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Artigos-->FREDERICO RICHTER: UM COMPOSITOR VOLTA À QUERÊNCIA -- 29/03/2007 - 12:50 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
FREDERICO RICHTER: UM COMPOSITOR VOLTA À QUERÊNCIA



L. C. Vinholes



Nota de 29 de março de 2007: este artigo resultou de visita feita a Universidade McGill, de Montreal, Canadá, atendendo ao convite do compositor argentino-canadense Alcides Lanza para assistir a apresentação de obras dos participantes do Estúdio de Música Eletrônica por ele dirigido. Foi publicado no jornal A Razão, de Santa Maria (RS) em 22/23 de agosto de 1981 e no Correio do Povo de Porto Alegre (RS) em 16 de setembro de 1981.



ARTIGO





Está de volta ao Rio Grande do Sul o professor Frederico Richter que, nestes últimos dois anos, viveu no Canadá e freqüentou o curso de pós-graduação em composição musical, mais especificamente em música eletrônica, da prestigiosa Universidade McGill de Montreal.



Richter é conhecido pelas suas atividades como intérprete, principalmente no duo que integrou com seu irmão Nicolau, também violinista; como compositor de obras corais e instrumentais, muitas delas editadas pela Imprensa da Universidade Federal de Santa Maria e pela Editora Novas Metas de São Paulo; e, ainda, como professor, tendo desempenhado importantes funções no corpo docente da referida universidade e do Conservatório de Música de Pelotas.



Foi durante o mês de julho do ano passado (1980) que o professor Aldo Obino, de Porto Alegre, me falou a respeito de Frederico Richter e da sua presença no Canadá como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação e Cultura.



Nada posso dizer de Frederico Richter o intérprete e o professor, mas hoje, mais do que há dois anos, creio conhecê-lo bastante bem como compositor. E uma das virtudes que mais admiro neste gaúcho de Novo Hamburgo é a sua insofismável disposição para aperfeiçoar seus conhecimentos e para aprender coisas novas.



Aqueles que conhecem o Richter afirmando ser um “continuador de Villa-Lobos” ou excursionando pelas avenidas da música serial dodecafônica ficarão sem dúvida surpresos com os resultados que ele obteve com a sua aplicação e o seu dedicado estudo dos princípios, das idéias e da filosofia e estética que regem a criação musical de caráter estrutural e a música eletrônica nova.



Toccata Montreal 80



Frederico Richter estudou, pesquisou e produziu orientado pelo compositor argentino-canadense Alcides Lanza, diretor do Estúdio de Música Eletrônica e professor de composição da Universidade McGill desde 1947. Natural de Rosário de Santa Fé, na Argentina, Lanza, três anos mais velho do que Richter, estudou com Julian Batista, Alberto Ginastera (composição), Ruwin Erlich (piano), Roberto Kinsky (regência de orquestra) e fez cursos de aperfeiçoamento com Olivier Messian, Ricardo Malipiero, Yvonne Loriod, Aaron Coplan, Bruno Maderna e Vladimir Ussachevsky. A carreira de Lanza tem sido dedicada à música contemporânea de vanguarda e uma das suas permanentes preocupações é a de apresentar primeiras audições de música nova. Foi assim que ele se tornou conhecido no Brasil antes de se radicar nos Estados Unidos da América do Norte, onde residiu de 1965 a 1971, compondo e lecionando nos Centros de Música Eletrônica das Universidades de Colúmbia e Princeton.



Nos dias 3 e 19 de março deste ano (1981), assisti duas importantes primeiras audições de novas obras de Frederico Richter, realizadas na Sala Pollack e no Salão de Recitais da Faculdade de Música da Universidade McGill: Toccata Montreal 80 e Sonhos e Fantasias.



Toccata Montreal 80, escrita no ano passado no contexto das atividades curriculares do curso de pós-graduação, é obra para oboé, clarineta, trombone baixo, violão e piano e foi executada pelo Conjunto de Música Contemporânea McGill, dirigido por Eugene Plawultsky, do corpo docente da mesma faculdade, comandando os intérpretes Marie-Line Ross, Zaven Zakarian, Colin Murray, Greg Prest e Geneviève Beaudet. Conheço as duas versões desta obra, a apresentada no concerto e a posteriormente modificada. Em ambas o compositor demonstra uma muito adiantada habilidade em lidar com elementos de caráter tipicamente estrutural e com ambientes onde os princípios aleatórios têm importante papel. O resultado é não-formal com possibilidade de execuções claramente distintas uma das outras, decorrentes da maior ou menor flexibilidade dos intérpretes e do regente que a ela se dediquem. A bula da obra, na qual são fornecidas as dicas indispensáveis para os intérpretes e analistas da partitura, é relativamente simples, mas a perfeita execução dos quartos de tom ascendentes e descendentes e dos três quartos e tom descendentes exigida dos instrumentos de sopro desafia não só a habilidade dos executantes mas também a acuidade dos ouvintes, leigos e doutos, de percebê-los com exatidão.



Criação Eletroacústica



Sonhos e Fantasias é obra eletroacústica de 1980, confeccionada por Richter no Estúdio de Música Eletrônica da Universidade McGill e que contou com a assistência técnica de Eric Johnstone, do mesmo estúdio. Todo o material utilizado na obra foi produzido por um Moog Systhesizer, trabalhado tecnicamente através de processamentos diversos, entre os quais mudança de velocidade, reverberação, cortes, mudança de freqüência, etc. É obra de muita beleza acústica que, graficamente falando, pode ser dita se tratar de um elaborado tecer de dois elementos básicos, linhas e pontos, habilmente urdidos. Esta composição de Richter faz-me lembrar a obra Movimento do pintor concretista Waldemar Cordeiro, hoje no acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Digna de menção é a limpeza da fita magnetofônica final e a clareza das sonoridades nela registradas, o que constitui prova suficiente da seriedade, dedicação e do afinco com que o compositor se entrega ao seu fazer musical. Nesta obra é, certamente, a primeira vez que Richter trabalha o silêncio como elemento de caráter estrutural, utilizável como material composicional da obra, de igual valor aos sons convencionais e aos ruídos, não apenas a tradicionalmente apontada ausência destes. Frederico Richter tem, algumas vezes, emprestado às suas obras um contexto de caráter literário, extramusical que, a meu ver, é plenamente dispensável numa obra desta categoria. Apreciei a primeira audição de Sonhos e Fantasias sem ter visto o programa no qual se lê, entre outros comentários da apresentação do trabalho em apreço, que “a obra começa com o repicar de sinos imaginários, convidando o corpo a repousar e a mente dormida a flutuar em um espaço desconhecido” e, continuando, “durante a segunda parte, os sinos imaginários estão mais distantes e no sono profundo nos encontramos em um mundo de cor, fantasia e sonhos maravilhosos, sem pesadelos”. Esta tendência programática, em certa época característica da música dita nacionalista típica de países com regimes de força ou de fases nas quais a força é o regime dos países, não é privilégio de Richter, mas ainda necessidade pessoal de muitos compositores brasileiros contemporâneos. Para verificar é só ler atentamente o que eles escrevem sobre suas obras.



Jogos Criativos





No acervo de fitas de música eletrônica da Biblioteca do Estúdio da MGill, estão arroladas três obras de Frederico Richter, todas elas feitas em Montreal: Elegia por um Herói Morimbundo, Sonhos e Fantasias e, a mais recente, Metamorfose. Está última, por mim batizada em rápida conversa telefônica com o compositor, é dedicada a Alcides Lanza e figura também no acervo de fitas do Estúdio de Música Eletrônica de Burges, na França. Richter considera Metamorfose sua melhor obra eletroacústica.



Na produção de Richter uma obra bastante importante sob o ponto de vista de concepção é a intitulada Jogos Criativos, para dois pianos sem tampa, do início de 1980, dedicada a Richard Metzer e Roberto Szidon, este outro gaúcho. A estrutura da mesma joga, e daí talvez o nome, com as possibilidades de permutar e combinar elementos pré-estabelecidos e, por vezes, passíveis de metamorfoses. Exatamente por guardar estas características, a execução desta obra exige dos intérpretes uma participação efetiva para sua plena realização, passando eles a ser co-atores e co-responsáveis de um resultado, de certa forma, programado e, potencialmente, previsto pelo autor. A linguagem do texto, com as instruções sobre a obra, embora clara para quem tiver oportunidade de dialogar com o compositor, merece ainda certos cuidados na atualização das expressões, a fim de se evitar desnecessários e contraproducentes mal-entendidos e distorções das suas reais intenções. No final desta obra, uma “coda” que nada tem a ver com as codas tradicionais, o compositor apela para o título Canto de Sabiá que, segundo explica, é justificado pela característica do material dos blocos montáveis, verdadeiros motivos, todos eles resultantes de registros que ele fez das vozes do mais apreciado passeriforme brasileiro.



Agora a volta



Frederico Richter dedicou também boa parte do seu tempo no Canadá não só à consulta à farta biblioteca do Departamento de Música da Universidade McGill, mas, ainda, às livrarias de Montreal, onde adquiriu inúmeros livro para serem lidos nos intervalos dos seus próximos afazeres. Entre estas obras destaco Perspectivas sobre Notação e Execução; Perspectiva sobre Teoria da Música Contemporânea, ambas de Benjamin Boretz e Edward T. Cone; Problemas da Música Moderna, reunião de artigos assinados por vários autores que participaram do Seminário de Princeton sobre estudos musicais de vanguarda, em 1959; A Música Nova (1900-1960), por Aaron Copland; e, finalmente, A Estrutura da Música Atonal, por Allen Fort, uma elaborada conceituação que visa a análise e o dimencionamento das obras nos seus aspectos elementares, suas componentes estruturais com suas relações e processos, até chegar à consideração de grandes e complexas estruturas.



O tônico do qual Richter beneficiou-se durante sua permanência no Canadá deverá agora não só produzir a seiva indispensável para ele mesmo mas igualmente para todos aqueles que com ele convivem e labutam na mesma seara. É indispensável que a volta do compositor à sua querência faculte a todos o compartilhar dos benefícios que ele teve individualmente durante sua ausência. O assunto relacionado à música nova, seja ela de caráter estrutural ou eletroacústico, é bastante novo para a quase totalidade dos centros musicais do Rio Grande do Sul, a contemporaneidade do mesmo e a sua importância como fenômeno atual é indiscutível e deixar de contemplá-lo, estudá-lo e conhece-lo resulta, única e exclusivamente, no alargar do vazio cultural que ameaça sempre os meios nos quais é pequena a receptividade e a disposição de convívio com as coisas e as idéias novas. Que haja sinceridade e boa acolhida por parte de cada um individualmente e das organizações e instituições públicas e provadas ligadas à cultura em geral e à música em particular, para que a experiência vivida por Frederico Richter em Montreal germine e frutifique.

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