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Artigos-->Ou: neste mato também tem Paulo Coelho! -- 15/11/2001 - 21:32 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PAULO COELHO é entrevistado pelo SPIEGEL ONLINE desta quinta-feira, 15/11/2001.



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Observação preliminar do tradutor: Algo como dizer: sim, neste mato também tem Paulo Coelho, para fazer uso, mais uma vez, da feliz formulação irônica do tantas vezes insuperável Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior. O Brasil e os brasileiros aparecem tão pouco na mídia internacional, que eu não poderia deixar passar a oportunidade de saber como e por que meios eles lançam um olhar, ainda que rápido, para a nossa insignificância. Em outras palavras: a oportunidade de espiar como anda o "mato" lá do outro lado. A presente entrevista marca o lançamento de "O demônio e a Srta. Prym" no país de Goethe. Hoje ainda o escritor seria agraciado, na categoria "cultura", com o "Bambi", um prêmio concedido pelos meios de comunicação.





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O novo romance do brasileiro Paulo Coelho pode ser lido como uma parábola acerca dos ataques terroristas nos EUA e suas conseqüências. Em entrevista concedida ao SPIEGEL ONLINE, o escritor de 54 anos se volta contra a guerra no Afeganistão e manifesta sua incompreensão para com os opositores da globalização.





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"Precisamos nos tornar guerreiros da luz"





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Entrevista conduzida por Kerstin Schneider (SPIEGEL online, 15/11/2001)

Trad.: zé pedro antunes

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SPIEGEL ONLINE: Depois dos ataques terroristas nos EUA, o senhor se retirou para o campo, em Santiago de Compostela, e desmarcou todos os compromissos. Neles, pretendia apresentar seu novo livro "O Demônio e a Srta. Prym".



Paulo Coelho: Então, foi mesmo bastante surpreendente e assustador para mim, que o meu novo livro, escrito há um ano, de repente parecesse tão profético. Trata-se de um homem que, num ataque terrorista, perde toda a sua família e parte então para a vingança, ao conduzir uma aldeia inteira para o abismo. Algo semelhante se passa agora no mundo. É uma luta em que, de ambos os lados, padecem pessoas inocentes, tanto nos EUA como no Afeganistão. Viajei para Santiago com o objetivo de refletir em paz. Ali a vida é tão simples. Sabe-se que uma porção de coisas estão acontecendo no mundo, mas a gente não fica demasiadamente ligado a elas.



SPIEGEL ONLINE: O senhor vê justificados os seus livros nos quais os protagonistas rompem barreiras com o intuito de afirmarem-se e em busca de novos conteúdos para suas vidas?



Coelho: Sim, escrevi as coisas certas. Precisamos de uma nova consciência. Os ataques terroristas nos EUA e a guerra, do meu ponto de vista, mostram não a luta das culturas. Eles nos deixam claro, no entanto, que não podemos aceitar nada como dado. Não há garantias. Aqueles que acreditam que tudo vai permanecer como é, tão-somente conseguem reagir, perdem a criatividade. Os acontecimentos mostram que isso não funciona. É preciso que nos mantenhamos abertos a novas impressões, novos modos de proceder. Durante a minha vida inteira não falamos senão de paz, e o tempo todo só temos visto guerras.

Neste mundo de escuridão, precisamos nos tornar guerreiros da luz, e combater o bom combate, no qual, em vez de armas, fazemos uso de nossa própria força interior. Se procedemos de acordo com os velhos modos conhecidos, transformamos Bin Laden em herói. Receio que no futuro próximo muitas pessoas possam se juntar, pessoas que estão insatisfeitas com o que se passa no mundo, os opositores da globalização, por exemplo, tal como os vimos atuar em Gênova.



SPIEGEL ONLINE: Acredita que a guerra seja o caminho certo para agir contra os terroristas?



Paulo Coelho: A meus olhos, não se trata em primeira linha de terroristas, mas de criminosos. Eu acredito que a guerra não seja a solução correta, porque acaba produzindo o contrário do que pretende, reforçando essas pessoas. Basta olhar para o Taleban. Eles foram primeiramente apoiados pelos Estados Unidos, para depois se transformarem em inimigos ferrenhos. Não sei como será com a Aliança do Norte, mas a tendência é a mesma. Lançamos mão de velhos métodos para as novas exigências que se nos impõem, e a guerra é esse velho método.

Na verdade deveríamos fazer mais uso de nossa intuição, dar ouvidos às nossas sensações, para podermos seguir por novos caminhos. Bin Laden representa, já por seu próprio perfil, tudo quanto receamos, mas ao mesmo tempo muitas pessoas se sentem por ele fascinadas. Cada vez mais ele irá se transformar em símbolo para todas as pessoas que são contrárias aos EUA. É um desdobramento perigoso, pois a América não é um país, a América representa uma cultura.



SPIEGEL ONLINE: Compreende pessoas que são contra a globalização pelo receio de, com ela, perderem sua identidade?



Paulo Coelho: Não, do meu ponto de vista os opositores da globalização são uma minoria bastante barulhenta. Ninguém compreende tão exatamente contra que eles na verdade se voltam, quais objetivos possuem. Globalização não é algo que só começa a acontecer agora. Ela existe há 5000 anos. Já na antiguidade ela representou um papel. Temos agora chances muito diferentes. A internet faz com que pequenas minorias também consigam se manifestar e defender sua identidade.



SPIEGEL ONLINE: O senhor foi convidado para a Cúpula Econômica em Davos e lá pode se encontrar com o ex-presidente americano Bill Clinton. Também ele é um de seus leitores. O que costuma dizer aos políticos e empresários?



Paulo Coelho: No ano que vem, também estou convidado para a reunião de cúpula em Nova Iorque. Na verdade, eu não lhes digo nada, não lhes dou conselhos. Apenas discuto e falo com eles. É a minha tarefa como escritor. O mundo precisa de um diálogo comum. Por isso mesmo, são importantes tais encontros como o de Davos. Trata-se, em certa medida, de um campo neutro, onde se podem discutir idéias.



SPIEGEL ONLINE: A muitas pessoas o senhor oferece uma espécie de ajuda vital em seus livros. Acredita ter tido mais ressonância depois dos acontecimentos nos EUA?



Paulo Coelho: Depois do terror nos EUA, recebi até 500 e-mails por dia. Agora o pêndulo está de volta na faixa dos 300 e-mails diários.



SPIEGEL ONLINE: As pessoas buscam respostas ou perguntas em seus livros?



Paulo Coelho: Elas aprendem as perguntas que elas podem fazer a suas vidas. Eu mesmo sou um leitor de meus livros. Há pouco, li "O Demônio e a Senhorita Prym" em inglês. Foi interessante, pois no outro idioma eu não tinha nenhum relação direta com o romance. Era como se absolutamente não o tivesse escrito. Eu pensei: É um bom livro, porque qualquer pessoa, qualquer cultura e qualquer sociedade podem compreendê-lo.



SPIEGEL ONLINE: O senhor parece sereno e tranqüilo. Costuma meditar?



Paulo Coelho: Não, não no sentido clássico. Sou católico e rezo três vezes ao dia: pela manhã, no fim da tarde e quando vou para a cama.



SPIEGEL ONLINE: Idéias o senhor arregimenta ao longo das viagens, mas só consegue escrever em seu apartamento no Rio de Janeiro?



Paulo Coelho: Sim, é verdade, eu escrevo exclusivamente no Rio de Janeiro. Em minhas viagens, juntos as idéias para os meus livros. Escrever um livro é algo semelhante a estar grávido e não saber quem é o pai. Meus livros são tão precisos, porque eu não reflito muito sobre eles. Os livros vêm até mim. É, mais do que tudo, um processo inconsciente.



SPIEGEL ONLINE: Foi influenciado por outros autores?



Paulo Coelho: Na Alemanha, naturalmente por Goethe, sendo o "Fausto" o grande romance metafísico. Na América, por Henry Miller. Na Argentina, por Jorge Luis Borges. No Brasil, por Jorge Amado. A verdade é que eu sempre me encontro nos livros que leio.



SPIEGEL ONLINE: Em seus livros, afirma que todas as pessoas podem romper com o seu mundo, a fim de transformarem suas vidas.



Paulo Coelho: Sim, eu fiz isso, contra todas as resistências. Penso que todas as pessoas podem fazer isso, todas as pessoas têm uma missão a cumprir, não importa onde vivam.











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