto, lembrado no seu torrão natal pelos homens de gratidão e aqui, acariciado por Deus no seu manto de paz. O seu colega contemporâneo que percorreu o caminho inverso será comparado a um carrasco pusilânime, desfigurado na escuridão. No seu mundo, evitou mostrar a cara; ocultou sua opinião; e pensou egoisticamente o tempo todo só na sua pele, no seu prestígio e no seu lucro. Durante muitos anos foi um ferrenho perseguidor de governadores e um destruidor de modestos funcionários. Um simpatizante leal e um aliado necessário das forças armadas e dos políticos sem escrúpulos, da situação. Já na velhice, teve a desfaçatez de banir da vida pública do país a sua corajosa colega Cidinha Campos. E por pouco não a implicou na CPI do narcotráfico, com o seu poder maléfico. Isto demonstra que vai morrer com a mesma índole maquiavélica com a qual viveu. Que os anos foram suficientes para alquebrar seu corpo, mas a sua mente e a sua alma continuam prontas para o mal. Porém, neste plano espiritual não tem política nem armas. Deste modo, será oprimido pelo sofrimento psíquico que vexa o espírito sem interrupção. Igual ao sofrimento do medo e da agonia, do qual padecem os torturados. Na vida física para compensar a dor, Deus faculta ao homem a anestesia do pavor para sedá-lo e desmaiá-lo. Entretanto, os sádicos maníacos que torturaram e mataram o brioso jornalista, e em seguida o penduraram, não sabiam que o ser que retorna à segunda etapa da tortura, já não é o mesmo, pois uma força mais poderosa o assiste. Na vida espiritual é o contrário, não há trégua. Os devedores terão de sofrer a perene angústia da alma. Essa é a vivência psíquica do torturador, sem opção de arrependimento, até porque não tem consciência para admitir o erro. E aquele que tinha obrigação de protestar pelo lugar que ocupava na sociedade, e que por interesse e conivência calou, receberá pena idêntica, pois incidiu no mesmo crime, equivalente ao do mandante que não tem coragem de executar. Devem ser necessárias várias vidas para reparar todo o mal, que por ter sido contra a coletividade, é muito mais grave. Se acaso gostou e beneficiou-se dos homens de farda, há de retornar como soldado, com uma mente danosa para tramar coisas que não prestam. Contudo, com a alma fraca, sem nenhuma virtude, para poder padecer com o resultado das próprias ordens. Será afligido por tudo que fizer e mandar fazer, tal qual aqueles moribundos que agonizaram no tempo das sevícias e seus familiares que se atormentaram em casa, lamentando sem esperança. Com a idade que tem hoje, deve estar consciente de que desperdiçou a vida, e que terá de fazer compensação. Que na terra foi mais longe do que seu merecimento permitia, e usou de maneira errada a condescendência divina. Agiu como uma lagarta a quem Deus concedeu asas para fazer uma experiência, e de tanto voar no campo da ambição desmedida, terminou caindo sobre o fogo e tostando a sua alma. Por isso, repetirá uma convalescença demorada e dolorida. Pesado fardo acumulado durante sua longa vida (mais do dobro daquela que foi interrompida), e que vai permanecer carregando por muito tempo. Essa, a razão principal de continuar vivo e calado, para amargar a cumplicidade, e não por decreto divino. Moral e espiritualmente é inferior à maioria das pessoas que ele segue avante fazendo suas vítimas. É um homem com poder político e econômico, mas que está no fim do reinado e da maldita influência, e que, por vergonha e cautela, achou de bem, refugiar-se no anonimato. Se utilizar o alcance e a eficácia da mídia e o poder do dinheiro para perseguir e maquinar fraudes contra os homens de virtude que ainda vivem, tornará pior a sua estada espiritual e a dos seus descendentes. Dentro de pouco tempo será somente um devedor, com muitas dívidas certas a saldar, e sem nenhum patrimônio moral para lançar mão. São contas que não se pagam com dinheiro. Por fraqueza da alma, afastou-se das virtudes para morrer no silêncio habitual de quem não tem coragem de se tornar público. Portanto, no plano incorpóreo, de feito, não existirá, será uma sombra oculta. Já que lá não existem ditadura nem condecoração da hipocrisia. Porém, há justiça, sem ter dois pesos e duas medidas. Desse modo, no seu leito de morte, como preâmbulo da remissão da sua culpa, verá aterrorizado, os olhos radiantes do colega assassinado no cumprimento do dever. Na vida psíquica se arrastará como serpente venéfica por baixo do lixo e viverá um eterno martírio ao avistar aquele rosto no topo do cenário. E por imposição das prescrições divinas, terá de dirigir os olhos para o alto; e com dificuldade contemplar o vulto glorioso, sem mais nada enxergar e sem ser visto, devido às trevas que envolvem o seu espírito. Aqui nesta vida infinita, encontrei primeiro os injustiçados que tiveram a bravura de dar a sua vida pelo bem da pátria e pela liberdade dos que vivem. E tudo o que percebi depois da minha morte até nesta hora, é verdade absoluta para mim. Logo, se neste momento me encontro harmonizado com Deus, ela é uma verdade suprema no campo espiritual, que se cumprirá. Você jamais poderá fazer algo contra os discípulos que estão sob a tutela de Deus. Os seus sonhos serão o limite do seu comportamento, antes da possessão da sua alma... Suas mãos sujas, sua mente malsã e seu império injusto, não podem me atingir. Estou pronto para recepcioná-lo. E você ao chegar terá sua desgraçada e merecida surpresa. Assim será!

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