ESTILHAÇOS
J.B.Xavier
Estilhacei a alma nesse amor que aos poucos me aniquila...
Espalhei-me em mil fragmentos pelo universo sem fim...
E em cada um deles continuei a te amar,
Multiplicando essa alucinação em que te transformei!
Hoje vagueio por estranhas realidades,
Flutuo sem destino ou direção,
Viajo na rota dos insensatos
Que depositaram sua vida numa longínqua esperança...
Flagro-me às vezes fera, às vezes desamparada criança,
Nessa louca corrida alucinada
Em direção ao nada...
Deixo-me conduzir pelas asas da saudade,
Enquanto o tempo fecha-se atrás de mim,
Lacrando uma gentil intenção de felicidades futuras...
Sou caminho, rotas repisadas
Numa comunhão direta com o inconstante...
E nesses estilhaços de alma, sou o amante que nunca tiveste,
Sou uma flor silvestre,
Um suave regato a adornar as paisagens onde sonho...
Uma poética ponte, de onde pendem as heras,
Numa homenagem a este amor que grita enclausurado
Tentando reunir seus cacos estilhaçados...
* * *
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