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Contos-->Amor para viver -- 19/05/2002 - 23:58 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Marcel Agarie
Data: 19/05/02

Crônica: “Amor para viver”

Esta é a história de Lino Ferreira da Silva. Um garoto pobre, morador da periferia da cidade de São Paulo, estudante de escola pública e testemunha ocular da violência desenfreada da cidade. Filho de Antônio Ferreira da Silva, um auxiliar de pedreiro desempregado, que conseguia alguns trocados, graças aos “bicos” que fazia reformando barracos dos vizinhos. Sua mãe, Dna. Maria do Carmo Ferreira da Silva, trabalhava como empregada doméstica em algumas casas de classe média no bairro de Artur Alvim, onde conseguia uma renda de R$230,00 para o sustento da casa, já que o pouco que o Sr. Antônio conseguia com os bicos, mais da metade eram gastos com as “biritas” nos bares da região.

O casal sempre se esforçou para que nunca faltasse comida em casa e quando era preciso, passavam dificuldades para que Lino pudesse estar bem. Agradeciam todos os dias à Deus por terem o mínimo que precisavam para viver, e principalmente muita saúde, pois não tinham condições para gastar dinheiro com os remédios, quase sempre caríssimos.

Apesar de Lino ser um garoto muito amável com seus pais, ele teve um carinho muito especial pela sua mãe, que o cuidou com todo o amor que um filho merece, até completar seus 9 anos de idade. O motivo foi a demissão de Sr. Antônio, que consequentemente fez Dna. Maria voltar a trabalhar e deixar seu filho Lino sobre os cuidados de Deus enquanto estava fora de casa.

Foram momentos difíceis vividos pela família Ferreira, com ameaças de despejos pela falta de pagamento do aluguel, cortes no fornecimento de energia elétrica e água, além do racionamento de comida feito todos os dias. Durante este período, Lino ainda não podia entender o que realmente estava acontecendo, mas percebia o esforço incomum que sua mãe fazia para que fosse todos os dias para a escola, sempre bem alimentado e com todo o material escolar necessário para estudar. Ela plantava a semente da esperança, na certeza de que algum dia o seu filho se tornasse um grande médico, ou um advogado, talvez até um engenheiro bem sucedido, para que pudessem largar esta vida de cão.

Para dificultar o que já estava difícil, Dna Maria engravidou, o que significaria mais despesas para a casa. Sabendo dos problemas que estavam por vir, ela não se abalou e continuou trabalhando até onde o período de gestação pudesse lhe dar condições. Sem muita noção dos problemas que um irmãozinho pudesse trazer, Lino transpirava felicidade com a gravidez de sua mãe e contava os dias que faltavam para o nascimento do bebê. Não importava se fosse um menino ou uma menina, mas sim, o fato de que não estaria mais sozinho.

Mas o destino deixava para Lino mais uma daquelas perguntas sem respostas. Na noite do dia 12 de maio de 1992, Dna Maria do Carmo Ferreira da Silva foi brutalmente assassinada quando voltava de mais um cansativo dia de trabalho. Testemunhas disseram que dois homens tentaram arrancar a sua bolsa, logo após ter descido de um ônibus, e por resistir a pressão, foi morta com 3 tiros no peito.

Dois dias depois, os assassinos foram capturados em uma casa abandonada no bairro de Guaianazes e junto com eles, estava a bolsa de Dna. Maria e outros objetos furtados pela dupla. Os dois confessaram que a mataram depois de ela ter resistido ao que pediam, mas nunca conseguiram entender porque ela se recusou entregar uma bolsa com alguns trocados, 2 batons usados, um espelho e uma foto de uma criança aparentando uns 2 anos de idade, junto com um casal de adultos.

A foto era de Lino no colo de seus pais, em tempos em que a vida era mais fácil. Todos ficaram sem entender porque Dna Maria resistiu aos ladrões, mas parentes e vizinhos próximos disseram que a foto de seu filho era o principal motivo. Aquela era a única lembrança que tinha de Lino ainda bebê. Era como um amuleto, uma lembrança gostosa de reviver. Talvez, uma prova de que a sua morte foi causada pelo amor que tinha por seu filho. Considerado um amor eterno.

Lino ficou com a foto e hoje, 13 anos depois, ele também a utiliza como um amuleto, como a sua mãe. Acredita que todas às vezes que olha para a foto, já um pouco desgastada pelo tempo, e fixa os seus olhos nos olhos dela, uma lágrima escorre mansamente no rosto “de mamãe” e um sorriso de orgulho escapa pelos traços daquela imagem estática.

Este sorriso é realmente para Lino, que não virou médico, nem advogado e muito menos engenheiro, mas com certeza é motivo de muito orgulho. Ele está se formando em psicologia e trabalha atualmente em uma creche com mais de 300 crianças abandonadas e órfãs, que não tiveram a oportunidade de conhecer seus próprios pais e principalmente suas mães. Cuida de toda a área de desenvolvimento das crianças, transmitindo a elas o que não tiveram a oportunidade de ter ou sentir, e que ele perdeu aos 10 anos de idade, servindo-lhe como força para realizar o seu atual projeto de vida.

O único, o inigualável e eterno: o amor de mãe.
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