Sou Protestante
Paulo Nunes Batista*
Sou protestante! Sem dúvida,
Eu denuncio e protesto
Contra o roubo, o aborto e o resto –
Ódio, Injustiça, Ambição!...
Contra a falta de Vergonha
Dos políticos corruptos
Com os “crimes” ininterruptos...
Sou protestante, pois não!
Sou protestante! Prometo
Contra o marreteiro, o escroque,
O predomínio do rock
Na música popular...
Protesto contra a Maldade
E essa Exploração sem nome
Se faz de Miséria e Fome
Nosso Povo se lascar!...
Protesto! Sou protestante
Contra as trevas desse Abismo
De Egoísmo e de Cinismo
Que dominam o mundo-cão,
Em que meninas famintas
Pela noite da cidade
Mercadejam a virgindade
No caos da prostituição!
Com todas as forças vivas
Protesto! Sou protestante
Contra o dollar dominante
Do estrangeiro capital...
Protesto contra esse assalto
Que é nossa Dívida Externa,
Que é ladroeira moderna
A nível internacional...
Protesto contra a imundície
Das novelas de TV,
Em que a nossa Infância vê
Tudo o que não presta, a nu...
Esses filmes japoneses
E dos Estados Unidos
Em que se exortam os bandidos...
Além da Xuxa e o Gugu...
Protesto contra a Pobreza
De espírito dos mafiosos
Com seus ardis enganosos
Vendendo o vício a granel...
Protesto contra os poetas
Das torres, das igrejinhas –
Suas restrições mesquinhas
À poesia de cordel! ...
Protesto contra o vendeiro
Que, no “brasileiro estilo”,
Oitocentos – por um quilo
Vende, para ganhar mais,...
Protesto contra a Ganância
E a Cupidez desbragada
Que faz a Inflação danada,
Dos donos dos capitais...
Protesto contra mentira,
A Podridão, a Indecência,
A Força Bruta, a Violência
Com frio, com chuva ou sol...
Contra a Polícia que espanca
E a fúria dos torcedores
E os coices dos jogadores
Nos campos de futebol...
Protesto contra o tamanho
Dos reduzidos salários
Que se pagam aos Operários
Em todo o nosso País...
Contra os “reis” do Latifúndio
Com sua Gula usurária –
Que impedem a Reforma Agrária
Que faça o Brasil feliz!
Protesto contra Sujeira
Da porcaria Obscena
Que “uns” atores levam à cena
Que teatro não é –
Pois, não passa de grossura,
Gozação, pornografia
E nos joga PORCARIA
Da cabeça até o pé...
Protesto contra as mamatas,
Corrupções, mordomias,
Orgias, demagogias
Que infelicitam a Nação...
Protesto contra os que matam
O sonho de um Mundo Novo...
E gozam... deixando o Povo
Sem Sonho, sem Paz, sem Pão!...
Protesto contra a PULíTICA
Que a galope privatiza
As estatais... e só visa
O Brasil todo entregar
Ao capital estrangeiro,
Ao FMI monstruoso –
Bicho papão dollaroso
Que a todos quer nos papar...
Protesto contra a chantagem –
Melo-drama collorido –
Desse governo vendido
Ao dollar americano...
Protesto contra a invasão
Da Amazônia brasileira
Por essa corja estrangeira
Que ao Brasil só causa dano...
Protesto contra esses vândalos
Que destroem bancos e placas...
Protesto! E Protesto pacas
Contra os “filhos de papai”
Que andam de carro, apostando
Carreiras, nas nossas ruas...
“cavalos de pau” – nas ruas
corridas... lá vem... lá vai...
Protesto contra quem não
Respeita o direito alheio –
Toma conta do passeio
Com cadeiras e o que for –
Forçando, assim, o pedestre
A abandonar a calçada,
Numa passagem arriscada,
Boa pra atropelador...
Protesto contra o lixeiro
Que joga a lata distante
Do lugar...Sou protestante
E eis que prego, alto e bom som
Na minha bíblia rimada,
Para moço e para velho,
Meu protestante evangelho
Que só ministra o que é bom! ...
Contra a falta de Saúde
E contra a falta de Escola;
Na rua – o jogo de bola
O tráfego a interromper...
Contra quem estaciona
Seu carro sobre o passeio...
Contra quem guia sem freio –
Protestante eu quero ser...
E contra as ações nefastas
Da contra, da anti-cultura,
Dessa má literatura
De bang-bang e “cow-boy”
Que trazem pra juventude
Vício, violência e sexo,
Formando todo um complexo
Que a nossa Moral corrói...
Se um tal de Sérgio Malandro
Sou contra as graças sem graça...
Discriminação de raça,
Caça predatória, e, enfim,
A Avidez e a Ignorância
Que arrasam o meio-ambiente
E deixam a vida da gente
A cada dia mais ruim...
Sou contra os brancos sem alma
Que aos Índios levam a doença
O desalento, a descrença,
Tomam-lhe a terra e o que têm
Envenenam a água dos rios
Com mercúrio, roubam o ouro,
Matam bichos, vendem o couro
Como acontecendo vem...
Quem o meu protesto se eleve
Além, por cima das casas –
Um pássaro abrindo as asas
Para voar e seguir...
Levando por toda a parte
A mensagem-manifesto
Do meu solene Protesto
Para todo o mundo ouvir!...
Se alguém julgar (é um direito)
Que este poema não presta –
O poeta que protesta
Vai protestar, ainda só
Que, pregando num deserto,
Ninguém ouça o meu protesto
E meu Ideal e meu gesto
Fiquem reduzido a pó...
A poesia também serve
Para ajudar o progresso,
Combatendo o retrocesso
pra que a Verdade se implante.
E eu, poeta do meu Povo,
Disto não peço segredo,
Contra todo o Mal, sem medo
Protesto! Sou protestante!...
Anápolis, 29-08-91
*Paulo Nunes Batista 77 anos - é poeta popular e erudito e escritor; autor de vários livros (em poesia e prosa) e inúmeros cordéis, folhas volantes e ABCs. Considerado o melhor Abecedista do Brasil. Paraibano, descendente de uma família paraibana, de grandes poetas e repentistas, radicado em Anápolis-Go há quarenta anos. Já morou em diversas capitais brasileiras, batalhando a vida. Antigo militante do PCB de 1946 a 1952, chegou a ser preso. Hoje, espírita. Formado em Direito. Pertence a Academia Goiana de Letras, em cuja posse, fez o discurso rimado. Tem publicações espalhadas pela imprensa do país e em Portugal, onde já representou o Brasil no cordel.
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