Todas as discussões político-econômicas, em que estejam sendo avaliadas as ações dos Governos no mundo globalizado, passam necessariamente pela interpretação e análise do comportamento do mercado universalizado, suas virtudes e defeitos, seus resultados positivos e suas conseqüências negativas, principalmente quando se trata de distribuição de renda, de divisão de riquezas.
Nesse prisma, há os que colocam o mercado como uma força autopropulsora da economia e que deve ser livre, gerido pela Lei da Oferta e da Procura. Para estes o mercado é um verdadeiro ser superior, é o Mercadeus. Outros duvidam dessa divindade e expontaneidade do mercado, questionam seriamente a teoria de que, sponte sua, ele distribua a renda, pelo contrário, afirmam que o mercado, ou melhor, seus operadores, concentram a renda gerada nas mãos de poucos e a maioria fica literalmente chupando o dedo. Aí o mercado é satanizado, é o Mercadiabo.
Muitos pensadores dizem que a verdade das idéias "está no meio", distante dos extremos. Assim, em matéria político-econômica, a verdade está no centro, equidistante do Mercadeus e do Mercadiabo. Por esse caminho, aceita-se que o mercado seja competitivo, gere as riquezas, mas há que existir um árbitro, um mediador, para que o mercado não vire Mercadiabo.
Esse mediador do conflito é o Poder político de qualquer nação democrática, seus chefes e dirigentes. O papel dos governos é fundamental para estabelecer o equilíbrio, dentro das leis, respeitanto a iniciativa privada e as liberdades, mas impondo-lhes normas que evitem a puxada de brasa, do operador de mercado, sempre para a sua sardinha.
No Brasil, essa mediação não existe, o governo é leniente diante das forças do mercado explorador, as rendas são distribuidas de baixo para cima, com um comportamento robinroodiano às avessas, tirando das camadas inferiores e transferindo para as camadas superiores. O caso da transferência de renda para o poderoso sistema financeiro é uma clamorosa distorção do fluxo de renda intermembros da sociedade, principalmente pelos vários extratos sociais e econômicos de suas populações.
O equívoco é considerável, não há força motriz capaz de reverter o panorama e, assim, o Brasil demorará muito para ser um país justo e igualitário.
Além do mais, a corrupção e os desvios são uma praga que graça como HIV no tecido social e moral do país, acarretando a imunodeficiência adquirida pelo corpo da nação, fraquejada, vulnerável a qualquer surto virótico que venha atingir a economia mundial.
É esse o panorama nacional, são essas as perspectivas, estamos longe de ver uma solução adequada para a latente crise sempre a ameaçar a tranqüilidade nacional.
O resto é sandice, é cegueira diante do quadro negro, é tapar o Sol com peneira, é acolitar-se à insensatez e omitir-se diante da cruel realidade que atinge, dos 200 milhões de habitantes, 160 milhões de brasileiros, de pobres a miseráveis, ou seja, 80% de sua população.
Aplaudir isso é um escárnio.
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