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Artigos-->Os Negros e o Sincretismo -- 18/06/2007 - 10:56 (Etiene Sales de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os Negros e o Sincretismo



"Os negros veteranos, os ladinos, iniciavam os recém-chegados na moral e nos costumes dos brancos. Ensinavam a língua e orientavam nos cultos religiosos sincretizados. Eram ainda os ladinos que ensinavam aos boçais a técnica e a rotina na plantação da cana e no fabrico do açúcar."

Casa grande e senzala, Gilberto Freire.



No início da década de 80, do séc. XX, começou um movimento de resgate da consciência negra. Uma valorização da cultura negra, suas tradições, sua religião. Nesse contexto, foi levantada a questão do sincretismo afro-católico, onde, muitos adeptos dos candomblés mais ortodoxos, levantaram bandeiras contra a utilização de imagens de santos católicos dentro dos terreiros e sua associação com os Orixás africanos.



Nos terreiros de Umbanda essa visão de resgate da consciência negra não foi tão forte, mas muitos terreiros e adeptos compraram a idéia de abolir as imagens dos santos católicos dos gongás e substituí-las pelos elementos característicos de cada Orixá como uma forma de tornar mais "verdadeira" o culto a esses Orixás dentro da Umbanda.



O que notamos nesse processo é que tanto os candomblecistas quanto os umbandistas, só conseguiram enxergar o sincretismo existente em suas religiões na forma de utilização das imagens, porém, não visualizaram as outras formas de sincretismo existentes dentro de seu culto. "Talvez seja mais fácil mudar de roupa do que saber o que vestir".



Com relação ao candomblé, existem outras formas de sincretismo além das imagens, como é o caso do culto de um panteão de divindades que, em sua maioria, tem culto reservado na África, como é o caso do Orixá Xangô e do Orixá Ogum. Só que com a vinda dos negros de várias localidades diferentes da África para o Brasil, devido ao tráfico negreiro, vários cultos e divindades africanas acabaram se aglutinando naquilo que conhecemos hoje como candomblés, mas que, em sua origem africana, eram formas estanques, multi-formais abrangendo mais de 2.000 Orixás.



O culto do candomblé foi formado por um processo sincrético, embora de origem africana, e, realmente, não caberia ser agregado a ele uma outra forma sincrética, incorporada num processo ou numa tentativa de aculturação do negro pelos padres católicos; de associar as divindades africanas aos santos católicos. É um ponto de vista coerente, pois os Candomblés não absorveram, na adoção das imagens dos santos, os fundamentos cristãos em seu culto ou doutrina. O que não pode ser dito em relação à Umbanda pois ela, além de adotar a utilização do vínculo das imagens dos santos como representações dos Orixás, também incorporou a mensagem cristã dentro de suas várias formas doutrinárias. Sendo assim, é mais fácil para os Candomblés se desfazerem das imagens dos santos católicos, do que os terreiros de Umbanda, pois se os terreiros de Umbanda retirarem as imagens dos santos, também terão de retirar toda uma mensagem religiosa baseada nas palavras de Cristo.



A forma religiosa cristã existente dentro dos terreiros de Umbanda pode ser percebida, principalmente, com relação aos pretos-velhos. Em suas mensagens esses guias maravilhosos sempre passam um exemplo, uma comparação, ou uma oração oriunda das palavras da fé cristã. Além disso, a sua "forma de vir à Terra", sempre curvados e exercendo uma enorme força ao se locomoverem mostra que suas presenças vêm de um grande sacrifício, e, por serem representantes do povo negro, espíritos de escravos, isso mostra que sofreram, padeceram, mas estão ali, prestes a dar uma orientação, uma palavra de conforto, uma ajuda a quem quer que seja mostrando uma resignação comparável somente a de Cristo.



Uma outra forma de identificação dos pretos-velhos coma cristandade são os elementos trabalhados por esses guias, como: o rosário, a cruz, o cruzeiro das almas, seus pontos riscados, a utilização de orações como o pai nosso e a ave Maria, ...



Os nomes que os pretos-velhos adotam também denunciam sua ligação cristã, pois estão, quase sempre, vinculados aos santos católicos ou aos anjos, como: pai João, vovó Catarina, pai José, vovó Maria, pai Cipriano, ...



Podemos dizer que os pretos-velhos são "os representantes de Cristo" dentro da Umbanda ou seus mensageiros como podemos notar nos pontos cantados que são como pequenas orações, hinos de louvor aos pretos-velhos onde sempre encontramos as palavras "Jesus", cruz, cruzeiro, "Maria, mãe de deus", rosário, nomes de santos e de anjos ("São Pedro", "Miguel"), e tantas outras palavras que revelam ou denunciam esse vinculo, essa ligação, entre os pretos-velhos e a representação da fé cristã dentro da Umbanda.



Como podemos ver, a retirada de imagens dos terreiros de Umbanda não acaba com o sincretismo afro-católico como muitos assim se referem, pois podem tirar as imagens e colocar, por exemplo, os elementos representativos de cada Orixá, mas isso não acabaram com o sincretismo religioso existente dentro da Umbanda. Talvez fique mais difícil a percepção desse sincretismo, mas ela será evidente quando diante de um gongá, onde antes haviam imagens de santos católicos e que agora são vistos elementos como pedra, ferro, flores ... Um preto-velho começar a cantar:



Quando o galo canta

Raiou o dia

As almas pedem

Uma Ave Maria

Quando o galo canta

Raiou o dia

As almas pedem

Uma Ave Maria

Ave Maria

Cheia de graça

O Senhor está convosco

Bendita sois vós

Entre as mulheres

Bendito é o fruto

Do vosso ventre

Nasceu Jesus

Ave Maria

Cheia de graça

O Senhor está convosco

Bendita sois vós

Entre as mulheres

Bendito é o fruto

Do vosso ventre

Nasceu Jesus



A Umbanda é uma religião sincrética. Aliais, todas as religiões são sincréticas; umas mais, outras menos, mas todas são. Talvez o que os Umbandistas tenham que entender é que esse sincretismo não faz mau, e é sim, uma característica da Religião de Umbanda, que faz com que ela seja tão dinâmica, tão aberta, tão diversa em suas práticas. É ver o sincretismo como uma qualidade, um diferencial, que fez com que a Umbanda sobrevivesse como religião e abrisse suas portas à linhas que antes não existiam, mas que devido aos sincretismo e a diversidade que ele proporciona passaram a ser trabalhadas dentro da Umbanda, como: marinheiros, cangaceiros, baianos, orientais, monges (simiromba) e ciganos.



Autor: Etiene Sales

site: http://www.umbanda.etc.br

e-mail: ghost_master@uol.com.br

Etiene é Umbandista, formado em Administração de Negócios e pesquisador sobre Umbanda e outras tradições religiosas.
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