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Artigos-->QUEM TEM MEDO DE ASCENDINO LEITE -- 01/06/2007 - 22:17 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUEM TEM MEDO DE ASCENDINO LEITE?



Francisco Miguel de Moura*



Poesia de um tempo sem tempo, tempo de Deus e do Demo, do sensual e do áspero, embora lírico, poesia de um mundo do mercado e da mercadoria, quando as almas se refugiam nas nuvens ou nos jardins (os eternos) que os poetas fabricamos para as nossas delícias. É a poesia maiúscula refugiada em alguns poetas e poucos livros como esta reunião de Ascendino Leite, denominada “POESIA OU MORTE”, Edições Idéia, João Pessoa, 2006, com 671 páginas. Não sei se é toda a poesia do poeta, romancista, memorialista, cronista, dono do melhor estilo de língua portuguesa nos dias atuais, no Brasil, que eu conheço, rivalizando apenas com O.G. Rego de Carvalho que se diz influenciado pela leitura de seus romances – bela ficção, tão profunda quanto poética, tão lírica quanto dramática. Não falo sobre a língua em Portugal, nas Áfricas, Ásias e Oceanias, pela distância, pelo meu desconhecimento do muito que lá se escreve. “Visões do Vale” e “O Nariz de Cíntia”, para meu gosto especial, são apaixonantes. Mas seu “Jardim Marítimo”, com o qual inicia o volume em comentário, é de uma singularidade tão feliz que certamente agradará a todos os espíritos sem correntes, sem peias, sem traves.

Por quê? A terra é dura e produz frutos estranhos, espinhosos (podem ser até suculentos); a terra esconde-se como um grão num porto ou num navio ancorado na escuridão. É preciso visitá-los com paciência e amor, com luz e também sofreguidão. Ler suas sementes, ler sua colheita de grãos alimentadores. Ascendino Leite é da Paraíba, trabalhou como jornalista no Rio por muitos anos e depois voltou para sua João Pessoa, no tempo da aposentadoria. Uma volta, um encontro com suas raízes. Esse encontro está na sua poesia não apenas como matéria mas como forma e estilo.

Por quê? “As coisas delicadas não se perdem”. São flor e som, eterna luz. “A palavras, em geral, são exigentes, nunca possessivas, ou inúteis”. Mas “de nada servem em tom de culpa, queixa, ou para alimentar uma ambição”, Ascendino Leite completaria, no mesmo poema. Noutro, oferecido a uma senhora de suas relações (ou é ficção?), ele casa tempo e destino, traz todo o seu afeto de ardente contemporaneidade. Que casamento mais concorde com toda a sua poética!

Poeta fortíssimo, ninguém vai jamais imitá-lo nem corrompê-lo, graças ao seu equilibrado lirismo/dramático/trágico, no grande sentido, cheio de orgasmos da razão, da vida, do saber, do cheiro e do sabor do ver e do ouvir. O ritmo e a música são próprios da alma da poesia escrita, nunca lembrando canções populares, que afinal de contas se servem tanto dos lugares comuns não recriados – digo as letras das canções. Ficará aquela que é boa música também.

Por que falar das emoções onde sobram, derretem-se, penetram, petrificam-se em estátuas como obras perpétuas dos melhores artistas universais? Aqui arte e artista se confundem, numa nova ordem de lídimo construtor nordestino, brasileiro, universal. Não há, por outro lado, como individuar poemas, dentro de uma seara tão fecunda. É um rio de poesia. Um de mar de sargaços, recifes e correntezas frias ou quentes, que vão dos pólos ao equador, e se corporificam num verso ou num nome para a lembrança do que foi comovidamente vivido em sonho e imaginação. Imagens inusitadas como aquela que dá título a “Nariz de Cíntia”. Para tanta poesia, um nome tão apoético – nariz, atrelado a um nome de mulher tão belo – Cíntia. O que esconde e o que mais mostra essa figura? A obra inteira é um granito que há de durar e resistir ao vento que fustiga os mares e as montanhas, os vales e os campos gerais, nos verões de sol e calor do nordeste, nas geadas e minuanas do sul Nas esperanças da ressurreição do homem.

O poeta mais singular que conheço, Ascendino Leite, pode ficar tranqüilo quanto ao silêncio da crítica. Eles não no entendem, têm medo. Os poetas também. Não sei por quê. Destino e tempo de uma lírica enganosa de sentimentalidade, quando no fundo é anti e contra o que não corta, o que não pensa, o que não decanta. E, sobretudo a favor da sensualidade que nós carregamos sem saber como todos os vivos do universo. Sensualidade que é alma, pensamento, razão e luz, liberdade e amor. Sensualidade consentida pelo poeta das desmedidas paixões, mas poeta do esplendor duma beleza ática, na expressão mais legítima da palavra.

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*Poeta do Piauí e do Brasil, escritor e amante das letras e das obras de arte em todos os gêneros. Mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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