Usina de Letras
Usina de Letras
187 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62270 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50661)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Sobre maniqueísmo, cristianismo, sr. Mauro Decca. -- 16/11/2001 - 13:09 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A essência da doutrina de Maniqueu está na afirmação da existência de dois princípios, iguais em poder e extensão, permanência e durabilidade, o bem e o mal, a governar o Universo e, por conseguinte, a vida humana. A partir do estabelecimento desse princípio, no decorrer dos anos qualquer afirmação que apontasse para uma dualidade sem a permissão ou possibilidade de haver entre as duas realidades estabelecidas e definidas uma terceira, ou uma variação de níveis entre uma e outra, ganharia o título de maniqueísta, passando mesmo a se colar nele e vigorar soberana uma pejoração que transmite a uma pessoa considerada maniqueísta o status de limitada, curta, rasteira ou medíocre em sua análise da realidade.



Tal pejoração ocorre no caso de pessoas que, ao analisar o mundo político, o mundo da economia e das relações sociais, a História, separa em dois grupos as idéias pelas quais se explicam aqueles temas nos dias atuais: capitalismo e socialismo. Por certo os que não se deixam dominar por esse dualismo ou fazem questão de os separar em categorias distintas não aceitam que o capitalismo seja incluído na categoria das ideologias, uma vez que, explicam, não foi pensado em tese para ser materializado na prática histórica, diferentemente do socialismo, uma evolução sistemática de idéias e ideais de igualdade entre os homens, culminando na elaboração do chamado socialismo científico que previa e determinava as etapas necessárias a que fossem definitivamente instauradas no mundo as sociedades comunistas.



A grande dificuldade dos que não aceitam esse maniqueísmo ideológico é a negação que fazem da concreta existência de duas classes de pessoas no mundo, pobres e ricos, como fruto do capitalismo. Não há erro algum nessa constatação. Concretamente existem pessoas às quais nenhum recurso falta para lhes satisfazer quaisquer necessidades materiais. Em situação oposta há aqueles para quem tudo falta.



É bem óbvio que as elaborações dos intelectuais ateus que abordam a realidade têm sua abrangência restrita aos aspectos materiais da existência. Nelas não há como se vislumbrar, por desnecessárias se mostrarem, quaisquer alusões às aspirações ligadas à espiritualidade, à transcendência, à eternidade, àquilo que vai muito além do corpo, do comer, do beber e do vestir.



Sr. Mauro, o cristianismo não quer mudar as estruturas históricas materiais, as relações sociais, as contingências transitórias, as formas de governos humanos. Jesus afirmou que o Seu Reino não é deste mundo. Quiseram fazer d’Ele Rei em Israel para que libertasse os judeus da dominação romana. Ele não aceitou porque sabia ser a missão que o Pai Lhe incumbira de cumprir infinitamente mais nobre do que simplesmente libertar materialmente os homens de estruturas sociais injustas, por mais degradantes ou humilhantes fossem.



Quando afirmei que dar pão e água aos homens, tendo em mente as palavras de Jesus, é uma forma de lutar contra as injustiças sociais frutos do capitalismo, quis deixar claro que os cristãos têm responsabilidades que são submissas às suas convicções religiosas, não podendo nelas se esconder ou por causa delas se negar a pensar a realidade de forma comprometida com a sua transformação, e por isso não fugirão do compromisso com o próximo por ser esse um fruto de seu compromisso com Deus.



Em relação às convicções religiosas digo o seguinte: o fato de um cristão ter consciência que o mundo não pode ser mudado, transformado por conta de incursões na realidade material com objetivos revolucionários, (primeiramente porque não foi essa a comissão de Jesus aos seus seguidores, depois pela total impossibilidade de a natureza humana ser atingida pela ação do próprio homem, a ponto de um rico deixar seu egoísmo e repartir com outros sua riqueza como prega o comunismo) não pode levá-lo a se esquivar de sua responsabilidade social. O compromisso do cristão precipuamente não é com o próximo: é com Deus. Por isso é lógico que nenhuma análise da realidade fruto do intelectualismo ateu, seja ele socialista ou liberal, nada pode ter de cristianismo, nada pode ter de alusão ao Reino de Deus, ao amor entre os homens, ao próximo como fruto do amor dos homens a Deus.



Jesus é o pão do céu. Ele veio saciar a fome espiritual de homens e mulheres decaídos da graça divina. É a água da vida. Os que d’Ele bebem jamais terão sede. Tais afirmações de Jesus apontam para uma realidade que vai além dos limites da própria consciência material que todos os homens possuem.

A primeira consciência que um indivíduo tem é a do seu corpo. Muitos não vão além disso. Outros correm atrás de explicações metafísicas a ver se, apalpando nas trevas de sua ignorância, atinam para as realidades espirituais, numa ingênua tentativa de tocar o céu com as mãos, de ver Deus com os olhos da razão, de falar-Lhe arrogantemente como se falassem a um semelhante. Poucos vão além desse limite. Esses, atingidos pelo amor de Deus, alcançados pela misericórdia e graça divinas, por obra da fé que lhes foi concedida por Deus, tomam consciência de que nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca do Pai.



Ainda assim, Sr. Mauro, estes não descansarão nos verdes pastos, não se refrescarão em águas tranqüilas com o coração livre de alguma tristeza por saber que muitos não possuem o alimento que vem do Céu, e na terra lhes é negado alimento por culpa da maldade que domina os corações humanos. As ideologias não são a causa do mal no mundo, e nem podem ser a solução. Quando um cristão quer que todos os homens tenham direito à comida, à vestimenta, ao abrigo de um lar, não tem em mente que é a liberdade das ações humanas que determinam as injustiças sociais, como defende o Sr., mas a falta de amor entre os homens.



Portanto, o cristianismo não tem seu mais valoroso bem na liberdade, senão no amor, elemento pelo qual os discípulos de Cristo seriam reconhecidos no mundo, e por cuja falta se caracterizam aqueles que negam aos semelhantes os mesmos privilégios que gozam sem limites.



A paz de Cristo seja contigo.



Clóvis.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui