Cego pelo desejo de ver o que ainda não me fora revelado
Me acerquei da majestosa figura
E sem mais, rompendo o mais elementar código de educação
Ousei tocar irreverentemente seus seios à vista
O bom teria sido que jamais tivesse tentado tal proeza
Pois que na hora em que estendi a mão
Já a ira dos deuses estava armada para me ferir
Aconteceu que sem nenhum tipo de aviso
E longe do código romântico da magia
Quando esperava afagos e prazeres
Recebi um golpe baixo, primitivo e mudo
Por parte dos seguranças que guardavam
A maminha da deusa em seu próprio templo
E o que mais espantou foi que ela
Em vez de se sensibilizar, de me socorrer
Ou de me acariciar
Ficou fria e indiferente à agressão dos agressivos seguranças
Que espetaram meu dedo
Com refinado masoquismo
Ensanguentado olhei para maminha
Já sem o soluço romântico
Que momentos antes me levara até ela...
E concentrado agora em meu dedo
Percebi que maminha de porca
Permanecia impávida e prepotente
Subjugada que fora pelo ancestral
E ditatorial costume
De mostrar seus seios já armados de espinhos
Que mitologicamente escolhera como seguranças
Ao pensar profundamente nesta realidade
Passei a minimizar então
O romantismo da mascarada maminha
Que me havia atraído e subjugado antes
E passei a ver sem olhos míticos alguns dos perigosos espinhos que se atravessam na gloriosa caminhada dos amantes.
Jan Muá
20 de julho de 2002
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Nota mínima para os leitores:
A composição deste poema coloca-se na perpectiva de uma mera "ficção poética"."Maminha de porca" é o nome de uma árvore, cheia de agudos espinhos no tronco, que existe no cerrado do Planalto Central do Brasil.