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Artigos-->BASÍLIO DE MAGALHÃES -- 24/07/2007 - 15:45 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




"Nunca tive, não tenho e espero não ter jamais idolos de especie alguma, excepto apenas a Belleza e a Verdade." (B. de Magalhães)





BASÍLIO DE MAGALHÃES foi um grande intelectual mineiro, talvez um dos maiores do Brasil. Nascido aos 14 de junho de 1874, foi uma das mentes mais brilhantes deste país. Jornalista, professor, administrador, político, homem de cultura, poliglota, faleceu na cidade de Lambari-MG, aos 14 de dezembro de 1957, “esquecido e pobre, a ponto de ter que vender sua biblioteca para sobreviver”. Câmara Cascudo dedicou a este mestiço, de classe social desfavorecida, filho natural de seu padrinho, um verbete no seu famoso “Dicionário do Folclore Brasileiro”.

Chego a afirmar, com convicção, de que tudo que aconteceu na vida de Basílio foi polêmico, a começar pela naturalidade dele. Em 1874, quando Basílio nasceu, a localidade onde hoje situa a cidade de Barroso (então um pequenino arraial) pertencia a Barbacena. Assim, se ele nasceu mesmo em "Cangalheiro", hoje município de Barroso, pelos mesmos critérios usados para estabelecer a cidadania do Tiradentes – a jurisdição eclesiástica e administrativa do solo no ano do nascimento – devemos considerar Basílio como barbacenense. Considerando as mudanças administrativas, Barroso era um distrito do município de Barbacena-MG; foi incorporado a Prados, em 1890; depois, foi incorporado a Dores de Campos, em 1938. Foi transformado em município no ano de 1943. Assim, na época em que nasceu Basílio de Magalhães, Barroso era solo pertencente à Barbacena... Sobre a questão da naturalidade do dr. Basílio assim escreveu na Revista do IHG de São João del-Rei a historiadora Jacqueline das Mercês S. Pinto: “Nas biografias de Basílio de Magalhães lidas, há controvérsias quanto a sua naturalidade. Algumas apontam a cidade de São João del-Rei como sua terra natal; porém, seu batismo, ocorrido em 28 de julho de 1874, encontra-se assentado às folhas 44 do 1º Livro de Batizados da Paróquia de Sant’Ana, em Barroso, o que pode ser entendido como um sólido argumento de seu nascimento ter ocorrido nesta cidade. Vale ressaltar que os registros de batismo eram os únicos utilizados para registrar nascimentos na época. (...) No entanto, na época do nascimento de Basílio, os registros de batismos obedeciam à jurisdição eclesiástica. (...) Dessa forma, mesmo que não haja tal referência em todos os registros de batismo, pode se afirmar que Barroso pertencia à Barbacena na época abordada...” (...). “A data de nascimento de Basílio de Magalhães é a mesma no registro de batismo e no de óbito, sendo que no de óbito está a cidade de São João del-Rei como sua terra natal”. A mesma autora aborda o aspecto polêmico da sua ascendência paterna: “No registro de batismo consta que Basílio era filho de Antônio Inácio Raposo e de Francisca de Jesus; e seus padrinhos foram Ladislau Artur de Magalhães e Prudenciana Augusta Meireles. Segundo o depoimento de José Geraldo de Souza era filho natural de seu bisavô, o sr. Ladislau Artur de Magalhães, que foi seu padrinho de batismo. Ou seja, Basílio era filho de Francisca e de Ladislau Artur de Magalhães, para quem ela (Francisca) e seu marido Antônio Inácio prestavam serviços, pois eram empregados na Fazenda Venda Grande, que era de propriedade de Ladislau...”.

Basílio de Magalhães deixou cerca de uma centena de livros escritos, discursos, artigos, prefácios... O neto dele, dr. Jorge Romeiro, disse ter contabilizado 98 obras (conf. discurso na Câmara municipal de Barroso, em 20 de julho de 2007). Basílio é patrono de uma cadeira do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (cadeira número 20, cujo titular é o confrade José Primeiro Teixeira Neto) e da cadeira número 07 da Academia de Letras de São João del-Rei, que tem como seu ocupante o professor Oyama de Alencar Ramalho, um dos maiores “basilianistas” de que se tem notícia, entendendo-se pelo termo que o insigne professor é grande pesquisador da trajetória do seu patrono de cadeira. De acordo com a Resolução nº. 09/IHG, registrada na ata de 02 de junho de 1974, Basílio de Magalhães é o “patrono do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei”. Neste sentido, em 04 de setembro de 2005, para trazer a necessária e merecida luz sobre este fato que se encontrava encoberto (propositalmente ou não) pela poeira dos anos e pela nossa falta de memória, a presidência do IHG fez inaugurar um retrato do seu patrono na sala de reuniões da sua sede. Por ocasião da inauguração do retrato, atendendo ao convite da presidência, proferiu uma interessante preleção o prof. Oyama de Alencar Ramalho, com o tema “O esquecimento de Basílio de Magalhães e algumas tentativas de rememorá-lo”. Durante a sua palestra, ao discorrer brilhantemente sobre episódios da vida, obra e sobre acontecimentos equivocados ou mal entendidos sobre a memória do homenageado, o prof. Oyama afirmou que o procedimento “ainda que com singela pompa, era um ato louvável de quem prefere lembrar a esquecer” e o que se estava “enfatizando e exemplificando não era novidade. Novidade talvez seja o desvelar do esquecimento proposital de quem já era famoso ou a renúncia do prestígio transferível, os quais, no nosso entender, aconteceram em relação a Basílio de Magalhães.”. Oyama, ao encerrar sua palestra, declarou que “lembrar dos condenados ao esquecimento é uma opção, que, talvez não seja a alternativa mais reconhecida, rendosa ou gratificante, mas é a nossa opção. E fazemos isso porque entendemos que muito mais importante do que lembrar das pessoas olvidadas é desvendar os processos culturais que governaram e governam nossas ações, pois se limitássemos a lembrar das pessoas apenas na perspectiva do culto às personalidades não conseguiremos compreender com profundidade a história da sociedade em que vivemos.” O palestrante editou, por conta própria, um opúsculo artesanal contendo o conteúdo da sua preleção.

A trajetória de Basílio foi fantástica e não cabe nestas breves linhas. Tentarei resumi-la ao máximo, mesmo sabendo que pecarei por omitir muitos fatos dignos de registro. Basílio estudou na Escola João do Santos, em São João del-Rei. Aos sete anos, por ocasião da inauguração da Estrada de Ferro Oeste de Minas, proferiu tão belo discurso para recepcionar a família imperial, que esta o adotou para educá-lo. Sebastião de Oliveira Cintra escreveu que Basílio “a 15/04/1884 recebeu, entre 120 alunos, o 1º prêmio - “Reginaldo de Barros”, medalha de ouro com o busto de S. Majestade, o Imperador,..”. Trabalhou desde os seus 15 anos no jornal Gazeta Mineira (de S. João del-Rei). Depois trabalhou no jornal A Pátria Mineira, onde se empolgou com os ideais republicanos. Por volta de 1892 migrou-se para São Paulo, onde buscou novas opções de trabalho e conhecimentos. Advogou em Campinas e nesta mesma cidade obteve êxito em concurso para o magistério. Em 1922 foi eleito presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal de S. João del-rei “conseguindo com energia e talento sacudir o marasmo administrativo que imperava em São João del-rei, há muitos anos”. Foi eleito senador estadual e deputado federal, “exercendo mandato popular com independência e dedicação na discussão dos grandes problemas brasileiros...”. Foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Paulista de Letras e de 27 instituições culturais nacionais e 17 estrangeiras, além de ser escolhido para patrono de diversos sodalícios. Lecionou História do Brasil, em Campinas-SP, no Rio de Janeiro (Instituto de Educação, Colégio Pedro II, e lecionou História da Pintura e da Escultura, na Escola Nacional de Belas Artes). Dirigiu a Biblioteca Nacional e ocupou muitos outros cargos de destaque.

Em 20 de julho de 2007, em boa hora, o Município de Barroso, através de sua Câmara Municipal, já dentro do espírito do cinqüentenário do falecimento de Basílio de Magalhães, homenageou a dois de seus netos, dr. Thales Ribeiro de Magalhães e dr. Jorge Alberto Romeiro Jr., conferindo-lhes os títulos de Cidadãos Honorários. Na oportunidade este articulista, representando o IHG de São João del-Rei, o presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, Wainer de Carvalho Ávila, juntamente com as respectivas esposas e confreiras de IHG Vânia e Regina, compareceram a Barroso para participarem da solenidade e manter contatos com os descendentes do dr. Basílio, ambos atualmente radicados na cidade do Rio de Janeiro. Dos contatos mantidos resultou a promessa de que os netos de Basílio virão a São João del-rei em breve, a fim de que possam conhecer melhor a cidade onde o avô exerceu atividades políticas e intelectuais, além de participarem de uma sessão conjunta do IHG e da Academia, ocasião em que o dr. Jorge Alberto Romeiro Jr., se disporá a falar mais detidamente sobre a vida e obra do seu avô.

A vida de Basílio, como disse, sempre foi recheada de polêmicas, desde a fixação do seu local de nascimento e estabelecimento da paternidade, passando pela análise da sua ação administrativa e independência na atuação política. A trajetória desse formidável polígrafo ainda desperta interesses diversos, passando pela admiração, indiferença, repúdio, tentativas de lembrança e outras de jogá-lo no fosso do esquecimento. Basílio ainda está aí, como vivo e como a que nos provocar! Ele soube fazer questionamentos e reflexões, foi independente, manteve distância da mundanidade da malha social e política de sua época, moveu-se e transitou com desenvoltura intelectual, apresentou-se com o perfil de um intelectual e produtor de livros de elevados significados, dignificou o exercício da política, foi crítico e profundo pesquisador, apresentou-se como grande estudioso da História, das tradições e do folclore brasileiro, foi funcionário exemplar, exerceu cargos públicos com honra e dignidade e foi cidadão honesto. Todas estas qualidades reunidas numa só pessoa decerto que afrontava, e, sem ele querer ou saber, gerava provocações. Tudo isto compunha a personalidade basiliana e espelhou a contínua pluralidade intelectual de um mestiço que “sabia coisa transcendentes e raras, sendo que sua linha moral de desambição, de modéstia, de perseverança no silencioso trabalho, o destacava como uma esplêndida vocação de filósofo”. Assim foi Basílio no cenário mineiro e brasileiro. Se ele provocou a sociedade de sua época, ainda está aqui a nos provocar! Mas qual é o papel (ou a função) do intelectual em uma sociedade?

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