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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ENTRE QUATRO PAREDES -- 23/11/2002 - 04:13 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem vi um filme belíssimo:
ENTRE QUATRO PAREDES
(In the Bedroom),
que a contracapa do DVD diz ser
"O melhor filme do ano!"

[The New York Times, The Wall Street Journal,
e Los Angeles Film Critics Association].

Em todo caso, a atriz Sissy Spacek, colecionadora de indicações ao Oscar de Melhor Atriz, e detentora de um deles, foi a vencedora
do Globo de Ouro.

Já o diretor, Todd Field, longa folha
de excelentes serviços como ator,
abocanhou o prêmio de melhor direção
e melhor roteiro
da National Board of Review.

Na flor da idade,
o jovem Nick Stahl
já é um veterano.
Um dos mais requisitados atores-mirins
de sua geração, basta recordá-lo,
contracenando com Mel Gibson,
no sensibilíssimo
O HOMEM SEM FACE.

A revista Rolling Stone exclama:
"Um suspense inigualável!
De parar o coração!"

Eis o que diz o texto da contracapa do DVD,
com algumas correções leves
que julguei imprescindíveis:

"É verão no porto de pesca da cidade de Camden, no Maine, onde vive Matt Fowler (Tom Wilkinson), um médico nascido no estado e casado com Ruth Fowler (Sissy Spacek), uma professora de canto. Frank (Nick Stahl), o único filho do casal, que passa as férias de verão em casa, trabalhando para juntar dinheiro para a faculdade, se envolve com Natalie Stout (Marisa Tomei), uma mulher mais velha e com dois filhos, o que deixa seus pais bastante contrariados e apreensivos. As coisas pioram para Frank e Natalie, quando ela recebe a indesejada visita do ex-marido e acontece um terrível incidente. À medida em que o verão vai chegando ao fim, todos se vêem em meio a uma tragédia que jamais poderiam prever."

Bom rever Tom Willkinson (Matt Fowler),
o grandalhão de meia-idade que vimos
peladão peladão
em TUDO OU NADA.

Marisa Tomei,
mais conhecida como comediante,
soberba num papel
de extrema dramaticidade,
como Natalie Strout,
separada, mãe de dois filhos,
vivendo um amor de verão
com um garoto
que se prepara para a faculdade.
E isso, sob a ciumenta vigilância
do ex-marido,
de quem ainda está divorciada
[as leis do Maine!],
e que faz de tudo para reatar laços
e reaver a família.

Um filme feito de muitos silêncios.
No sermão do enterro de Frank,
o padre lê um trecho do Livro Sagrado:
"Só quando beberes do rio do silêncio,
aprenderás a cantar".

A mãe, professora de canto,
também é regente de um coral.
Afora uma ou outra vinheta incidental,
as vozes desse coro feminino
são as únicas ocorrências musicais,
aliás, musicalíssimas,
ao longo de toda a película.
E, é claro, apenas durante os ensaios
ou numa apresentação tocante
por ocasião
do Labor s Day.

O Maine
é tido, por seus moradores,
como um estado de leis peculiares
e esquisitas,
o que vai ser decisivo
tanto para o desenrolar,
como para o desenlace
da trama.

No mais, as mulheres falam dos filhos,
preocupam-se com eles,
cuidam dos afazeres domésticos,
zelam por seus maridos.

Os homens, entre si,
jogam cartas em fins de noite
e nas horas vagas.
No jogo, paira uma ameaça,
de que um deles,
de repente,
sempre que alguém se demora
para dar o lance,
se saia com versos de William Blake.

Depois da morte de Frank,
os companheiros de jogo passam
a oferecer ao pai do falecido
um tratamento cuidadoso
("pisando em ovos", como diz a legenda).
Num dado momento, o Dr. Fowler implora
("for christsake") que não o façam,
sentindo a necessidade
de voltar a ser admoestado como antes
por sua indecisão e demora,
o que o ajudaria a superar o trauma
e a se sentir mais humano.

Um filme feito
de muitos silêncios.
E da estridência
de tantos olhares
cruzados.

Ante aquela súplica,
o declamador de Blake,
depois de uma pausa
profundamente significativa,
e depois de consultados
os olhares de todos os outros circunstantes,
põe-se a dizer um poema
para o enlutado companheiro
de jogo:

"There are things of which I may not speak.
There are dreams that cannot die.
There are thoughts that make strong heart weak
And bring a pallor into the cheek
and a mist before the eye.
And the words of that fatal song
come over me like a chill:
A boy s will is the wind s will
and the thoughts of the youth
are long, long thoughts. "

Traduzo, mais ou menos como o faz a legenda,
sem pretender mais do que ser um caminho,
com o mínimo de tropeços,
até o original:

"Há coisas das quais não devo falar.
Há sonhos que não podem morrer.
Há pensamentos que fazem fraco o coração forte
e trazem palidez ao rosto
e colocam névoa diante dos olhos.
E as palavras desta canção fatal
caem sobre mim feito um calafrio:
O desejo de um menino é o desejo do vento
e os pensamentos da juventude
são longos, longos pensamentos. "

Suponho serem de William Blake
esses versos perfeitos para aquele momento
entre adultos, quase velhos,
de luto pela perda de Frank,
cuja vontade ainda era a vontade do vento,
porque ainda menino,
e cujos pensamentos
só podiam ser longos,
longos pensamentos,
já que agora ficaria condenado
a ser eternamente jovem,
sem nunca atingir
a idade adulta.

O tema da passagem do tempo
é um dos leit-motivs
dessa narrativa
eloqüentemente silenciosa.

Um filme extraordinário,
em que cada tomada
é o gesto autoral
de um artista brilhante:
Todd Field.

O espectador fica possuído
por um ritmo que é ditado
por tantas acertadas escolhas,
pelo vagar
e pelo silêncio
de uma construção narrativa
realmente
de tirar o fôlego.

Quis rever algumas cenas do início,
pois, da primeira vez,
ainda não tinha muito bem
a dimensão do que viria,
e depois de saber o que os extras do DVD
nos oferecem,
para ver melhor como ficou,
adulto,
aquele menino sensível
de O HOMEM SEM FACE,
e querendo saber mais
sobre os sentimentos
que cada um dos excelentes
desempenhos de atores
foram montando com cuidados
de ouríves
experimentados.

E, novamente,
fiquei estatelado,
sem poder me mover
da poltrona.

Foi difícil, quase impossível,
acionar o pause , quando queria
voltar para anotar os versos de William Blake, porque queria enviá-los a um amigo que,
imagino, também vai ficar estatelado,
como eu ainda continuo,
depois de ver e rever
ENTRE QUATRO PAREDES.

É ótima a sensação
de estar vendo um filme do ano,
ainda quente, como saiu das mãos
do diretor Todd Field
e sua grande equipe de colaboradores.

É ótimo participar
de um brilhante momento
do cinema.

[E são tantos os bons momentos cinematográficos
nos últimos tempos! Sim, o cinema é uma arte em franco desenvolvimento. Pena que os melhores filmes não cheguem às salas de cinema, que, com inteira justiça, permanecem vazias ou viram igrejas.]

E isso num país dominado
pela indústria americana do cinema,
em que quase a totalidade
das salas não faz senão exibir
o que essa indústria produz de mais trash.

Por tudo isso,
e por tudo o que ainda não me sai em palavras, recomendo vivamente
este filme baseado em "In The Bedroom",
uma estória de André Dubus,
escrita em 1999.

Não ganhou nenhum Oscar,
mas recebeu honrosas cinco indicações:
Melhor Filme,
Melhor Ator (Tom Wilkinson),
Melhor Atriz (Sissy Spacek),
Melhor Atriz Coadjuvante (Marisa Tomei),
Melhor Roteiro Adaptado
(Rob Festinger e Todd Field).

Suspendo o juízo, para concordar,
em parte, porque clichê,
com o clichê estampado na capa
(clichê, aliás, presente
em 9 entre 10 capas de vídeo ou DVD):
"O melhor filme do ano!"

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