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Erotico-->15. OS FATOS SE PRECIPITAM -- 16/09/2002 - 07:21 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Marlene ponderou ao marido que preferia ter Isabel em sua casa e não na casa dos sogros. Se precisassem tanto assim de alguém, enviaria Joana, que estava em fim de carreira e não teria trabalheira tão grande com os velhos.

— Mas, querida...

— Pense bem. A moça iria embromar os teus pais, com certeza. Você não está querendo contar tudo a eles...

— Não.

— Então, eles estariam sob a malícia da... — ia falar “negrinha”. Hesitou. Mário percebeu o imbróglio moral:

— Diga “pretinha”, porque ela é preta, sim, senhora. E fez “negrice” conosco. Não achas que...

— Mário, não vamos desviar o assunto.

— Não negues que ela tem sido...

— Mas será por pouco tempo. Está interessada em outras coisas. Enquanto isso, faz o máximo que pode.

— Quer dizer que você quer ficar com ela?

— Quero dar uma chance à coitada. A gente dá esmola na igreja e não passa um pobre que não dês um remédio ou outro. Quantas consultas...

— Quem está desviando o assunto agora é você.

— Não saberia o que dizer ao padre no confessionário, se a mandasse embora.

— Dores de consciência? Pois saiba que nós não podemos falar livremente ao telefone. Tenho medo de que esteja “grampeado”.

— Será?

— Nunca é demais estar prevenido.

— Eu não tinha pensado nisso.

— Tiveste aquela conversa séria com Isabel? De mulher para mulher...

— Tive, sim. E foi muito boa. Ela não é muito inteligente mas é ladina. Sabe disfarçar muito bem. Se quiser passar um trote na gente, não vai ser difícil. A matreira contou como se desfez do cafetão que abocanhava o seu dinheiro. Disse que estava com AIDS. Se o cara engoliu essa, eu não sei. Mas que deve estar com medo, lá isso está.

— O filho dela está reagindo favoravelmente aos medicamentos. Mas até ficar bom vai demorar.

— Você conversou com ela a respeito?

— Disse que, se piorasse, eu avisava. Se a criança estiver nas últimas, é bom que ela tenha uma lembrança bem triste. Afinal de contas, não deveria...

— Eu não acredito. O bom médico, aquele que dá consultas grátis, falando em castigo, em sentimento de culpa...

— Foi você quem apontou o padre como...

— Eu sou católica, apostólica, romana. E você? Materialista, ateu e carioca...

Abraçaram-se, solidários no pensamento positivo.

Foi Marlene quem retomou a conversa:

— Mas estás certo. Se ela souber medir o erro que cometeu, poderá remendar a barbaridade, adotando alguma criança, caso perca o filho. Ou casando e tendo outros, que, para Deus, nada é impossível. Veja a xará bíblica, a Isabel que teve filho com idade avançada.

Mário não queria saber de coincidências forjadas, mesmo porque achava que Orival... Leandro iria sobreviver e dar muitas alegrias...

Queria dizer “aos pais”, mas não via perspectivas de união...

Um telefonema aflito da escola punha o casal angustiado:

— Venham depressa! Os vossos filhos foram levados por homens encapuzados.



As diligências policiais resultaram inúteis por quarenta e dois dias. Nesse meio tempo, Mário conversou de novo com Leandro. O bandido prometeu providenciar, para a soltura das crianças. Não sabia quem é que tinha tomado a iniciativa. Talvez tivesse havido erro, pois a quantia do resgate era muito superior às posses do médico. A imprensa, desde logo, tomou conhecimento da ocorrência e Isabel precisou desaparecer de circulação, para que não viesse a ser identificada ao lado do casal. Passou pela cabeça dos pais que ela bem poderia ter entrado em casa para facilitar o rapto. A história da maternidade de Orivaldo bem poderia ter sido uma farsa. Mas a hipótese foi afastada, quando Raimunda entrou em cena e reconheceu a foto que Isabel fez questão de enviar. Fora Leandro quem determinara que Raimunda ficasse ao lado do filho no hospital, assim que teve alta do setor de isolamento. Essa prerrogativa do traficante obrigou a Mário que fizesse plantões, ainda que arrasado pela falta dos filhos. Darci assumiu pessoalmente o tratamento do menino e convocou mais três pediatras para acompanhamento diuturno. Temia que Mário não receitasse de acordo. Ao cabo desse período, caiu o cativeiro em poder dos policiais e os meninos foram recuperados. Disseram que foi após árduas investigações. A verdade é que receberam denúncia anônima pelo próprio Leandro. Tratava-se de pessoal da favela e, por isso, não se desgraçaram nas mãos dos assassinos. Teriam obrigações extraordinárias em favor da organização clandestina, nada que já não tivessem feito anteriormente. As crianças estavam traumatizadas. Mário pediu e obteve licença para afastar-se do hospital e de Orivaldo. Tiraram férias e partiram para o Rio Grande do Norte, levando Joana e Isabel, cuja presença julgaram conveniente para o equilíbrio psíquico do filho do meio, que se agarrara a ela. Lá passariam quatro meses, em absoluta tranqüilidade material. O médico examinava e receitava. A mãe amparava e acarinhava. Isabel brincava e contava histórias. Joana cozinhava e limpava. Todos enxugavam lágrimas furtivas. Quando voltaram para o Rio, era como se formassem uma só família. Isabel integrara-se ao grupo e demonstrara que poderia acompanhar o desenvolvimento dos pequenos. O fato de se ter encontrado com alguns homens avulsos, ficou sob as vistas grossas do casal e sob as reprimendas surdas de Joana. Enfim, a juventude tem seus apelos e a mocinha sabia como evitar as doenças do corpo, uma vez que a da alma ainda se apresentava incurável. A correspondência do Doutor a mantinha sossegada quanto ao filho, que ia recuperando as forças, quase seis meses depois do internamento. No dia em que Mário voltou para o hospital, encontrou a equipe aterrorizada com a revelação de que se declarara a leucemia. Mário pediu nova entrevista para o relato da dor. Leandro não lhe disse nada além de um “faz o que tem de ser feito”.



No etéreo, Alfredo e Dráusio pretendiam levar Marlene a um centro espírita, para que os filhos recebessem benzedura e lavagem espiritual, para afastar as terríveis pústulas perispirituais resultantes do terror do confinamento. Queriam obrigá-la pela necessidade, mas não atinavam como o fariam. Poderiam, sem ferir os preceitos evangélicos, provocar desarmonia orgânica? Sucedia que não tinham alvará para isso. Bem pensando, nem conhecimento específico. Mas como se daria a regeneração dos filhos? José, consultado, disse-lhes para que mantivessem a calma e que rezassem muito. Providenciassem passes magnéticos e obrigassem os protetores familiares a estudarem mais, para aperfeiçoamento socorrista. Verberou contra os planos por demais ambiciosos e contra a sofreguidão que via nos benfeitores, pedindo-lhes para que confiassem na misericórdia divina. Foi Isabel quem deu com a solução do problema, quando conheceu um rapaz de sua idade, com quem saiu diversas vezes e a quem conseguiu tornar-se simpática. A simplicidade honesta do bom moço, empregado no comércio regular, fez que voltasse a sonhar. E Baltazar era umbandista...

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