Abílio Guerra Junqueiro veio ao mundo em Freixo de Espada à Cinta a 17 de Setembro de 1850, filho de um negociante e lavrador abastado, José António Junqueiro, e de Ana Guerra, tendo ficado órfão de mãe aos 3 anos.
Iniciou os seus estudos preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de Teologia da Universidade de Coimbra. Sentindo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois transferiu-se para o curso de Direito, que concluiu em 1873.
Entrou a defender a sua vida profissional no funcionalismo público da época, tendo sido secretário-geral dos Governadores Civis dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo. Em 1878, foi eleito deputado pelo círculo de Macedo de Cavaleiros. Aos 73 anos, faleceu em Lisboa a 7 de Julho de 1923.
Político, deputado, jornalista, escritor e poeta, popularíssimo vate no seu tempo, foi o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Panfletário assaz activo, a sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que proporcionou a implantação da República.
Parasitas
No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Guerra Junqueiro
Ao reler em 2007 um dos meus mais dilectos poetas, tenho a ideia de que o tempo não passou e dá-me a sensação de que estou a ver televisão a cores...