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Erotico-->12. OS PLANOS INTERAGEM -- 13/09/2002 - 08:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Aquela segunda noite, sob lençóis limpos e perfumados, trouxeram inquietação à jovem prostituta. A condição humilde de empregada doméstica cerceava-lhe a liberdade. Mesmo o hábito dos palavrões se inibia e a conversa em tom de voz bem mais baixo parecia tornar sagrado o ambiente do lar. É verdade que Joana não lhe dera sossego, com o “faça-isso-e-mais-aquilo” a lembrar-lhe, a cada momento, quem é que mandava e quem é que obedecia.

Mas a segurança do dinheiro capitalizado no belo prédio mais a tranqüilidade de se ter tudo à mão faziam que divisasse futuro de realizações familiares, como a criação de filhos, estímulo imprescindível para que a pessoa se sentisse parte ativa da comunidade.

Nunca dedicara tanto tempo aos pensamentos idôneos. Era novidade absoluta dentro da cabeça doidivanas de quem sempre recorreu a expedientes para sobreviver. Mesmo com Leandro, nem o período de “lua-de-mel” lhe trouxera estabilidade emocional, que o amante era prepotente e não cansava de falar a respeito de tê-la retirado da “vida”.

Fugia de pensar nele. Fora por demais humilhada, pisada. Nem que fosse escrava, não teria sofrido tanto...



Dráusio oferecia vibrações positivas, desde que a moça, pela primeira vez, se punha tão dócil à influenciação.

Enquanto trabalhava, expunha a surpresa a Alfredo, mediante a capacidade de absorção das idéias pela protegida, principalmente porque incentivava que a linguagem não decaísse para a grosseria das expressões chulas, no que era em grande parte atendido.

— Vamos ver se a induzimos a revelar a profissão ao médico e esposa.

Alfredo punha dúvidas:

— Não será muito cedo?

— Pior se descobrirem por si mesmos. Se a iniciativa for dela, poderá contornar vários problemas.

— Acho que vai ser muito difícil.

— Eu também. Mas não custa tentar.

Os dois se concentraram, um para passar os pensamentos, outro para manter o ambiente magneticamente favorável ao fenômeno mediúnico da inspiração. Não havia interferência externa, como se tudo decorresse sob a influenciação de seres espirituais de superior categoria.

Isabel derivava para as recordações do tempo em que carregara o filho no colo e dele cuidara com carinho. Revia Leandro brincando com o nenê e a alegria do filho a cada reencontro. Mas as mulheres debochadas foram ocupando o tempo do mandrião. Queriam que participasse das carícias. Sabia bem o que era isso. Fizera antes e voltaria a fazer depois. Não aceitava, porém, que aquele que lhe prometera amor eterno a diminuísse e arrastasse pela sarjeta dos vícios.

Relampejou-lhe no cérebro a intuição de que poderia até continuar a se prostituir, tendo Leandro como proxeneta. O que não admitia era a devassidão moral da mãe, perante o filho.

Isabel não era de chorar. Chorara, é certo, quando abandonara o menino. Mas foram lágrimas que se secaram pelo ódio ao amante. Prometera a si mesma que recolheria a criança em um mês, se não fosse presa pelo assassinato do amásio. Deixara-se, entretanto, impressionar pela mais que certa acusação do filho. Foi deixando o projeto para depois, até que o meretrício lhe propôs a derrota mais sentida. Há cinco anos, a vergonha da revelação de quem era ao futuro adolescente conseguira afastá-la dele. Era a influência dos xingamentos que ouvia dos filhos contra as companheiras de prostíbulo.

Deixou-se embalar pela lembrança das noitadas em que fazia strip numa boate elegante. Mas as mais clarinhas, as loiras e as ruivas eram preferidas, de modo que o dinheiro era mais farto na rua.

Desejava dormir e se revirava na cama, buscando lembranças mais amenas, mais prazerosas.

“Como é que vou contar ao Leandrinho, quando tiver idade para compreender? Será que o pai poderá educá-lo melhor? Isso não vou saber, sem decifrar o mistério dessa vida. Como será que está do ferimento? Mário diz que está bem. Mas se não abrir o jogo com o casal, quando é que ficarei sabendo os detalhes do tratamento? Quando é que estará na hora de ir buscá-lo, para não dar ao pai o gosto? Tenho medo de quê? De perder esta mordomia? Me viro em qualquer lugar. Se me mandarem embora, fico na minha...”



Dráusio piscava para Alfredo, achando que havia conseguido.

— Eu vou ficar vigiando e você dá uma volta pela casa para saber se o casal está adormecido. Caso dê para conversar com eles, sem risco para Isabel, iremos os dois.

Alfredo, ao sair da edícula das empregadas, logo percebeu que o local estava sob vigilância dos obsessores dos traficantes. Aquela resistente muralha vibratória contrastava com a fragilidade da magnetização da tarde.

Voltou para o quarto.

— Impossível romper o bloqueio dos malfeitores. Se Mário ou Marlene estiverem disponíveis, deverão estar inacessíveis para nós.

— Então, vamos ter de bolar um plano para o momento em que Isabel expuser a verdade a eles. Não há de ser difícil, mas não podemos correr riscos inúteis. Se ela se vir perseguida, não tardará para afastar-se de nós, pela maior facilidade de conjunção vibratória com os obsessores.

— Vamos orar e abrir os corações, para recebermos o influxo de bondade dos maiores.



Mário voltara do hospital à meia-noite e deixara Orivaldo consciente. O menino não tinha manifestações de vontade, largado no leito. Declarara-se profunda anemia e necessitara de transfusão de sangue. Pela primeira vez, o médico avaliou o esforço dos traficantes. Em meio ao pessoal, perguntou a respeito das reservas de plasma. Em duas horas, mais de quinze doadores se apresentaram, todos com o tipo sangüíneo apropriado para o paciente.

Em casa, encontrou Marlene à sua espera. Tinha novidades:

— Isabel está se dando bem com as crianças. É enérgica e quer tudo de acordo. Só que faz perguntas tolas, como se desconhecesse quase tudo...

— Eu bem estava desconfiado... Doméstica? Jamais...

— Joana acha que se trata de uma qualquer. Diz que não tem educação nem respeito pelas coisas. Viu as roupas que trouxe. Muita coisa boa misturada com peças sujas. Tem cremes caríssimos. Tudo de primeira. O que está mais limpo dá impressão que saiu da loja.

— Como se pode saber uma coisa dessas?

— Quem lavou roupa a vida toda conhece na hora.

— Você acha que ela saiu para comprar as roupas? E o que fez com as antigas?

— Isso eu não sei. Nem Joana. Mas é preciso pôr muita coisa em pratos limpos. Ela que apresente os documentos, que até agora não revelou nenhum. Nem o nome da antiga patroa quis dizer.

— Não é conveniente mantê-la conosco, sem termos o mínimo conhecimento de quem se trata. Acho que fomos precipitados, dando-lhe o emprego. Logo cedo, você chama a moça, nós vamos ao consultório e lá conversaremos isolados. Não é bom que Joana ouça a conversa.



No etéreo, os espíritos convocados para o isolamento do Doutor compreenderam, de imediato, que a mocinha assistida pelos “filhotes de anjo” representava perigo. Não lhes foi difícil de imaginar que precisavam tomar providências. Afinal de contas, tinham “responsabilidades”.

— Quem você pensa que seja?

— Nem desconfio.

— Será que é alguém que deseja matar o Doutorzinho?

— Com aqueles dois lá, é bem possível.

— Vamos isolar a área. Amanhã a gente resolve tudo, ouvindo a tal conversa. Qualquer coisa, vamos dar uma lição nos intrometidos.

— Será que têm apoio ou estão agindo por espírito de “humanidade”?...

— Essa gente sempre está querendo ficar na maciota do “dolce far niente”. Ao primeiro sinal de luta, caem de joelhos, os covardões.

E lá ficaram a fantasiar situações em que dariam valentes surras nos “santinhos de pau oco”.



Logo cedo, Marlene chamou Isabel. Mário queria falar com ela sobre o registro da carteira de trabalho. Estava no consultório.

Joana, que não era boba nem nada, suspeitou de que as suas hipóteses iriam ser postas a limpo. Não se desagradara da companheira, que era limpa e não resmungara nenhuma vez. Mas desconfiava de que, se continuasse assim, iria assumir o controle da casa, através da criançada. E como era bonitinha a sonsa!

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